São Paulo, Domingo, 28 de Novembro de 1999


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Manicure "vira" proprietária no MA

da Agência Folha, em São Luís

A manicure Miracy Leite Chaves, 28, recebeu "como uma facada", há quase três meses, a informação de que figurava em registros na Junta Comercial do Maranhão como proprietária de uma empresa cujo endereço era o mesmo de sua casa. Ela nunca ouvira falar de tal empresa.
A Receita Federal e o TCU (Tribunal de Contas da União) investigam o caso de Miracy, um dos exemplos de "laranjas" em nome de quem empresas são abertas para emissão de notas frias.
O caso difere, segundo as apurações iniciais, do ""laranja" clássico -aquela pessoa que recebe algum tipo de vantagem ao emprestar seu nome para dar fachada legal a atividades ilícitas de terceiros.
Recebendo salário mínimo, Miracy, ajuda a sustentar sua mãe e mais cinco pessoas da família, com quem mora em uma casa de fundos construída num terreno doado por um parente no bairro Conjunto Ipem-Turu, na periferia de São Luís.
Sete notas fiscais da empresa Lince Comércio e Representações Ltda. (estabelecimento aberto em seu nome) foram usadas pela Prefeitura de Caxias (360 km a sudeste de São Luís) para justificar o uso de verbas da saúde.
Uma nota, cuja cópia foi obtida pela reportagem, foi usada para prestar contas de R$ 584,4 mil em compra de medicamentos e produtos hospitalares no ano de 1996. O valor corresponde ao que Miracy levaria 358 anos para ganhar de salário. Ela repetiu à Agência Folha o que explicou aos auditores da Receita Federal.
"Há uns cinco anos, assinei um documento, que eu não sabia o que era, no cartório de Celso Coutinho, em São Luís, a pedido de Nilson Marinho. Ele disse que precisava de ajuda para abrir uma empresa, e eu fui dar minha assinatura porque ele me prometeu um emprego", disse a manicure à reportagem.
Nilson Fonseca Marinho, hoje advogado em São Luís, é irmão do ex-prefeito de Caxias e deputado federal Paulo Marinho (PFL-MA). "Eu não tenho nada a declarar sobre isso", disse o advogado ao ser procurado pela reportagem para comentar as afirmações da manicure.
O deputado Paulo Marinho afirma que as notas foram "forjadas" por adversários políticos no Estado. A Receita Federal e o TCU investigam notas usadas pela Prefeitura de Caxias emitidas por outra empresa aberta supostamente por "laranjas" em São Luís.
A Sertécnica Serviço Técnico Hospitalar emitiu uma nota de R$ 559,7 mil em março de 96, também com uma relação de medicamentos. (IM)


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