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Manicure "vira" proprietária no MA
da Agência Folha, em São Luís
A manicure Miracy Leite Chaves, 28, recebeu "como uma facada", há quase três meses, a informação de que figurava em registros na Junta Comercial do Maranhão como proprietária de uma
empresa cujo endereço era o mesmo de sua casa. Ela nunca ouvira
falar de tal empresa.
A Receita Federal e o TCU (Tribunal de Contas da União) investigam o caso de Miracy, um dos
exemplos de "laranjas" em nome
de quem empresas são abertas
para emissão de notas frias.
O caso difere, segundo as apurações iniciais, do ""laranja" clássico
-aquela pessoa que recebe algum tipo de vantagem ao emprestar seu nome para dar fachada legal a atividades ilícitas de terceiros.
Recebendo salário mínimo, Miracy, ajuda a sustentar sua mãe e
mais cinco pessoas da família,
com quem mora em uma casa de
fundos construída num terreno
doado por um parente no bairro
Conjunto Ipem-Turu, na periferia de São Luís.
Sete notas fiscais da empresa
Lince Comércio e Representações
Ltda. (estabelecimento aberto em
seu nome) foram usadas pela Prefeitura de Caxias (360 km a sudeste de São Luís) para justificar o
uso de verbas da saúde.
Uma nota, cuja cópia foi obtida
pela reportagem, foi usada para
prestar contas de R$ 584,4 mil em
compra de medicamentos e produtos hospitalares no ano de
1996. O valor corresponde ao que
Miracy levaria 358 anos para ganhar de salário. Ela repetiu à
Agência Folha o que explicou aos
auditores da Receita Federal.
"Há uns cinco anos, assinei um
documento, que eu não sabia o
que era, no cartório de Celso Coutinho, em São Luís, a pedido de
Nilson Marinho. Ele disse que
precisava de ajuda para abrir uma
empresa, e eu fui dar minha assinatura porque ele me prometeu
um emprego", disse a manicure à
reportagem.
Nilson Fonseca Marinho, hoje
advogado em São Luís, é irmão do
ex-prefeito de Caxias e deputado
federal Paulo Marinho (PFL-MA). "Eu não tenho nada a declarar sobre isso", disse o advogado
ao ser procurado pela reportagem
para comentar as afirmações da
manicure.
O deputado Paulo Marinho
afirma que as notas foram "forjadas" por adversários políticos no
Estado. A Receita Federal e o TCU
investigam notas usadas pela Prefeitura de Caxias emitidas por outra empresa aberta supostamente
por "laranjas" em São Luís.
A Sertécnica Serviço Técnico
Hospitalar emitiu uma nota de R$
559,7 mil em março de 96, também com uma relação de medicamentos.
(IM)
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