|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
OPERAÇÃO ANACONDA
PF investiga bilhete de César Rodriguez a Desidério de Oliveira, hoje advogado, pedindo devolução de fuzil
Agente teria cedido arma a ex-procurador
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Os termos de um contrato para
cessão de um fuzil AR-15, que seria para "defesa pessoal", registra
o nome de um ex-delegado da Polícia Federal e procurador da República aposentado no emaranhado de documentos apreendidos pela Operação Anaconda no
escritório do advogado Affonso
Passarelli, em São Paulo.
Trata-se de João Antônio Desidério de Oliveira, 58. Delegado da
PF até 1983, ele se aposentou no
Ministério Público Federal em 22
de dezembro de 1997.
O documento estava dentro de
uma pasta que trazia na capa a
inscrição "César Herman - Coleção de Armas". César Herman
Rodriguez, agente da PF, foi preso
na Operação Anaconda sob acusação de formação de quadrilha,
uso de documentos falsos e internação irregular no país de mercadorias estrangeiras.
Com os termos do contrato, havia uma correspondência, dirigida a Desidério (que hoje vive em
Fortaleza) e assinada por Rodriguez, com o seguinte conteúdo:
"Trazer de volta, para devolução,
o rifle Colt AR-15, que foi emprestado para defesa pessoal".
Ainda na pasta há uma ordem
de serviço, em nome do agente federal, em papel timbrado da empresa Interarmas, referente ao
conserto de um "rifle Colt, calibre
22.3". Há ainda a observação:
"deixado para conserto pelo dr.
Desidério, João Antonio".
A empresa fica no centro de São
Paulo e tem outra razão social,
conforme relatório da PF.
Advogando na área criminal
desde que se aposentou, Desidério disse que conheceu Rodriguez
em São Paulo, entre 1998 e 1999,
quando defendia o delegado Carlos Leonel da Silva Cruz. Seu
cliente era acusado de ser mandante da morte do também delegado Alcioni Serafim de Santana.
Na época, segundo Desidério, a
pedido de Cruz, o agente enviou
"algumas" passagens a Fortaleza
para que ele fosse a São Paulo.
Hoje investigado pela PF, Desidério responde a pelo menos dois
processos. Em um, é acusado de
prevaricar (deixar de cumprir dever legal). O AR-15 foi apreendido
na casa de Rodriguez. Em 1988, o
agente foi alvo de processo administrativo interno da PF, no qual
era acusado de ingressar no país
ilegalmente com um AR-15.
A Comissão de Processo Disciplinar, que também investigou diversas viagens do policial ao exterior sem comunicação à PF, pediu
a sua demissão por ter se negou a
apresentar o passaporte à PF.
"Entendemos que houve realmente fortes indícios de que o
agente pudesse ter [envolvimento] no tráfico de armas pesadas.
Entretanto, essa premissa carece
de outro apuratório, conforme
sugeriu [a comissão]", escreveu o
assistente jurídico do Ministério
da Justiça na época, Rodoval de
Souza Guedes, sugerindo seguir a
apuração iniciada pela comissão.
A PF demitiu Rodriguez, mas
não seguiu orientação para aprofundar a investigação, conforme a
Folha revelou em 13 de novembro. O caso tornou-se processo
criminal, que acabou arquivado
em 1995, com Rodriguez absolvido. Em 1996, por determinação
judicial, o agente foi reintegrado à
PF.
(ANDRÉA MICHAEL)
Texto Anterior: Outro lado: Defensor evita atender pedidos de entrevista Próximo Texto: Outro lado: Desidério nega ter contrato com policial federal Índice
|