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São Paulo, sexta-feira, 28 de novembro de 2003

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OPERAÇÃO ANACONDA

PF investiga bilhete de César Rodriguez a Desidério de Oliveira, hoje advogado, pedindo devolução de fuzil

Agente teria cedido arma a ex-procurador

DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Os termos de um contrato para cessão de um fuzil AR-15, que seria para "defesa pessoal", registra o nome de um ex-delegado da Polícia Federal e procurador da República aposentado no emaranhado de documentos apreendidos pela Operação Anaconda no escritório do advogado Affonso Passarelli, em São Paulo.
Trata-se de João Antônio Desidério de Oliveira, 58. Delegado da PF até 1983, ele se aposentou no Ministério Público Federal em 22 de dezembro de 1997.
O documento estava dentro de uma pasta que trazia na capa a inscrição "César Herman - Coleção de Armas". César Herman Rodriguez, agente da PF, foi preso na Operação Anaconda sob acusação de formação de quadrilha, uso de documentos falsos e internação irregular no país de mercadorias estrangeiras.
Com os termos do contrato, havia uma correspondência, dirigida a Desidério (que hoje vive em Fortaleza) e assinada por Rodriguez, com o seguinte conteúdo: "Trazer de volta, para devolução, o rifle Colt AR-15, que foi emprestado para defesa pessoal".
Ainda na pasta há uma ordem de serviço, em nome do agente federal, em papel timbrado da empresa Interarmas, referente ao conserto de um "rifle Colt, calibre 22.3". Há ainda a observação: "deixado para conserto pelo dr. Desidério, João Antonio".
A empresa fica no centro de São Paulo e tem outra razão social, conforme relatório da PF.
Advogando na área criminal desde que se aposentou, Desidério disse que conheceu Rodriguez em São Paulo, entre 1998 e 1999, quando defendia o delegado Carlos Leonel da Silva Cruz. Seu cliente era acusado de ser mandante da morte do também delegado Alcioni Serafim de Santana.
Na época, segundo Desidério, a pedido de Cruz, o agente enviou "algumas" passagens a Fortaleza para que ele fosse a São Paulo.
Hoje investigado pela PF, Desidério responde a pelo menos dois processos. Em um, é acusado de prevaricar (deixar de cumprir dever legal). O AR-15 foi apreendido na casa de Rodriguez. Em 1988, o agente foi alvo de processo administrativo interno da PF, no qual era acusado de ingressar no país ilegalmente com um AR-15.
A Comissão de Processo Disciplinar, que também investigou diversas viagens do policial ao exterior sem comunicação à PF, pediu a sua demissão por ter se negou a apresentar o passaporte à PF.
"Entendemos que houve realmente fortes indícios de que o agente pudesse ter [envolvimento] no tráfico de armas pesadas. Entretanto, essa premissa carece de outro apuratório, conforme sugeriu [a comissão]", escreveu o assistente jurídico do Ministério da Justiça na época, Rodoval de Souza Guedes, sugerindo seguir a apuração iniciada pela comissão.
A PF demitiu Rodriguez, mas não seguiu orientação para aprofundar a investigação, conforme a Folha revelou em 13 de novembro. O caso tornou-se processo criminal, que acabou arquivado em 1995, com Rodriguez absolvido. Em 1996, por determinação judicial, o agente foi reintegrado à PF. (ANDRÉA MICHAEL)


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