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INVESTIGAÇÕES
Após varredura, escuta ilegal foi detectada em telefone utilizado no prédio da Polícia Federal em São Paulo
Delegado do dossiê tem linha grampeada
RUI NOGUEIRA
Secretário de Redação da Sucursal de Brasília
A Polícia Federal está sendo
alvo de espionagem. Pessoas
ainda não identificadas grampearam um telefone utilizado
pelo delegado Paulo de Tarso Teixeira, que apura o caso da suposta
conta bancária em paraíso fiscal
do Caribe que pertenceria ao presidente Fernando Henrique Cardoso, ao ministro José Serra (Saúde), ao governador reeleito de São
Paulo, Mário Covas, e ao ministro
Sérgio Motta (Comunicações),
morto em abril último.
O delegado tem a tarefa de investigar se realmente existe a suposta
conta bancária mencionada em
papéis de autenticidade não comprovada que circulam nos meios
políticos desde a eleição.
A escuta ilegal foi detectada, por
acaso, na linha utilizada pelo delegado Paulo de Tarso Teixeira no
prédio da Polícia Federal na av.
Prestes Maia nº 700, no centro de
São Paulo.
O que surpreendeu a direção da
PF foi que o prédio onde a escuta
foi encontrada era tido como um
local discreto para o trabalho de
investigação.
A própria direção da PF havia
determinado que o delegado ouvisse os depoimentos mais delicados nesse prédio para não chamar
a atenção da imprensa ou de possíveis espiões.
Assim, definiu-se que o delegado
utilizaria uma discreta sala do prédio -onde funciona a sede da Interpol e o setor de concessão de
passaportes- em vez da sede da
superintendência, na rua Antônio
de Godoy (Santa Efigênia).
²
Ministro
A existência da escuta, já desativada, foi confirmada pelo ministro
da Justiça, Renan Calheiros.
"Esse episódio mostra que é essencial, agora, mais que nunca, esclarecer o caso da escuta ilegal no
BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social)", disse o ministro à Folha.
Calheiros referia-se ao outro caso envolvendo o governo federal,
no qual telefones do BNDES foram
grampeados também por pessoas
até agora não identificadas.
O teor de algumas gravações vazaram para a imprensa, o que causou a demissão de quatro dos principais colaboradores de FHC
-Luiz Carlos (ex-ministro das
Comunicações) e José Roberto
Mendonça de Barros (ex-secretário-executivo da Câmara de Comércio Exterior), André Lara Resende (ex-presidente do BNDES) e
Pio Borges (ex-vice-presidente do
BNDES).
²
"Facilidade e impunidade"
O grampo no edifício da PF na
av. Prestes Maia foi encontrado
quando o setor de inteligência do
órgão resolveu fazer uma varredura de rotina no prédio.
Feito o trabalho, identificou-se a
escuta ilegal na linha usada pelo
delegado responsável pelo dossiê
Caribe, Paulo de Tarso.
Ainda não foram identificados
os responsáveis pelo grampo, mas
suspeita-se que a escuta ilegal possa ter sido colocada por agentes da
própria PF interessados no rumo
das investigações.
A dificuldade maior de se chegar
ao autor do grampo é que o prédio
onde a escuta foi instalada é local
de alto movimento, porque concentra a concessão de passaportes
em São Paulo.
O ministro afirmou que, antes
mesmo de ser avisado do grampo
no telefone da PF, já havia "determinado uma operação de limpeza
nos telefones públicos de todas as
repartições federais".
"Temos de chegar aos responsáveis (pelo grampo no BNDES) para
acabar com esse clima de facilidade e impunidade nas escutas ilegais", disse.
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