São Paulo, sábado, 28 de novembro de 1998

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INVESTIGAÇÕES
Após varredura, escuta ilegal foi detectada em telefone utilizado no prédio da Polícia Federal em São Paulo
Delegado do dossiê tem linha grampeada

RUI NOGUEIRA
Secretário de Redação da Sucursal de Brasília


A Polícia Federal está sendo alvo de espionagem. Pessoas ainda não identificadas grampearam um telefone utilizado pelo delegado Paulo de Tarso Teixeira, que apura o caso da suposta conta bancária em paraíso fiscal do Caribe que pertenceria ao presidente Fernando Henrique Cardoso, ao ministro José Serra (Saúde), ao governador reeleito de São Paulo, Mário Covas, e ao ministro Sérgio Motta (Comunicações), morto em abril último.
O delegado tem a tarefa de investigar se realmente existe a suposta conta bancária mencionada em papéis de autenticidade não comprovada que circulam nos meios políticos desde a eleição.
A escuta ilegal foi detectada, por acaso, na linha utilizada pelo delegado Paulo de Tarso Teixeira no prédio da Polícia Federal na av. Prestes Maia nº 700, no centro de São Paulo.
O que surpreendeu a direção da PF foi que o prédio onde a escuta foi encontrada era tido como um local discreto para o trabalho de investigação.
A própria direção da PF havia determinado que o delegado ouvisse os depoimentos mais delicados nesse prédio para não chamar a atenção da imprensa ou de possíveis espiões.
Assim, definiu-se que o delegado utilizaria uma discreta sala do prédio -onde funciona a sede da Interpol e o setor de concessão de passaportes- em vez da sede da superintendência, na rua Antônio de Godoy (Santa Efigênia).
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Ministro
A existência da escuta, já desativada, foi confirmada pelo ministro da Justiça, Renan Calheiros.
"Esse episódio mostra que é essencial, agora, mais que nunca, esclarecer o caso da escuta ilegal no BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social)", disse o ministro à Folha.
Calheiros referia-se ao outro caso envolvendo o governo federal, no qual telefones do BNDES foram grampeados também por pessoas até agora não identificadas.
O teor de algumas gravações vazaram para a imprensa, o que causou a demissão de quatro dos principais colaboradores de FHC -Luiz Carlos (ex-ministro das Comunicações) e José Roberto Mendonça de Barros (ex-secretário-executivo da Câmara de Comércio Exterior), André Lara Resende (ex-presidente do BNDES) e Pio Borges (ex-vice-presidente do BNDES).
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"Facilidade e impunidade"
O grampo no edifício da PF na av. Prestes Maia foi encontrado quando o setor de inteligência do órgão resolveu fazer uma varredura de rotina no prédio.
Feito o trabalho, identificou-se a escuta ilegal na linha usada pelo delegado responsável pelo dossiê Caribe, Paulo de Tarso.
Ainda não foram identificados os responsáveis pelo grampo, mas suspeita-se que a escuta ilegal possa ter sido colocada por agentes da própria PF interessados no rumo das investigações.
A dificuldade maior de se chegar ao autor do grampo é que o prédio onde a escuta foi instalada é local de alto movimento, porque concentra a concessão de passaportes em São Paulo.
O ministro afirmou que, antes mesmo de ser avisado do grampo no telefone da PF, já havia "determinado uma operação de limpeza nos telefones públicos de todas as repartições federais".
"Temos de chegar aos responsáveis (pelo grampo no BNDES) para acabar com esse clima de facilidade e impunidade nas escutas ilegais", disse.



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