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Punir especulador é difícil
GUSTAVO PATÚ
da Sucursal de Brasília
Muitos políticos têm pedido,
nos últimos dias, punições aos
especuladores em razão da crise econômica do país. Trata-se,
como se diz, de culpar o termômetro pela febre.
Especuladores são bodes expiatórios muito convenientes.
Ninguém sabe exatamente
quem são e o que fazem, mas a
palavra transmite uma idéia
negativa.
Os problemas imediatos do
país decorrem da perda de credibilidade da política econômica e, por extensão, da moeda
brasileira. Como há uma desconfiança generalizada quanto
ao real, muitos compram dólares, fazendo a cotação da moeda norte-americana disparar.
Desde 94, a inflação foi controlada mantendo-se o dólar
-e os produtos importados-
baratos. Para manter o câmbio,
o país precisou tomar dólares
emprestados no exterior.
Como o governo brasileiro
tem um déficit crônico e um
histórico de calotes nas dívidas
interna e externa, emprestar
dinheiro ao país é considerado
um negócio arriscado no resto
do mundo.
A rigor, para os padrões internacionais, emprestar ao
Brasil é uma atividade especulativa -daquelas que só valem
a pena se houver chances de ganhos muito altos. Isso ajuda a
explicar por que os juros nacionais são tão elevados.
Sem o capital especulativo
externo, portanto, não teria sido possível lançar o Plano Real.
Não haveria dólares suficientes
para manter o dólar tão barato
durante tanto tempo, como
não teria havido o aumento de
poder aquisitivo que permitiu a
brasileiros consumir mais produtos importados e viajar mais
ao exterior.
Acontece que, depois de tantos anos de juros nas nuvens, os
próprios especuladores passaram a duvidar da capacidade
do Brasil e do governo brasileiro de honrar suas dívidas.
Quando se chega a esse ponto, a providência natural é retirar o dinheiro aplicado no país,
comprando os dólares de volta.
A fenômenos como esse se dá o
nome de ataque especulativo.
Numa analogia, as coisas se
passam como quando se constata que um banco tem problemas financeiros. Como medo
de perder seus depósitos, os
clientes correm para sacar o dinheiro. No caso do país, há o
agravante de brasileiros também poderem converter reais
em dólares.
É claro que pode haver muita
histeria e exagero nesses momentos, assim como a propagação de notícias falsas que tornam o pânico maior e dão lucros a quem comprou dólares.
No entanto, como comprar
dólares e ter lucros são atividades legais e é quase impossível
identificar autores de boatos,
são muito remotas as possibilidades de ações punitivas contra especuladores.
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