São Paulo, sexta, 29 de janeiro de 1999

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Ministro é o 5º a completar mandato

ANTONIO CARLOS SEIDL
da Reportagem Local

Com o término do primeiro mandato de quatro anos do presidente Fernando Henrique Cardoso, o ministro Pedro Malan passou a ser o quinto ministro da Fazenda a ocupar o cargo durante todo um mandato presidencial em 109 anos -desde a proclamação da República.
Desde o início da crise, FHC por diversas vezes foi obrigado a reafirmar a permanência de Malan no Ministério da Fazenda porque o chamado mercado tratava sua demissão como iminente.
Se resistir na pasta por mais três anos e um dia -uma eternidade depois da crise que abalou o Plano Real- Malan ultrapassará o recorde de longevidade de sete anos seguidos no cargo de um ministro da Fazenda, em posse do atual deputado Antonio Delfim Netto (PPB-SP), passando, então, a ser o "czar" da economia da República brasileira.
Delfim Netto foi ministro da Fazenda de 15 de março de 1967 a 15 de março de 1974, durante os governos militares do general Arthur da Costa e Silva (15 de março de 1967 a 31 de agosto de 1969) e do general Emílio Garrastazu Médici (30 de outubro de 1969 a 15 de março de 1974).
Entre esses dois governos, houve um hiato de dois meses, período em que o país foi dirigido pela Junta Militar. Em 31 de agosto de 1969, Costa e Silva, vítima de uma trombose, teve de deixar o governo, vindo a morrer três meses depois.
Mário Henrique Simonsen, morto em 11 de fevereiro de 1997, foi quem chegou mais perto do recorde de Delfim Netto. Simonsen comandou a Fazenda durante os cinco anos do mandato do governo Ernesto Geisel (15 de março de 1974 a 15 de março de 1979).
Antes de Malan, Simonsen e Delfim, apenas dois ministros da Fazenda ficaram do início ao fim dos mandatos de seus presidentes: José Leopoldo de Bulhões Jardim, nos quatro anos do governo Rodrigues Alves (15 de novembro de 1902 a 15 de novembro de 1906) e Homero Batista, nos três anos e quase quatro meses do governo Epitácio Pessoa (28 de julho de 1919 a 15 de novembro de 1922).
Dois outros ministros ficaram na Fazenda durante a vigência do mandato presidencial, mas podem ser considerados casos à parte porque, efetivamente, tratava-se do mesmo governo.
David Morethson Campista foi o ministro da Fazenda do governo Affonso Penna (15 de novembro de 1906 a 14 de junho de 1909). Com a morte de Affonso Penna em 1909, antes do término de seu mandato, assumiu o vice-presidente Nilo Peçanha.
José Leopoldo de Bulhões Jardim assumiu, então, a Fazenda, em que permaneceu durante 17 meses até a conclusão do mandato original de Affonso Penna.
De acordo com o estudo "Séries Históricas - Inflação", da Andima (Associação Nacional das Instituições do Mercado Aberto), desde a proclamação da República até hoje, o país teve 88 ministros da Fazenda (incluindo os interinos). Rui Barbosa foi o primeiro, em 1889. Esse total dá uma média de um ministro a cada 14 meses.
² "Reinados"
Segundo a Andima, uma característica comum entre os cinco ministros da Fazenda que ficaram no cargo durante todo o mandato é que eles "reinaram" em tempos de inflação baixa ou declinante.
À guisa de um exercício de comparação da inflação sob os ministros da Fazenda, a Andima padronizou as taxas de cada período, usando o índice IGP-DI da Fundação Getúlio Vargas, do Rio de Janeiro. De acordo com o estudo, a inflação é, certamente, "um dos mais tristes capítulos da história do Brasil".
Partindo de trabalhos que analisaram a inflação desde a época do Império (1829) até o mês de agosto de 1993, um ano antes da introdução do Plano Real, a Andima chegou a uma estimativa "berrante".
A inflação no país durante todo esse período chegou a a quase "sete quinquilhões por cento" (6.666.178.625.954.199.552%).



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