São Paulo, terça-feira, 29 de fevereiro de 2000


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JUDICIÁRIO
Dirigente sindical diz que funcionalismo vai se espelhar no exemplo dos juízes para obter reajuste
Servidor já ameaça greve por aumento

free-lance para a Folha

e da Sucursal de Brasília

O exemplo dos juízes federais, de se concederem um aumento disfarçado de auxílio-moradia de até R$ 3.000, por meio de liminar feita pelo ministro Nelson Jobim, do Supremo Tribunal Federal, está mobilizando os servidores públicos federais.
Eles se reúnem hoje à tarde, em Brasília, para definir a estratégia da campanha salarial deste ano e tirar desde já um indicativo de greve para a categoria.
A reunião foi convocada pela Confederação dos Trabalhadores do Serviço Público Federal, representante de 1,2 milhão de funcionários públicos.

Campanha
"Os juízes são a nossa cunha (apoio). Se eles estão com problemas de moradia, nós estamos até sem comida à mesa, sem reajuste há cinco anos e com o poder de compra reduzido a um terço", declarou Pedro Armengol, secretário de Administração da confederação.
Segundo Armengol, a confederação quer deflagrar uma campanha salarial por reposição de pelo menos 60% de perdas salariais e que deve desembocar, em 1º de maio, com uma greve, "caso o governo insista em nos manter sem reajuste e sem negociar".
"Desde já", segundo o secretário da entidade, "vamos tirar um indicativo de greve".

"Imoralidade"
O secretário-geral do Sindisep (Sindicato dos Servidores Públicos Federais), Francisco Machado, considerou "uma imoralidade" a concessão de liminar prevendo o pagamento de auxílio-moradia no valor de R$ 3.000 aos juízes.
"Enquanto a maioria da população tem uma proposta de aumento miserável para ao salário mínimo, os magistrados têm um aumento de R$ 3.000", declarou Machado.
O maior aumento proposto, até agora, para o salário mínimo é de aproximadamente R$ 44. O valor atual do mínimo é de R$ 136,00. E sua correção será em maio.
O auxílio aos magistrados é, segundo Machado, o dobro do salário mais alto que ganha um servidor público com PhD (doutorado).
"Em plena campanha salarial da nossa categoria, o governo estende a mão para os magistrados, aceitando a tese do teto salarial e atendendo à pressão dos juízes".
Segundo Machado, a concessão será explorada, como "um tempero a mais", na luta dos servidores por reposição salarial.
Os servidores públicos federais estão há mais de cinco anos sem reajuste.

Isenção
Já o presidente do Sindilegis (Sindicato dos Trabalhadores no Poder Legislativo Federal e Tribunal de Contas da União), Mauro Dantas, disse que não é contra a liminar que os juízes conseguiram prevendo um auxílio-moradia de até R$ 3.000.
"Acho, pessoalmente, que os juízes estão ganhando mal, o que é um absurdo" afirmou.
Para Dantas, por causa dos atuais salários dos magistrados, "não se pode cobrar, deles, isenção".
Na sua avaliação, a situação facilita os subornos.
Dantas lembrou que os servidores filiados ao seu sindicato estão há seis anos sem reajuste.
Mas, mesmo assim, segundo o dirigente, não se pretende criar nenhum obstáculo para o pagamento do auxílio-moradia.
Ele acha que é preciso reivindicar melhoria salarial.
"Vamos nos espelhar no exemplo dos juízes e nos mobilizar por melhores salários", declarou.


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