São Paulo, domingo, 29 de fevereiro de 2004

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Jogadores compulsivos tendem a migrar para modalidades ilegais

JOSÉ EDUARDO RONDON
DA AGÊNCIA FOLHA

A proibição de bingos e máquinas caça-níqueis, adotada no dia 20 pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva, pode levar jogadores compulsivos a migrar para modalidades clandestinas de jogos.
A avaliação é da psicóloga Juliana Bizeto, 26, coordenadora do setor do Programa de Atendimento ao Dependente, da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo), que atende a jogadores patológicos. Seu mestrado foi sobre o tema: "Dificultando o acesso para pessoas que ainda não têm problema com a jogatina, pode-se ajudar a melhorar a situação. Mas, ao mesmo tempo, faz as pessoas que já são compulsivas migrarem para jogos clandestinos".
Sua opinião é compartilhada por Paulo (nome fictício), coordenador da associação Jogadores Anônimos, que ajuda pessoas a abandonar o vício de jogar. "O jogador compulsivo, mesmo com a proibição de algum tipo de jogo, acaba partindo para outro."
Para a psicóloga, a proibição é uma medida "paliativa", e a solução seria o governo regulamentar o jogo, diminuir o número de casas de bingo no país e, nos locais onde ocorrem apostas, fazer campanhas de prevenção e alerta sobre os riscos do jogo. Bizeto afirma que o governo federal deveria prestar auxílio às pessoas que se tornam jogadoras compulsivas.
Segundo ela, o setor de atendimento a jogadores patológicos teve uma média de 20 pacientes por ano de 1994 a 1998 -ano em que a Lei Pelé regulamentou a atividade de bingo no Brasil, e o setor se expandiu. Após 1998, a média de pacientes atendidos por ano passou para 80. Hoje, cerca de 40 pacientes recebem atendimento psicológico e social na instituição.
Segundo Bizeto, a compulsão que acomete alguns jogadores é comparável às que afetam dependentes de drogas: os jogadores compulsivos apresentam, após parar de jogar, um quadro de ansiedade, depressão e síndrome de abstinência. "O jogo compulsivo já foi reconhecido como uma doença. O que as pessoas têm que entender é que há tratamento."
Em média, as pessoas que buscam auxílio na universidade estão na faixa etária dos 40 anos, possuem renda mensal em torno de R$ 2.400 e contraíram dívidas altas decorrentes do vício de jogar.
Os jogadores de bingo, máquinas caça-níqueis e loteria somam 80% do total de pessoas atendidas pelo programa. "A maior parte das pessoas chega a procurar nossa ajuda após contrair dívidas que giram em torno de R$ 60 mil a R$ 100 mil." Um dos integrantes do grupo, de acordo com Bizeto, é uma pessoa famosa (que prefere ficar anônima) que perdeu US$ 3 milhões de dólares. No início, os médicos acreditavam que o paciente era mitômano. Mas as perdas foram comprovadas.



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