São Paulo, terça-feira, 29 de março de 2005

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É DANDO QUE SE RECEBE

Presidente promete liberação de emendas e nomeações

Para tentar recompor base, Lula recebe romaria política

JULIA DUAILIBI
RANIER BRAGON
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Uma semana após ter enterrado a reforma ministerial, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva resolveu entrar em campo para tentar arrumar a sua base política no Congresso. No final da tarde de ontem, o gabinete do presidente no Palácio do Planalto foi palco de uma romaria dos parlamentares.
Ao lado do ministro Aldo Rebelo (Coordenação Política), Lula recebeu presidentes e líderes do PSB e do PL, aos quais prometeu a liberação de emendas e a nomeação para cargos. Chegou a ouvir queixas sobre indicações para funções de terceiro escalão. Na saída, os parlamentares pediram o cumprimento das promessas de Lula como condição para se manterem na base aliada.
A entrada de Lula na articulação política era uma demanda dos partidos. Rebelo já havia sugerido ao presidente que conversasse mais com os integrantes da base. Na semana passada, Lula colocou em prática a sugestão e encontrou-se com o PTB.
Para o PL, do vice-presidente, José Alencar, presente no encontro, Lula prometeu liberar verbas contingenciadas do Ministério dos Transportes, da cota do partido. Determinou para quarta-feira uma reunião com a equipe econômica para resolver a questão. A pasta teve um corte de mais de 30%-cerca de R$ 2,7 bilhões.
"Nós precisamos de tinta na caneta. Tinta na caneta faz as coisas andarem. Afinal, construir estrada, tapar buracos e transportar a safra não é exigência fora do natural", disse o líder do PL na Câmara, Sandro Mabel (GO).
"O Ministério dos Transportes precisa de dinheiro para executar projetos", disse o presidente do PL, Valdemar Costa Neto (SP).
Segundo parlamentares, Lula disse ser importante para o PT aprender com a derrota na eleição para a presidência da Câmara, que elegeu em fevereiro Severino Cavalcanti (PP-PE). O presidente também teria dito que a principal lição é que o PT precisa aprender a escutar e que, se tivesse escutado a base, talvez não tivesse errado. Mas que isso já passou e que agora é preciso pensar para frente.
Lula também recebeu integrantes do PSB, entre os quais o ministro Eduardo Campos (Ciência e Tecnologia) e o presidente da sigla, Miguel Arraes.

Jogo do bicho
Os deputados disseram ser importante, em ano eleitoral, a liberação da emenda dos parlamentares. "A Câmara é que nem jogo do bicho. É uma relação de confiança", definiu Mabel, que, depois, tentou corrigir e fez a comparação com um casamento.
Até a nomeação de um funcionário da Companhia Brasileira de Trens Urbanos foi posta em pauta. O PL reclamou da exoneração de um indicado do partido, três dias após ter sido nomeado. "Isso não pode acontecer, senão caímos no descrédito", afirmou Mabel.
Ao deixarem o Planalto, os parlamentares defenderam a tese de que, se o governo quer ver a sua base sólida, terá de liberar as emendas. Lula também disse aos parlamentares que levem suas demandas aos ministros.


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