São Paulo, terça-feira, 29 de março de 2005

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

RUMO A 2006

Segundo ex-presidente, pré-candidatura criou confusão para petista

Políticos "embrulharam" reeleição de Lula, diz FHC

FLÁVIA MARREIRO
DA REPORTAGEM LOCAL

O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso disse ontem que políticos "embrulharam" o horizonte político da reeleição do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
Segundo o tucano, a despeito dos bons resultados da economia, há outros fatores que influirão em 2006 e que ainda é cedo. "A economia vai bem, mas isso depende da população se sentir avançando no dia-a-dia. Isso depende, em parte, da economia, depende da gestão e da política. E, quando os políticos embrulham o jogo, isso perturba tudo. E o jogo agora está embrulhado", disse FHC ontem, após almoço na Bolsa de Valores de São Paulo em homenagem ao filósofo italiano Norberto Bobbio (1909-2004).
"Lula está apenas há dois anos no governo. Como passei oito, sei como o tempo corrói", afirmou.
FHC voltou a dizer que não será candidato em 2006 "porque o PSDB tem vários bons candidatos". Não quis responder se tinha um favorito tucano na disputa e disse ser um erro definir o nome agora. "Você vê a confusão que já deu o fato de o PT ter pré-lançado Lula. Tudo o que ele faz agora é porque está em campanha."
Sobre a disputa ao governo paulista, negou, mas ponderou: "As coisas acontecem independentemente da nossa vontade. Não estou propondo isso, mas sou realista. Mas acho que não há probabilidade de que isso ocorra".

Molejo dialético
No discurso durante o almoço, Fernando Henrique elogiou a inciativa da Bolsa de Valores, que inaugurou ontem um centro de estudos sobre Bobbio (leia texto nesta página): "O presidente da Bolsa conseguiu trazer as idéias de Bobbio para uma instituição que, aparentemente, nada tinha a ver com a pregação dele".
FHC atribuiu a transferência de idéias na Bolsa ao "molejo dialético" no Brasil -a expressão é título de uma música de Ferreria Gullar e Paulinho da Viola que brinca com os dogmas políticos.
"Uma vez eles estavam me perturbando por causa das contradições -as minhas, né?- Disse: sou cartesiano. Mas nunca deixei de ter esse pé no candomblé. Sem isso, nada funciona no Brasil e não sei se funciona na Itália. Imagino que não", disse o sociólogo, para defender que esse seria um dos motivos para a afinidade.
Para o ex-presidente, a maior bandeira do filósofo foi a "convergência". Citou ter conversado, no evento, com um ex-sindicalista que agora era conselheiro da Bolsa. "É a convergência genérica", brincou. Questionado se o governo Lula busca a convergência política, disse: "Não. O PT definiu dois lados e está tentando fortalecer um lado".


Texto Anterior: Dinheiro público: Ex-dono de empresa de Jucá nega dívidas
Próximo Texto: Bovespa cria "centro de estudos Bobbio"
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.