São Paulo, terça-feira, 29 de março de 2005

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Investigação da PF revela 64 tipos de irregularidades na unidade SP

DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

A análise sobre procedimentos adotados por delegados e escrivães em 10.570 inquéritos que tramitam desde 1997 na Superintendência da Polícia Federal em São Paulo revelou a prática de 64 tipos de irregularidade, desde vícios burocráticos até a existência de mercadorias guardadas no depósito do órgão sem nenhum vínculo com investigações formais.
Drogas, equipamentos eletroeletrônicos, bebidas, entre outros itens, estavam perdidos no depósito, o que poderia permitir um posterior desvio criminoso. Responsável pelo levantamento feito em São Paulo, o maior da história da PF, o delegado Euclides Rodrigues da Silva Filho, coordenador-geral de Correições, estima que cerca de R$ 1,5 milhão em mercadorias poderia ser desviado por ano em meio ao descontrole.
"Claro que chamou a atenção o número de irregularidades levantadas nos seis meses de trabalho, mas é preciso ter em conta que a Polícia Federal está agindo para melhorar seus procedimentos", disse. O próximo pente-fino ocorrerá no Espírito Santo.
O material perdido no depósito em São Paulo é fruto de uma espécie de excedente dos autos de apreensão, nos quais as mercadorias apreendidas eram registradas em quantidade inferior ao que realmente chegava à Polícia Federal. O subfaturamento favorece o descontrole e, conseqüentemente, o desvio.
As irregularidades levaram à abertura de 30 comissões de sindicância e à instauração de oito inquéritos, nos quais será apurada suposta prática de crimes.
A morosidade na tramitação de inquéritos, conforme apurou a correição, estaria beneficiando, por exemplo, os contrabandistas Law Kin Chong e Roberto Eleutério da Silva, o Lobão.
Outro item das irregularidades envolve regalias a presos. Havia salas destinadas à carceragem transformadas em celas especiais, disponibilizadas para presos. Nos locais, eles tinham condições melhores do que as oferecidas aos demais detentos.

Mudança de lado
Ao inaugurar ontem o novo prédio do INC (Instituto Nacional de Criminalística), o ministro da Justiça, Márcio Thomaz Bastos, fez uma confissão: após 40 anos de advocacia criminal, "praticamente" mudou de lado e passou a apoiar e a admirar o trabalho da PF que antes criticava.
"Eu, que passei 40 anos da minha vida lutando contra a Polícia Federal, defendendo pessoas contra a eficiência da PF, quero dizer que praticamente mudei de lado."
Bastos relatou as mudanças pelas quais a PF está passando, uma transformação de "paradigmas", em que a investigação científica tem um peso cada vez maior nos inquéritos.
Ao assumir o ministério em 2003, ele prometeu transformar a PF no "FBI brasileiro", em referência à polícia dos Estados Unidos.


Texto Anterior: À Polícia Civil, suposto mandante da morte da freira não fala nada
Próximo Texto: Campo minado: Sem-terra e PM se enfrentam nas ruas de Recife
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.