São Paulo, quarta-feira, 29 de março de 2006

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ESCÂNDALO DO "MENSALÃO"/HORA DAS CONCLUSÕES

Serraglio volta atrás e afirma que vai pedir indiciamento de José Dirceu e Gushiken

Falta de acordo em CPI pode derrubar o relatório final

FERNANDA KRAKOVICS
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

VERA MAGALHÃES
DO PAINEL, EM BRASÍLIA

Na véspera da apresentação do relatório final, a cúpula da CPI dos Correios não havia conseguido ontem construir um acordo em torno do texto.
O relator, deputado Osmar Serraglio (PMDB-PR), que vinha sendo pressionado pelo governo e pela oposição, estava decidido a fazer de seu texto, que terá em torno de 2.700 páginas, peça contundente, a despeito da possibilidade de ser derrubado na votação.
Serraglio disse a membros da CPI que não vai aceitar a sugestão dos petistas José Eduardo Cardozo (SP) e Maurício Rands (PE) de propor categorias intermediárias ao indiciamento. Com isso, a lista de indiciados incluirá nomes sobre os quais havia dúvidas, como os ex-ministros José Dirceu e Luiz Gushiken e os deputados beneficiados pelo " valerioduto".
As dúvidas que persistiam até o início da noite eram sobre a tipificação dos indiciamentos. Inicialmente, por exemplo, o ex-secretário-geral do PT Silvio Pereira seria enquadrado no texto por "formação de quadrilha ou bando", sem que fossem nomeados diretores da Petrobras e da GDK, fornecedora da estatal, que teriam feito parte do esquema. Como a tipificação era frágil, o relator estava sendo aconselhado a mudá-la.
Serraglio deve citar o presidente Luiz Inácio Lula da Silva de maneira sutil. Dirá que não há provas de que Lula sabia do "mensalão", mas que indícios levam a crer que ele foi informado. Nem desta forma a base aliada admite que o presidente seja mencionado.
O último nó foi o vazamento, anteontem, de lista de cerca de 50 assessores parlamentares que receberam verbas de empresas e corretoras do "valerioduto" ou estiveram no Banco Rural onde era distribuído o "mensalão".
Membros da oposição tentavam convencer o presidente da CPI, senador Delcídio Amaral (PT-MS), a não incluir essa listagem. À noite, Delcídio foi chamado para reunião no Planalto.
Para o governo, em último caso, é melhor inviabilizar a votação do que ter, em ano eleitoral, um documento afirmando que o "mensalão" existiu. O PT elabora relatório paralelo para caso seus pleitos não sejam atendidos.
A oposição contava que teria 16 votos para aprovar o relatório de Serraglio, contra 15 do governo. Mas, ontem, o vice-presidente da comissão, Asdrúbal Bentes (PMDB-PA), e o deputado Arnaldo Faria de Sá (PTB-SP) tinham passado para o lado governista.
Gushiken divulgou ontem nota no qual rebate as acusações. "Com base em ampla documentação, o texto a seguir oferece uma visão verdadeira e integral sobre uma série de informações infundadas, inconsistentes, parciais."


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