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UNE é debatida em ato para Édson Luiz
Escultura no Rio lembra os 40 anos da morte do então estudante, assassinado pela polícia durante a ditadura militar
Durante ato, representantes da UNE em 1968 e hoje mostram visões divergentes sobre o papel e o futuro
do movimento estudantil
RAPHAEL GOMIDE
DA SUCURSAL DO RIO
Na inauguração de escultura
em homenagem aos 40 anos de
morte do estudante Édson
Luiz, ontem no Rio, houve um
conflito velado de gerações.
Vladimir Palmeira, um dos
símbolos da resistência dos estudantes de 1968, decretou o
fim do movimento estudantil
hoje e ouviu a presidente da
UNE (União Nacional dos Estudantes), Lúcia Stumpf, chamá-lo, por engano, de "Valter
Pomar" (secretário de Relações
Internacionais do PT). Para
Lúcia, o movimento estudantil
continua ativo, e "os desafios de
hoje são tão grandes quanto
aqueles [de 1968]".
Em vez dos 100 mil reunidos
em passeata na Cinelândia, ontem eram pouco mais de 200 os
estudantes e integrantes da velha guarda presentes no ato,
que seguiu em passeata por
ruas do centro. O evento foi
promovido pelo secretário nacional de Direitos Humanos,
Paulo Vannuchi, e teve a presença de Maria de Belém Souto
Rocha, 84, mãe do estudante
assassinado pela PM no restaurante Calabouço.
A Folha pediu a Palmeira
que comparasse os dois momentos do movimento estudantil e apontasse diferenças.
"O nosso existia. O nosso não
era governista: existia. O do
[José] Serra, antes do golpe era
governista [aliado a João Goulart]", afirmou.
Lúcia Stumpf contestou: "O
movimento está vivo e atuante.
Saiu às ruas pelo fim da corrupção, pela reforma política, mas
se divulgou pouco. Vivemos
realidade diferente. Os estudantes estão trabalhando mais
e têm menos tempo. O movimento estudantil existe e é tão
forte quanto antes, representando muito mais gente, com
desafios tão grandes quanto
aqueles, mas hoje não somos os
únicos porta-vozes", afirmou.
Palmeira afirmou que sua geração deixou como legado "a
marca da rebeldia" e ajudou "a
garantir o ensino público de
qualidade". E prosseguiu: "O
AI-5 não foi em função do movimento estudantil nem da luta
armada, mas uma rearrumação
da elite, um triunfo da linha
dura. Não somos mais os mesmos nem temos as mesmas posições, mas somos a primeira
geração que continuou na esquerda: progressista e crítica".
Falando sobre a morte de
Édson Luiz, o ministro Vannuchi voltou a cobrar informações sobre desaparecidos e a
abertura dos arquivos da ditadura das Forças Armadas -que
militares dizem não existir.
"O Estado pede a narrativa
da morte de Rubens Paiva, se
foi jogado de helicóptero, no
dia tal... Não podemos deixar o
assunto morrer." Integrante da
ALN (Ação Libertadora Nacional), Vanucchi ficou preso de
1971 a 1976 e diz ter sido torturado. "É fundamental não apagar 68 da memória", afirmou o
ministro, que pretende inaugurar monumentos do gênero em
outras cidades do país.
A convidada de honra do
evento foi a mãe de Édson Luiz,
Maria de Belém. Emocionada
diante da placa contando o episódio da morte do filho, afirmou que o momento representava para ela "uma tristeza e
uma felicidade".
"Lembro-me dele a todo momento, não me esqueço nunca
de quando se despediu de mim,
dizendo que vinha para cá vencer na vida para me ajudar. Tadinho, veio para cá para morrer. Ele lutou, era corajoso",
disse a mãe de Édson Luiz.
Na placa que o homenageia,
uma imprecisão: o cemitério
São João Batista é chamado de
cemitério "João Batista".
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