São Paulo, terça-feira, 29 de abril de 2008

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PF diz que Paulinho tramou "escândalo" contra Kassab

Relatório aponta que deputado encomendou informações a coronel reformado da PM

No telefone, pedetista falava em levantar dados também contra o então secretário do Trabalho da cidade, Geraldo Vinholi


RUBENS VALENTE
DA REPORTAGEM LOCAL

Relatórios da Polícia Federal na Operação Santa Tereza atribuem ao deputado federal Paulo Pereira da Silva (PDT-SP) um plano para criar "um escândalo" que pudesse atingir o prefeito Gilberto Kassab (DEM-SP) e o então secretário municipal do Trabalho, Geraldo Vinholi (PDT-SP). A estratégia culminou com a renúncia de Vinholi, no dia 7 de março.
A operação da PF começou, em dezembro passado, a investigar uma casa de prostituição nos Jardins. Depois detectou um suposto esquema para desvio de recursos do BNDES (Banco Nacional do Desenvolvimento Econômico e Social). Também interceptou diálogos telefônicos que indicariam uma trama de Paulinho para bombardear Kassab, o que abriria espaço para uma eventual candidatura do deputado a prefeito de São Paulo.
Segundo a PF, Paulinho encomendou ao coronel reformado da Polícia Militar Wilson de Barros Consani Júnior, 50, preso na última quinta-feira, a tarefa de colher subsídios para atingir Vinholi e Kassab.
"Foi constatada a sua ligação [de Consani] com o deputado federal Paulinho, possível candidato à Prefeitura de São Paulo, para o qual, segundo diálogos de Consani com HNI [homem não identificado], Consani será responsável por criar um tumulto para atingir "GV", possivelmente Gilberto Kassab", apontou relatório do delegado Rodrigo Levin, que mais tarde corrigiu "GV" -as iniciais do secretário de Kassab. Levin escreveu em novo relatório: "Evidenciam-se também suas tratativas a fim de criar escândalo para denegrir a imagem do candidato à Prefeitura de São Paulo, possivelmente Gilberto Kassab, visando a valorizar a candidatura de" Paulinho.
Um diálogo captado entre o coronel e Paulinho em 7 de fevereiro passado indica, segundo a PF, que o deputado cobrava resposta. Para a PF, Paulinho "queria saber do escândalo que Consani estaria preparando para possivelmente beneficiá-lo na eleição".
"Paulinho pergunta para Consani sobre as coisas dele, se tem novidades. Consani disse que na semana que vem o menino da publicação chega para publicar", alusão a um jornalista que divulgaria a "denúncia". Consani respondeu que "os troços estão todos prontos".
Entre fevereiro e março, novos nomes aparecem nas gravações como apoiadores da estratégia. Um deles, anônimo, seria funcionário da PF.
Segundo a PF, Consani disse a um homem identificado como "Miguel" que já explicara a Paulinho "que precisa tomar muito cuidado para preservá-lo, não pode ser feito com pressa". O mesmo teria sido explicado "a Gaspar" (José Gaspar, vice-presidente municipal do PDT). Em outra ligação, "Miguel" disse que Paulinho expressou preocupação com a demora num resultado ("que estão muito moles as coisas").
Consani respondeu que a operação demandaria tempo. "Os caras levam um ano, um ano e meio, para derrubar determinados castelos. (...) Para não envolver o nome de um amigo nosso", teria dito Consani, segundo o relatório da PF.
No início de março, Consani descobriu, enfim, o que poderia ser usado contra Vinholi e Kassab. Consani contou que Vinholi teria sido suspeito de participação de três homicídios, no interior de São Paulo, e ainda fora alvo de denúncias de compra de votos. Vinholi disse ontem à Folha que é inocente no caso dos homicídios, que não foi denunciado no caso e que nunca foi intimado sobre possíveis fraudes eleitorais.
Consani e outro homem fizeram contatos com jornalistas e agendaram um encontro entre um produtor de TV e Gaspar. Consani recomendou ao pedetista que desse a entender que a denúncia chegara por acaso ao PDT. A reportagem não foi divulgada. Um dia depois, Vinholi pediu demissão da secretaria.
Ao mesmo tempo em que, segundo a PF, tramava contra Kassab e Vinholi, Paulinho gabava-se da atenção que Geraldo Alckmin (PSDB) lhe dava, em busca de uma aliança. Em conversa no dia 3 de março, Paulinho contou que o tucano estivera em sua casa no dia 2. Teria dito que Alckmin "está louco para fazer uma composição com nosso banco [BNDES] e com ele particularmente".


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