|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
JANIO DE FREITAS
Na boca da mina
Com a introdução, entre os temas da CPI, das bilionárias compras de dólares nos dois dias anteriores à sua valorização, pela desvalorização do real, chega-se, de
fato, ao vazamento gigantesco e
constante de informações antecipadas, ou privilegiadas, sobre decisões financeiras a serem tomadas pelo governo.
Confundido por jornalistas e senadores esse gênero da corrupção
brasileira, o caso Marka/FonteCindam/Chico Lopes foi, na verdade, um negócio, feito com dinheiro do Banco Central, para
evitar que dois tamboretes de especulação tivessem prejuízo por
jogadas ruins no cassino financeiro.
Forçada pelo deputado Aloizio
Mercadante, assim como a própria CPI dos Bancos decorreu de
denúncia sua, a investigação de
informações privilegiadas é das
mais necessárias ao Brasil, senão
a mais, e só os primeiros dados
postos à disposição da CPI já indicam a gravidade do problema.
Apenas na véspera da desvalorização do real, ao que já constatou
Mercadante, houve, na Bolsa de
Mercadorias e Futuros, US$ 1,8
bilhão em compras de dólares cuja identificação, seja dos negócios
pessoais como dos empresariais, é
o caminho para a comprovação
de relações e conexões entre as
origens de informações privilegiadas e os seus utilizadores.
O assunto é explosivo. Mesmo
que limitada a um início de abordagem, portanto, a CPI já prestaria o serviço de entreabrir-lhe a
porta. Mas isso depende de que os
governistas da CPI sejam forçados
por contingências incontroláveis.
E, a julgar pelo abafamento, nos
meios de comunicação, das últimas revelações de Mercadante, os
governistas não precisam prever
dificuldades. Nem, muitos menos,
os corretores, filhos de corretores,
amigos de corretores, sócios encobertos de corretoras.
FHTur
A nova moralidade do pessoal
de governo -a grande ou única
reforma produzida nestes anos
neoliberais- ainda não está assimilada aqui fora, a não ser nas
atividades e locais combatidos pela polícia.
Dois exemplos recentes começam pelo desvio de R$ 1,7 bilhão
do Banco Central para favorecer o
Marka e o FonteCindam: ""(...) A
investigação não se justifica, porque pode ter havido um erro (na
""ajuda"), mas não foi de má-fé".
E sobre o uso de avião da FAB por
Clóvis Carvalho e companhias,
para turismo de Carnaval em Fernando de Noronha: ele ""errou ao
usar o avião, mas corrigiu o erro
pagando (R$ 25 mil) aos cofres
públicos". Não é preciso identificar o autor dessas frases impudentes.
Restam algumas dúvidas, porém. O pagamento equivale a um
fretamento por Clóvis Carvalho,
logo, aviões da FAB são fretáveis?
Com que fundamento? E que critérios fixaram o preço para o serviço tão especial? Onde nós outros
podemos contratar os mesmos
serviços, já que basta pagá-los aos
cofres públicos por tarifa evidentemente modesta? São perguntas,
só, porque os serviços da FHTur,
como José Simão denomina a
agência Planalto, não são para
gente respeitável.
O abuso de prevaricação que no
governo de Fernando Henrique
Cardoso se resolve com um cheque (e o que, nele, não se resolve
com cheque?) resultaria, em um
governo que fosse indecente, mas
não fosse cínico, pelo menos no
afastamento do prevaricador. No
caso, aliás, reincidente.
Mas a submissão silenciosa da
FAB também não é assimilável cá
fora.
Texto Anterior: Parente diz que ele e Malan depõem, se convocados Próximo Texto: STF livra Garnero de denúncia de estelionato no caso Brasilinvest Índice
|