São Paulo, terça-feira, 29 de maio de 2001

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ESQUELETO DO BC

Há suspeita de que eles tenham sido usados em suposto esquema de venda de informações privilegiadas

Sigilo de celulares é quebrado pela Justiça

ISABEL CLEMENTE
ELVIRA LOBATO
DA SUCURSAL DO RIO

Foi quebrado o sigilo telefônico dos três aparelhos celulares do consultor Luiz Augusto Bragança, amigo de infância de Francisco Lopes, ex-presidente do BC (Banco Central). Bragança e Lopes são dois dos principais réus no caso Marka/FonteCindam.
A Folha apurou que a listagem das ligações efetuadas e recebidas pelos três números foi encaminhada pela Justiça Federal aos procuradores da República encarregados de investigar o caso.
Caberá ao Instituto Nacional de Criminalística, da PF (Polícia Federal), identificar se os aparelhos foram usados para comunicação entre os envolvidos no caso.
O socorro do Banco Central ao bancos Marka e ao FonteCindam, em janeiro de 1999, custou R$ 1,57 bilhão ao banco, de acordo com denúncia do Ministério Público Federal. As investigações iniciais sobre o caso se desdobraram em vários inquéritos.
Os celulares que tiveram o sigilo quebrado são os seguintes: (21) 9916-2833, (21) 9983-5650 e (21) 9995-5055.
O segundo número foi divulgado erroneamente pela revista "Veja" desta semana, que acabou publicando o telefone de Luiz Carlos Souza Fontes, que nada tem a ver com o caso.
Dos três aparelhos, um já foi cancelado por Bragança, em novembro de 2000. Os outros dois estão ativos, embora tenham permanecido pelo menos desde sábado fora de área ou desligados.
Todas as informações relativas aos três celulares foram encaminhadas à Justiça Federal pela Telefonica Celular, no dia 5 de abril. A companhia tem um banco de dados com todas essas informações. O banco guarda registros de telefonemas trocados a partir da privatização do Sistema Telebrás, em julho de 1998.
Já em 1999 a PF investigava a hipótese de que telefones celulares eram usados num suposto esquema de venda de informações privilegiadas do BC para o mercado.
Os procuradores da República nunca aceitaram a tese de que Salvatore Cacciola não se beneficiou de informações reservadas.
Ao prestar depoimento à Polícia Federal, o banqueiro André Esteves, sócio do banco Pactual, foi questionado se teria feito uso de telefone celular dado ou cedido por Bragança. Ele negou.
No depoimento de Luis César Fernandes, ex-sócio do Pactual, a PF perguntou se ele sabia da existência de fitas com conversas telefônicas gravadas clandestinamente, das quais constariam provas sobre o vazamento de informações privilegiadas do BC. O ex-banqueiro respondeu desconhecer o assunto.
Os números dos três aparelhos celulares só surgiram este ano, como resultado do sequestro de bens de alguns dos réus do processo do Marka, entre eles Luiz Augusto de Bragança.
O advogado de Bragança, João Castellar, afirmou que os números estão todos na declaração de Imposto de Renda do consultor.
Os documentos do processo relativos à investigação paralela que envolve os celulares estão inacessíveis. São sigilosos, pois correm em segredo de Justiça. Há outros apêndices no processo do banco Marka que a Justiça não permite consultas.
Também tiveram parte dos bens sequestrados pela Justiça o ex-dono do banco Marka, Salvatore Cacciola, o economista Rubem Novaes e Francisco Lopes, ex-presidente do BC.
Todos os advogados entraram com recursos, alegando que a medida não tinha cabimento. Os recursos ainda tramitam.


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