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PF desarticula grupo que aliciava índios em reserva de MT
Ação prende 40 suspeitos em seis cidades mato-grossenses e em uma de Rondônia
Segundo polícia, esquema para extrair, transportar e beneficiar ilegalmente madeira de terra indígena envolvia servidores públicos
RODRIGO VARGAS
DA AGÊNCIA FOLHA, EM CUIABÁ
A Polícia Federal desarticulou ontem um esquema que aliciava índios e funcionários públicos para extrair, transportar
e beneficiar ilegalmente grandes quantidades de madeira da
terra indígena Vale do Guaporé, da etnia nhambiquara, localizada entre os municípios de
Comodoro e Nova Lacerda, na
região oeste de Mato Grosso
(400 km de Cuiabá).
A operação, chamada de Caipora -em referência ao espírito que protege as florestas, mas
que pode ser corrompido por
presentes oferecidos pelos invasores-, envolveu 237 agentes da PF e o cumprimento de
54 mandados de busca e
apreensão e de 47 de prisão em
seis municípios de Mato Grosso (Cuiabá, Cáceres, Pontes e
Lacerda, Nova Lacerda, Conquista Doeste e Comodoro) e
um de Rondônia (Vilhena).
Até a conclusão desta edição,
40 pessoas já haviam sido presas. Entre elas, um índio, madeireiros e fazendeiros, além de
sete servidores públicos suspeitos de envolvimento com o
esquema: três fiscais da Funai
(Fundação Nacional do Índio),
dois agentes da PRF (Polícia
Rodoviária Federal), um policial militar e um ex-diretor da
Sema (Secretaria Estadual de
Meio Ambiente) na região.
Segundo a PF, eles recebiam
propina para facilitar a extração ilegal e a posterior distribuição para madeireiras. No caso dos servidores da Funai, diz
a PF, os três suspeitos recebiam
pagamentos mensais para franquear aos madeireiros o acesso
livre à reserva indígena. Eles
também alertavam os invasores sobre a possibilidade de
operações de fiscalização.
O mesmo tipo de acordo envolvia os servidores da PM,
PRF e Sema, aponta a investigação. "Mediante pagamento
de propina, colaboram com o
esquema, alertando os madeireiros sobre eventuais fiscalizações, ou se omitindo na fiscalização sobre a origem da madeira nos pátios", diz nota da PF.
Índios
O índio preso -seu nome
não foi divulgado- foi o único
nhambiquara considerado como um integrante de fato do esquema. Outros índios, segundo
a PF, foram aliciados com presentes (carros, motos e gêneros
alimentícios) e permitiam a exploração ilegal dentro das terras da reserva, mas não tinham
articulação com a quadrilha.
Muitos atuavam como
"olheiros", vasculhando as matas em busca de espécies de
maior valor comercial. O acesso dos madeireiros era facilitado por proprietários de fazendas nas imediações da reserva.
Segundo a PF, as áreas eram
usadas também como depósitos temporários de madeiras
extraídas ilegalmente.
Há indícios de que as madeireiras que atuam na região utilizam planos de manejo de fazendas localizadas no entorno
da reserva para justificarem a
madeira que comercializam e
estocam nos pátios, diz a PF.
Com 245 mil hectares, a terra
indígena Vale do Guaporé foi
homologada em 1985. A investigação da PF revelou que o esquema desmatou 5.888 hectares. A estimativa não inclui os
trechos que sofreram apenas o
corte seletivo -quando somente algumas árvores de maior valor comercial são retiradas, em
processo que não aparece em
imagens de satélite.
Segundo a PF, isso permite
supor que "a área devastada seja muito maior". Os envolvidos
serão indiciados por formação
de quadrilha, extração ilegal de
madeira, furto qualificado, corrupção ativa, corrupção passiva, prevaricação e receptação.
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