São Paulo, sexta-feira, 29 de junho de 2007

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Novo presidente do Conselho de Ética é investigado no STF

Ministério Público Federal acusa Quintanilha de receber propina por emenda

Inquéritos sigilosos apuram ação de senador do PMDB em 1998, quando destinou dinheiro para obras que estariam superfaturadas

HUDSON CORRÊA
DA AGÊNCIA FOLHA, EM CAMPO GRANDE

Com base em um recibo e em perícia apontando fraudes em quatro licitações, o Ministério Público Federal acusa o novo presidente do Conselho de Ética do Senado, Leomar Quintanilha (PMDB-TO), de receber propina em troca de emendas ao Orçamento destinadas a obras em 1998.
O alvo de investigação da Procuradoria são três emendas do senador, do ano de 1998, que somam R$ 280 mil.
A acusação gerou dois inquéritos no STF (Supremo Tribunal Federal). Um foi aberto em junho de 2005 "para apurar suposta prática de crimes de quadrilha ou bando, peculato [desvio de verbas] e fraude a licitação". Em outro, de novembro de 2005, investiga-se "crime contra a ordem tributária". Os dois inquéritos são sigilosos.
A Folha teve acesso aos documentos que levaram a Procuradoria acusar Quintanilha de destinar emendas a obras -alvos de suposta licitação fraudulenta- para depois receber parte do dinheiro em forma de propina. Quintanilha disse que não se manifestará.
A investigação começou após a Receita Federal apreender documentos em várias empreiteiras do Tocantins em agosto de 1999, incluindo na Construtora Talismã, que tem 98% de participação na empreiteira Mendes & Fachini.
Entre o material apreendido na Talismã está o "recibo nš 16", que diz: "Recebi de Mendes e Fachini a importância de R$ 10 mil proveniente de acerto de comissão do senador Quintanilha, Dueré, banheiro, sendo dois cheques de R$ 5.000 [...]. Palmas, 9 de junho de 1998".
O nome do senador aparece escrito à caneta, por cima de uma rasura, assim como o do município de Dueré (TO) e também a palavra banheiro.
O recibo é assinado por Júlia Gomes de Sá, que, segundo o texto da denúncia da Procuradoria, "realizou inúmeros saques na boca do caixa da Mendes & Fachini para pagamento de propina a funcionários públicos e outros".
Quintanilha fez a emenda de número 22720008, no valor de R$ 200 mil, para construção de 136 banheiros (obra de saneamento) em Dueré, cidade de 4.000 habitantes a 236 km de Palmas. O dinheiro era da Caixa Econômica Federal.
A execução do contrato da obra foi periciada pelo Ministério Público Federal. A Folha teve acesso ao documento. A Mendes & Fachini, a mesma do recibo, venceu a licitação. A obra foi superfaturada em R$ 35,4 mil, diz a Procuradoria.
Na sede da Talismã, que controla a Mendes & Fachini, a Receita encontrou carimbos da Prefeitura de Dueré, da comissão de licitação e de outras empresas que participaram a concorrência pública para obra. Para a Procuradoria, isso indica que a empresa tinha controle sobre a licitação.
Para completar as irregularidades, a obra foi entregue a outra empreiteira por R$ 123,2 mil, ou seja, valor 43,92% menor do que o da licitação.
Por fim, a Mendes & Fachini fez pagamentos de propina com o dinheiro que sobrou, diz a Procuradoria. Os peritos identificaram dois cheques de 9 de junho de 1998, no valor de R$ 5.000 cada um. Um dos favorecidos foi Francisco Assis Pires de Sá, denunciado pela Procuradoria por participação no esquema, e a outra beneficiada era Júlia Gomes de Sá.
"Os cheques se destinaram ao pagamento do recibo número 16, onde se lê: proveniente de acerto de comissão do senador Quintanilha", diz o Ministério Público.

Mais emendas
Outras duas emendas do senador, cada uma no valor de R$ 40 mil, tinham como destino programas de habitação da CEF. Foram 16 casas em Cariri do Tocantins e 8 em Figueirópolis. Embora aponte fraude na licitação das obras, feitas com emendas do senador, o Ministério Público não apresentou documento de que Quintanilha tenha recebido propina nesses dois casos.
Das licitações em Cariri do Tocantins e Figueirópolis também participaram a Mendes & Fachini e houve fraude, diz a Procuradoria. Em Cariri do Tocantins, ganhou a concorrência a Construtora Pouso Alto, cujos carimbos foram encontrados na Talismã, controladora da Mendes & Fachini. Esta, no fim, acabou recebendo R$ 26 mil, dinheiro relativo a obra. A emenda era de R$ 40 mil.


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