São Paulo, sexta-feira, 29 de junho de 2007

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PMDB manobra e derruba outro relator

Quintanilha, novo presidente do Conselho de Ética, havia indicado senador do PSB para relatar caso Renan e, sob pressão, recua

Renan nega interferência, mas aliados consideraram arriscado dar relatoria a Casagrande; Quintanilha chegou a reconvidá-lo

SILVIO NAVARRO
LETÍCIA SANDER
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Pressionado pela cúpula do PMDB e pelo próprio presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), o presidente do Conselho de Ética, Leomar Quintanilha (PMDB-TO), desfez ontem a indicação de Renato Casagrande (PSB-ES) para a relatoria do processo contra Renan. O recuo de Quintanilha gera novo impasse no caso, que permanece sem um relator ao menos até a próxima terça-feira. Foi mais uma vitória dos aliados de Renan na tentativa de protelar o desfecho do caso.
O processo aberto no conselho investiga suspeita de que Renan poderia ter utilizado recursos da empreiteira Mendes Júnior para arcar com despesas pessoais - o pagamento de pensão à jornalista Mônica Veloso, com quem tem uma filha.
A explicação para a manobra peemedebista de ontem é que Casagrande foi considerado uma opção de risco por Renan após as declarações de que "pretendia aprofundar as investigações". Na noite anterior, entretanto, o voto de Casagrande ajudou a eleger Quintanilha.
Após o mal-estar, Quintanilha disse, à noite, que não desconvidou Casagrande. O senador do PSB, então, cobrou dele uma explicação. Quintanilha respondeu que ele não estava descartado, mas só anunciaria a escolha dia 3 de julho. "Com essa instabilidade, se houver um novo convite vou ter que reavaliar", disse Casagrande.
"Quando Quintanilha me indicou, conhecia minha posição. Manifestei aos líderes e partidos a minha posição de continuar com as investigações", disse ele. Em seguida, desabafou: "Está passando do limite. As renúncias, a indefinição e a demora para definir o relator (...), isso deixa para sociedade um sentimento de fragilidade".
Pela manhã, antes de confirmar que aceitaria o cargo, Casagrande se reuniu com governistas a portas fechadas. Avisou que ampliaria as investigações. Ouviu, então, que os aliados preferiam outra solução: a tríplice relatoria, na qual ele dividiria a função com um senador do PT ou do PMDB e o corregedor Romeu Tuma (DEM-SP).
Outro pedido dos aliados de Renan fora para que o caso fosse desmembrado, remetendo parte das denúncias ao STF (Supremo Tribunal Federal). Casagrande descartou a idéia. Diante disso, o PMDB o vetou e Quintanilha recebeu ordem para deixar o posto em aberto.
O senador do PSB havia tomado a decisão de aceitar a relatoria pela manhã. Ao final da tarde, foi avisado por telefone das mudanças. "Houve uma mudança radical (...) Espero que o senador Leomar Quintanilha tenha condições de dar explicações", disse Casagrande.
Irritado, Quintanilha limitou-se a dizer que preferiu consultar a assessoria jurídica do Senado, com o intuito de "checar prováveis impropriedades no processo", antes de designar o relator. Mas anteontem, ao ser eleito presidente, ele não tinha dúvidas: "Se o senador Casagrande aceitasse ser relator seria um nome firme".
O peemedebista negou que tenha sofrido pressão. "Agi de acordo com a minha consciência", disse. Renan rechaçou interferência no caso. "Não é problema meu." "Já tive pressa, mas a maior pressa a partir de agora é com a comprovação dos fatos."


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