|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Todos são inocentes até julgamento, diz Lula, ao lado de Renan
Defesa feita pelo presidente acontece um dia após o senador pedir ajuda do petista para se salvar no Conselho de Ética
Sem citar nomes, Lula diz que é preciso ter o "cuidado de evitar que pessoas sejam
execradas publicamente antes de serem julgadas"
PEDRO DIAS LEITE
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Na primeira aparição em
mais de duas semanas ao lado
do presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), o
presidente Luiz Inácio Lula da
Silva disse que é preciso ter o
"cuidado de evitar que pessoas
sejam execradas publicamente
antes de serem julgadas".
O apoio público de Lula a Renan acontece um dia após uma
reunião entre os dois, no Planalto, em que o senador pediu
ajuda do petista para salvar-se
no Conselho de Ética.
Sem citar o nome de Renan,
as frases de Lula corroboram a
defesa que o presidente do Senado tem feito contra as denúncias de que recebeu dinheiro de um lobista para pagar
contas pessoais. Nos últimos
dias, o peemedebista disse ser
"vítima" da mídia "fascista" e
que há uma tentativa de "assassinar" sua "honra".
"A democracia garante que
todos, sem distinção, são inocentes até prova em contrário e
que, portanto, todos precisam
ter um julgamento com a maior
lisura possível, para que não se
cometa nenhum erro de omissão e nenhum erro de exagero
em qualquer das nossas instituições", disse Lula, ontem.
O petista foi além e falou da
"inquietação" que sente ao ver
certas acusações. "Uma coisa
que me inquieta como cidadão,
que me inquieta no comportamento da Polícia Federal e do
Ministério Público, é muitas
vezes não termos o cuidado de
evitar que pessoas sejam execradas publicamente antes de
serem julgadas."
Após o discurso de Lula, o senador deu dois tapinhas nas
costas do presidente. Renan
não ia a cerimônias no Planalto
desde o dia 11. Ontem, compareceu a dois eventos.
No encontro de anteontem, o
presidente do Senado pediu
ajuda a Lula argumentando que
seu enfraquecimento interessara à oposição. Dois auxiliares
de Lula disseram à Folha que o
presidente torce para que ele
supere a crise, mas não deseja
abraçar sua causa e fazer dela
um assunto do Executivo.
Equilíbrio
O primeiro evento de ontem
foi o lançamento do Plano Agrícola e Pecuário 2007/2008. O
segundo, onde Lula fez a defesa
velada de Renan, foi a posse para o segundo mandato do procurador-geral da República,
Antônio Fernando de Souza.
Nas duas, o presidente do Senado ficou ao lado de Lula.
O presidente sempre defendeu que não seja feito um prejulgamento de pessoas investigadas, mas suas declarações
normalmente são motivadas
por fatos recentes, como quando saiu em defesa de seu irmão
citado em operação da PF e depois não incluído em denúncia.
Ontem, o único caso que se enquadrava na defesa feita por
Lula era o de Renan.
"Não há nada pior para a democracia do que alguém ser
condenado sem ter cometido
crime. É tão grave quanto alguém ser absolvido tendo cometido um crime", afirmou.
"Daí o ponto de equilíbrio, de
fazer a boa e sensata investigação, doa a quem doer. Mas, ao
mesmo tempo, tendo consciência de que (...) todos têm que ter
a chance de provar a sua inocência antes de serem condenados", completou.
Questionada se o discurso do
presidente se aplicava a Renan,
a ministra Dilma Rousseff (Casa Civil) respondeu: "Aplica-se
a todos nós brasileiros. Nós, a
velha geração que participou
das lutas de resistência à ditadura, sabemos perfeitamente o
que significa o respeito aos direitos individuais da pessoa humana. O direto à defesa, o direito de todos nós, iguais perante a
lei. E o fato de que ninguém é
culpado até que se prove que
ele é culpado, ele é inocente".
Texto Anterior: Associação de bancos troca secretário e determina auditoria externa em contratos Próximo Texto: Procurador pede "cuidado" nas investigações Índice
|