São Paulo, sexta-feira, 29 de junho de 2007

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Bispo critica Lula e pede resistência à transposição

Dom Luiz Cappio retoma os protestos contra obras no rio São Francisco

"Mesmo se os inimigos vierem armados com as armas da morte, vamos responder com as armas da vida", afirmou o religioso

Tuca Vieira/Folha Imagem
Luiz Cappio discursa para manifestantes que invadiram obra da transposição do São Francisco


FÁBIO GUIBU
DA AGÊNCIA FOLHA, EM CABROBÓ (PE)

O bispo de Barra (BA), dom Luiz Flávio Cappio, conclamou ontem os manifestantes que invadiram terça-feira o canteiro de obras da transposição das águas do rio São Francisco, em Cabrobó (a 535 km de Recife, PE), a resistirem a eventuais tentativas de desmobilização do movimento.
"Mesmo se os inimigos vierem armados com as armas da morte, vamos responder com as armas da vida", afirmou o religioso, em discurso aos cerca de 1.200 invasores que estão no local. "Queremos que as nossas vozes sejam ouvidas", complementou.
Cappio, que em 2005 realizou em Cabrobó uma greve de fome de 11 dias contra a transposição, chegou ao acampamento de manhã, a convite dos manifestantes. Ele criticou o governo e atacou o presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
"O governo federal se tornou a voz de um pequeno grupo da elite e, infelizmente, o presidente se tornou refém do capital internacional", afirmou. Segundo o bispo, além de agir "contra a sociedade", Lula não cumpriu sua parte no acordo que o levou a encerrar o jejum.
"Ele prometeu suspender a transposição, discutir alternativas para o desenvolvimento sustentável do semi-árido e a revitalização do rio, mas não fez isso", disse. "Houve um início de diálogo, mas a conversa parou de repente", declarou.
Vestindo camiseta azul e calça jeans, Cappio afirmou que os acampados "não são um bando de ignorantes" e que eles sabem que o projeto de desvio de parte das águas do São Francisco "foi concebido apenas para beneficiar o agronegócio e imposto goela abaixo sem que a sociedade fosse ouvida".
O religioso, que retornaria ontem à noite à Bahia, participou ainda de uma manifestação ao lado de uma vala de 350 metros quadrados, aberta pelo Exército em 15 de junho, durante visita do ministro da Integração Nacional, Geddel Vieira Lima, ao local. Essa medida simbolizou o início oficial das obras para a transposição do São Francisco.
Cappio disse que a viagem do ministro pelo Nordeste para divulgar o projeto foi "trágica". Geddel, afirmou ele, se comportou como um "mascate, vendendo simpatia ao projeto e barganhando o apoio dos políticos regionais à obra".
Ontem, os invasores aterraram parte da área escavada pelos militares com um trator, pás e picaretas. Segundo um dos líderes do acampamento, Rubem Siqueira, a idéia é que o local seja recuperado para dar lugar a lavouras de milho e feijão.
Siqueira disse que os manifestantes -índios, sem-terra, sindicalistas, quilombolas e pescadores de seis Estados- só deixarão o local se o governo federal suspender o projeto de transposição e voltar a discutir a revitalização do rio.
"Ainda que d. Cappio dirija a mim alguma agressão, vou pôr em prática o ensinamento que aprendi na minha igreja [católica]: oferecer a outra face", disse o ministro Geddel Vieira Lima.
"Tenho apreço pelo bispo, mas não reconheço em d. Cappio um exclusivo interprete da vontade do povo nordestino."
Geddel disse que o projeto foi aprovado nas urnas, com a reeleição do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. A Advocacia Geral da União apresentou ontem pedido de reintegração de posse do canteiro de obra. Até o final da tarde, o pedido não havia sido apreciado.

Colaborou SÍLVIA FREIRE, da Agência Folha


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