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Despreparo do país para uma maior liberalização, implícita nas
negociações sobre uma área de livre comércio entre UE e Mercosul, é
admitido em público por representantes brasileiros nas negociações
Brasil não está preparado para abertura
CLÓVIS ROSSI
CARLOS EDUARDO LINS DA SILVA
enviados especiais ao Rio
No mesmo dia em que o Mercosul (mais Chile) lançava formalmente o processo de negociação
com a UE (União Européia) para
uma futura zona de livre comércio
entre os dois blocos, o Brasil reconhecia que não está preparado para a nova onda de liberalização implícita em tal negociação.
O despreparo era admitido em
público tanto por Roberto Teixeira
da Costa, representante dos empresários brasileiros no Fórum de
Negócios Mercosul-UE, como pelo
embaixador José Alfredo Graça Lima, principal negociador pelo governo brasileiro.
Teixeira da Costa cobrou uma
"mobilização da sociedade civil"
para preparar o país para o novo
ciclo de negociações.
Graça Lima pregou "um grande
esforço de persuasão da sociedade,
para entender que a tudo que o
país possa ganhar num eventual
acordo corresponderão concessões em outras áreas".
Para a diplomacia brasileira, foi
até bom que o comunicado final
do encontro não mencionasse datas para as negociações. O Brasil,
em tese, ganha tempo para se preparar. Foi por isso, aliás, que o
chanceler Luiz Felipe Lampreia insistiu tanto em que deveria haver
uma data clara para o término das
conversações e, por extensão, para
o início de nova fase de abertura.
A data, acha Lampreia, serviria
como alerta para o público brasileiro sobre a necessidade de preparar-se para enfrentar novo choque
liberal, depois do primeiro (governo Collor), que o atual governo
considera ter sido "precipitado".
Mas o empresário Teixeira da
Costa avisa, desde já, que, com data ou sem ela, "o Brasil tem que tomar consciência de que isso (as novas aberturas) é uma realidade
com a qual temos de conviver".
Teixeira da Costa está preocupado não apenas com as negociações
UE/Mercosul, mas também com a
Alca (Área de Livre Comércio das
Américas, que pretende englobar
34 países americanos) e com a Rodada do Milênio, a nova e abrangente ronda de negociações comerciais entre os mais de 140 países da OMC (Organização Mundial do Comércio).
As três discussões têm agendas
semelhantes e desaguarão, em algum momento a partir de 2005, em
novas aberturas da economia brasileira. "O Mercosul não está preparado", diz Teixeira da Costa.
O apelo à mobilização da sociedade civil feito pelo empresário é
consequência direta do contraste
que ele sentiu entre a posição de
seus colegas europeus e as do empresariado do Sul, nas reuniões do
Fórum de Negócios.
"Ficou muito claro que as demandas deles (em termos de abertura) eram muito maiores e mais
bem organizadas que as nossas",
afirma Teixeira da Costa. "Também ficou evidente que não havia
muito espaço para que o Mercosul
fizesse concessões adicionais sem
que a Europa liberalizasse o setor
agro-alimentar", diz.
Traduzindo: o Mercosul tem a
ganhar, na negociação com a Europa, apenas na área agro-alimentar, que, como o próprio presidente Fernando Henrique Cardoso reconheceria depois, oferece bens de
baixo valor agregado. De fato, não
há comparação entre o valor de um
novo programa de computação e o
do café, por exemplo.
Ontem, a propósito, Graça Lima
contestou o presidente francês,
Jacques Chirac, que, na véspera,
dissera que o protecionismo francês "é lenda". Para o diplomata
brasileiro, a França, como um todo, pode não ser um país protecionista, mas sem dúvida "aplica na
área agrícola mecanismos que outros países não usam".
Teixeira da Costa desloca a ênfase apenas da área agrícola, ao dizer
que "o Mercosul terá que aumentar a matriz de produtos exportáveis para a Europa", sob pena de
continuar com volumoso déficit
comercial nas trocas com a UE.
A lista de produtos exportáveis
não é o único problema. "Não temos agressividade exportadora
suficiente para penetrar nesse
mercado", fulmina o coordenador
do empresariado brasileiro.
Já Graça Lima aponta outra ordem de dificuldade: o Mercosul
não tem uma estrutura idêntica à
da UE. O representante brasileiro
acha que o bloco deveria criar instituições supranacionais, mas, enquanto isso não for feito, terá que
negociar da forma atual, ou seja,
representado pelo seu presidente
de turno (muda a cada semestre).
Tudo somado, fica reforçada a
constatação de que o Brasil terá
que apresentar um projeto definido de desenvolvimento para esse
conjunto de negociações (UE/
Mercosul, Alca e Rodada do Milênio), de forma a saber o que abrir e
o que proteger.
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