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CELSO PINTO
O câmbio e a inflação
Cada desvalorização do real
frente ao dólar de 10% produz
uma inflação de 0,5% a curto prazo, ou seja, de um a três meses. Se
a desvalorização persistir durante
um ano, o impacto sobre a inflação será de 2% a 2,5%.
Essa é a conclusão de um estudo
feito pelo diretor do Banco Central Sérgio Werlang e o professor
da PUC Ilan Goldfajn. Não é apenas acadêmica. Procura responder uma das questões mais importantes e menos conhecidas, que
ajudarão a embasar o sistema de
"metas inflacionárias", que começa a vigorar na quinta-feira.
O Ministério da Fazenda vai
anunciar, hoje ou amanhã, metas
anuais de inflação até 2001 e uma
faixa aceitável de flutuação. Ao
Banco Central caberá manter a
inflação dentro desse intervalo,
usando basicamente a política de
juros como instrumento.
Para saber como a inflação vai
se comportar, o BC vai usar dois
modelos macroeconômicos, com
seis equações. Outros oito modelos estatísticos servirão de apoio
adicional, para checar a coerência da trajetória prevista nos modelos macro, num período de até
seis meses.
O coração do sistema estará na
combinação entre o que dirão os
modelos macro, temperados pelo
julgamento subjetivo dos membros do Conselho de Política Monetária, o Copom, explicou Werlang, ontem, em São Paulo. Esses
modelos macro vão considerar
variáveis de demanda agregada,
de oferta agregada e uma equação para o câmbio.
Os modelos têm uma certa precariedade. Werlang admite que,
"no início, será mais arte do que
ciência". Isso vale, principalmente, para a avaliação do impacto
do câmbio sobre a inflação. Por
uma razão simples: a experiência
do país com câmbio flutuante tem
exatos cinco meses.
Werlang diz que muitos países
enfrentaram o mesmo problema:
saíram de sistemas de câmbio
controlado para câmbio flutuante
e começaram a usar as metas inflacionárias. Com o tempo, os modelos se refinaram.
No caso do câmbio, o trabalho
de Werlang e Goldfajn servirá como indicador inicial. É importante, porque o Brasil ainda depende
de muitos capitais externos para
fechar suas contas e vai continuar
dependendo durante algum tempo. Portanto, mudanças externas
como o aumento dos juros americanos, a desvalorização da Colômbia, a ameaça de moratória
do Equador ou de crise na Argentina podem afetar o fluxo de capitais e levar a oscilações fortes no
câmbio.
Por definição, no sistema de metas inflacionárias o BC não vai
defender uma taxa de câmbio: vai
se preocupar, apenas, com a inflação. No entanto, o câmbio tem um
impacto inflacionário. Uma desvalorização muito forte poderia
levar o BC a subir os juros, não
para tentar baixar o câmbio, mas
para impedir que suba a inflação.
Werlang acha que esse impacto
de curto prazo, de 0,5% para cada
10% de desvalorização, é pequeno
e administrável. Os modelos, por
sua vez, vão embutir os impactos
de "choques" conhecidos, de crises
externas a um não cumprimento
de meta fiscal. O modelo não será
revelado, mas relatórios trimestrais, a começar do que será divulgado amanhã, justificarão as previsões do BC.
Um problema não resolvido
vem do acordo com o FMI. Quando um BC persegue uma meta inflacionária, ele não está preocupado com quanto cresce a moeda,
mas apenas com o objetivo final
dos preços. O acordo com o FMI,
contudo, continuará tendo uma
meta para o crédito doméstico líquido (CDL) para esse terceiro
trimestre, confirmou Werlang.
O CDL mede a expansão da base
monetária menos a variação das
reservas. Serve para o FMI garantir, indiretamente, uma meta para as reservas. Teoricamente, o
BC pode ter sucesso na meta inflacionária e não cumprir a meta do
CDL. Se isso acontecer, vai gerar
uma confusão injusta e inútil,
apenas porque o CDL é um critério de performance do acordo.
Werlang acena com a hipótese
de talvez esse conflito absurdo sumir nas metas para o quarto trimestre. O acordo com o Brasil é o
primeiro assinado pelo FMI que
incorpora o sistema de meta inflacionária. "Há 53 anos o FMI usa o
mesmo método e é difícil mudar",
diz Werlang. Fica o CDL, mas a
meta deve ser ampla o suficiente
para não dar zebra. Quarta-feira,
o BC vai divulgar suas previsões
para a inflação e as previsões do
mercado. As do mercado, de sexta-feira passada, estão num "paper" do BC. Para 99: IGP de 11,9%;
IGP-M de 11,9%; IPC-Fipe de
6,35% e INPC de 7,5%. Para o ano
2000: IGP de 6,2%; IGP-M de 5%;
IPC-Fipe de 4,45% e INPC de 5%.
Para o mês de junho: IGP de 0,5%;
IGP-M de 0,35%; IPC-Fipe de
0,18% e INPC de 0,35%.
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