São Paulo, sexta-feira, 29 de julho de 2005

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Saques no Rural do DF começaram em 2003

HUDSON CORRÊA
DA AGÊNCIA FOLHA, EM BRASÍLIA

GILMAR PENTEADO
ENVIADO ESPECIAL A BRASÍLIA

Os saques na conta da SMPB Comunicação, da qual Marcos Valério Fernandes de Souza é sócio, migraram da agência do Banco Rural em Belo Horizonte para a de Brasília a partir de setembro de 2003. Nesse mês, começam os saques de supostos operadores do "mensalão" que, em Brasília, retiraram R$ 5,7 milhões, ou seja, pouco mais de 25% dos R$ 20,6 milhões sacados da SMPB.
Foi também em setembro de 2003 que a Câmara aprovou a reforma tributária após enfrentar uma rebelião de partidos aliados em agosto. João Cláudio Genu, assessor do líder do PP na Câmara, José Janene (PR), sacou pelo menos R$ 1,15 milhão, sendo R$ 300 mil em 17 de setembro de 2003 (quando a reforma foi aprovada em primeiro turno) e R$ 600 mil no dia 24 (dia do segundo turno).
O deputado federal Roberto Jefferson (PTB-RJ) afirma que o "mensalão", no valor de R$ 30 mil, era pago por Marcos Valério, a pedido do PT, a congressistas do PL e PP em troca de apoio em votação de projetos do governo.
A informação sobre a migração é obtida cruzando a lista de sacadores da conta da SMPB com a relação de pessoas que entraram na agência do Banco Rural em Brasília. Entre os supostos operadores do "mensalão" estão Simone Reis Vasconcelos e Eliane Alves Lopes, funcionárias da SMPB; Jacinto de Souza Lamas, ex-tesoureiro do PL; e o assessor João Genu.
Os quatro passam a freqüentar o Banco Rural em Brasília a partir de setembro de 2003. Nesse mês, o deputado Josias Gomes (PT-BA) e Márcia Regina, mulher do então presidente da Câmara João Paulo Cunha (PT-SP), fizeram saques de R$ 100 mil e R$ 50 mil, respectivamente, na conta da SMPB.
No levantamento da CPI dos Correios, Simone figura como sacadora de R$ 6,1 milhões na conta da SMPB. Desse total, R$ 1,425 milhão foi sacado em Brasília, pois as datas dos saques conferem com os dias em que ela esteve na agência do Rural no Brasília Shopping. À PF, Simone disse que distribuía, por ordem de Marcos Valério, dinheiro a "estranhos" dentro do banco em Brasília.
Nos meses de abril e maio de 2003, Simone sacou R$ 3,11 milhões da SMPB, mas não há registro da entrada dela no Banco Rural em Brasília, apontando que os saques devem ter ocorrido na agência em Belo Horizonte.
Naqueles mesmos meses, os policiais David Rodrigues e Luiz Carlos Lara retiraram R$ 5,5 milhões. Eles disseram que levaram o dinheiro de agências do banco em Belo Horizonte para a SMPB na cidade, indicando que os saques se concentravam em Minas.
Lamas, do PL, sacou R$ 1,25 milhão de 16 de setembro de 2003 (véspera da votação da reforma tributária) a 20 de janeiro de 2004. Cinco vezes o dinheiro foi retirado por Simone na boca do caixa enquanto ela esteve na agência em Brasília. Eliane, também funcionária da agência de publicidade SMPB, fez saques de R$ 480 mil, o primeiro deles, no valor de R$ 250 mil, no dia 16 de setembro.
Marcos Valério esteve na agência do Rural em Brasília em 19 de agosto daquele ano. Sacou R$ 150 mil na conta de outra empresa, a DNA Propaganda. Após a visita do empresário, começaram a ocorrer saques de Simone, Genu e Lamas. Destoam desse período as retiradas feitas por Anita Leocádia, assessora do ex-líder do PT na Câmara Paulo Rocha. Ela sacou R$ 470 mil em 2003, sendo R$ 120 mil em dezembro, R$ 250 mil em junho e R$ 100 mil em julho.


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