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PÉ NA LAMA
Lula adota estilo de campanha
Presidente escala até barranco para cumprimentar manifestantes
EDUARDO SCOLESE
ENVIADO ESPECIAL A OSÓRIO E A MAQUINÉ (RS)
No momento em que enfrenta
a pior crise de sua gestão, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva
passou a adotar um comportamento típico de campanha eleitoral. Ontem, durante sua visita a
obras de duplicação da BR-101,
no interior do Rio Grande do Sul,
ele surpreendeu até seus seguranças com gestos de candidato.
Entre outras ações, Lula tomou
o celular de uma pessoa para
conversar com quem estava na
linha, ajudou um operário a manobrar uma máquina perfuradora e, colocando literalmente os
pés na lama, decidiu escalar um
barranco para cumprimentar
pessoas que gritavam seu nome.
Nos últimos dias, em meio à
turbulência política, Lula tem
buscado apoio em suas antigas
bases, como sindicalistas, sem-terra, petroleiros e operários. A
estratégia montada pelo Planalto
é distanciá-lo da enxurrada de
denúncias de corrupção.
As viagens pelo país estão de
novo entre as prioridades de Lula. Nos últimos dois dias, por
exemplo, participou de eventos
em quatro cidades gaúchas (Bagé, anteontem, e Canoas, Osório
e Maquiné, ontem). Pessoas dessa comitiva descreveram à reportagem um presidente animado com a recepção da população
e nostálgico com histórias de
tempos de PT e sindicato.
Ontem à tarde, em Osório, Lula visitou o trecho em obras do
km 93 da rodovia. No local, foi
recebido por cerca de cem pessoas, que se amontoaram numa
cerca organizada no acostamento. Lula conversou com alguns
operários e passou a cumprimentar um a um os presentes.
Ao se deparar com o vendedor
Rafael Rosa Dias, 38, tomou-lhe
o celular e passou a conversar
com Antonieta Ferrari de Lima,
69, sogra de Dias. "Como vai a
senhora? Aqui é o presidente Lula, tudo bem? Tem um cafezinho
aí para mim?", disse o presidente, devolvendo em seguida o aparelho. "Eu estava falando com o
meu genro e nem acreditei que
ele [Lula] pegou o telefone. Ele é
uma gracinha", disse Antonieta
mais tarde, por telefone.
O clima eleitoral do presidente
prosseguiu meia hora depois, já
no canteiro de obras do km 68 da
rodovia, no município de Maquiné. Lá, o presidente entrou
numa perfuratriz hidráulica, que
será usada para a abertura de um
túnel. Sobre a máquina, usando
um capacete branco, apertou botões e ensaiou algumas manobras com o controle manual.
Deu um susto em seus seguranças quando começou a escalar um barranco enlameado para
se aproximar de 300 pessoas que
gritavam seu nome. Houve tensão, pois alguns seguranças temiam uma queda de Lula, que
subiu a 20 metros do chão.
Lula cumprimentou todos. Ao
ser questionado por jornalistas,
recusou-se a responder sobre a
possibilidade de a sua posse ter
sido custeada por meio de empréstimos contraídos pelo PT.
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