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UNE promete a volta dos "caras-pintadas"
DA SUCURSAL DO RIO
Moderados, os "caras-pintadas" prometem voltar às ruas no
dia 16 de agosto em Brasília. A
pauta da manifestação: pedir punição dos corruptos e corruptores, reforma política e mudança
econômica, mas nada de "Fora
Lula" entre as palavras de ordem.
Diferentemente do que aconteceu durante a ditadura militar e
em períodos dos governos Collor
e FHC, a UNE (União Nacional
dos Estudantes) decidiu adotar
desta vez uma posição de cautela
em relação ao governo na atual
crise política. É preciso combater
a corrupção, mas sem se "aliar às
forças da direita que querem desestabilizar o governo Lula".
Além da UNE e da Ubes (União
Brasileira dos Estudantes Secundaristas), participarão do manifestação um "pool" de entidades
ligadas à Coordenação dos Movimentos Sociais (CMS), entre elas
a CUT e o MST. A expectativa é
reunir 10 mil pessoas.
Os discursos das entidades não
estão exatamente afinados -espera-se dos movimentos de moradia, por exemplo, críticas pela
saída do petista gaúcho Olívio
Dutra do Ministério das Cidades-, mas a "paciência" com o
governo Lula é a tônica.
"Na crise, o governo deu passos
contrários à nossa direção. Mesmo assim entendemos que Carta
do Povo Brasileiro está atualíssima", diz Antonio Carlos Spis, secretário de Comunicação da CUT,
em referência ao documento preparado em junho que apóia o governo e cobra mudança na política econômica.
A UNE ainda aguarda mudança
na política econômica ou pensa
como João Pedro Stedile, do MST,
que o "governo acabou"? "Quando você tem uma grande crise, as
coisas são muito dinâmicas",
aposta Gustavo Petta, presidente
da UNE.
Racha estudantil
Como era de se esperar dentro
do fragmentado movimento estudantil, a atitude moderada de Petta está longe de ser consensual. Há
mais de dez anos, a principal força
política na UNE é a União Juventude Socialista, ligada ao PC do B,
partido da base aliada do governo
Lula. A segunda maior força é o
PT, apesar de o partido quase
sempre apresentar diversas chapas por causa de suas divisões.
Atual presidente da UNE, Petta
foi reeleito no congresso da entidade, neste mês, com o apoio do
PC do B e da Articulação do PT,
tendência de Lula, José Dirceu e
do ex-presidente do PT José Genoino. Para estudantes de correntes minoritárias ou que romperam com a UNE, essa é a razão
que leva a entidade a não ser mais
incisiva nas críticas ao escândalo
do "mensalão".
"A UNE está defendendo um
governo corrupto. Passou a ser dirigida pelo PC do B e pelo PT e se
transformou numa entidade governista. (...) O Collor caiu por
muito menos", reclama Thiago
Hastenreiter, dirigente nacional
da juventude da PSTU.
Michel Oliveira, diretor de universidades públicas da UNE e da
coordenação de juventude do
PSOL, tem posição semelhante:
"A única forma de a CPI não acabar em pizza é mobilizando os estudantes e trabalhadores".
Em resposta, Petta diz que o dia
16 de agosto marcará a volta dos
"caras-pintadas" -expressão
usada no material distribuído à
imprensa.
O presidente da UNE afirma
que o governo Lula não pode ser
comparado ao de Collor ou de
FHC e que não há nada provado
contra o presidente.
"O momento atual é diferente
do vivido durante o período Collor e o de FHC. A UNE defendeu o
"Fora Collor" desde 1991 porque
ele representava um projeto de
privatização de setores estratégicos que foi continuado no governo FHC. Além disso, Collor tinha
envolvimento direto com os casos
de corrupção. O governo Lula
ainda não atendeu às expectativas
do movimento estudantil, mas
sua agenda não é a mesma dos anteriores", disse.
(ANTÔNIO GOIS)
Colaborou FLÁVIA MARREIRO, da Reportagem Local
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