São Paulo, sexta-feira, 29 de julho de 2005

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UNE promete a volta dos "caras-pintadas"

DA SUCURSAL DO RIO

Moderados, os "caras-pintadas" prometem voltar às ruas no dia 16 de agosto em Brasília. A pauta da manifestação: pedir punição dos corruptos e corruptores, reforma política e mudança econômica, mas nada de "Fora Lula" entre as palavras de ordem.
Diferentemente do que aconteceu durante a ditadura militar e em períodos dos governos Collor e FHC, a UNE (União Nacional dos Estudantes) decidiu adotar desta vez uma posição de cautela em relação ao governo na atual crise política. É preciso combater a corrupção, mas sem se "aliar às forças da direita que querem desestabilizar o governo Lula".
Além da UNE e da Ubes (União Brasileira dos Estudantes Secundaristas), participarão do manifestação um "pool" de entidades ligadas à Coordenação dos Movimentos Sociais (CMS), entre elas a CUT e o MST. A expectativa é reunir 10 mil pessoas.
Os discursos das entidades não estão exatamente afinados -espera-se dos movimentos de moradia, por exemplo, críticas pela saída do petista gaúcho Olívio Dutra do Ministério das Cidades-, mas a "paciência" com o governo Lula é a tônica.
"Na crise, o governo deu passos contrários à nossa direção. Mesmo assim entendemos que Carta do Povo Brasileiro está atualíssima", diz Antonio Carlos Spis, secretário de Comunicação da CUT, em referência ao documento preparado em junho que apóia o governo e cobra mudança na política econômica.
A UNE ainda aguarda mudança na política econômica ou pensa como João Pedro Stedile, do MST, que o "governo acabou"? "Quando você tem uma grande crise, as coisas são muito dinâmicas", aposta Gustavo Petta, presidente da UNE.

Racha estudantil
Como era de se esperar dentro do fragmentado movimento estudantil, a atitude moderada de Petta está longe de ser consensual. Há mais de dez anos, a principal força política na UNE é a União Juventude Socialista, ligada ao PC do B, partido da base aliada do governo Lula. A segunda maior força é o PT, apesar de o partido quase sempre apresentar diversas chapas por causa de suas divisões.
Atual presidente da UNE, Petta foi reeleito no congresso da entidade, neste mês, com o apoio do PC do B e da Articulação do PT, tendência de Lula, José Dirceu e do ex-presidente do PT José Genoino. Para estudantes de correntes minoritárias ou que romperam com a UNE, essa é a razão que leva a entidade a não ser mais incisiva nas críticas ao escândalo do "mensalão".
"A UNE está defendendo um governo corrupto. Passou a ser dirigida pelo PC do B e pelo PT e se transformou numa entidade governista. (...) O Collor caiu por muito menos", reclama Thiago Hastenreiter, dirigente nacional da juventude da PSTU.
Michel Oliveira, diretor de universidades públicas da UNE e da coordenação de juventude do PSOL, tem posição semelhante: "A única forma de a CPI não acabar em pizza é mobilizando os estudantes e trabalhadores".
Em resposta, Petta diz que o dia 16 de agosto marcará a volta dos "caras-pintadas" -expressão usada no material distribuído à imprensa.
O presidente da UNE afirma que o governo Lula não pode ser comparado ao de Collor ou de FHC e que não há nada provado contra o presidente.
"O momento atual é diferente do vivido durante o período Collor e o de FHC. A UNE defendeu o "Fora Collor" desde 1991 porque ele representava um projeto de privatização de setores estratégicos que foi continuado no governo FHC. Além disso, Collor tinha envolvimento direto com os casos de corrupção. O governo Lula ainda não atendeu às expectativas do movimento estudantil, mas sua agenda não é a mesma dos anteriores", disse. (ANTÔNIO GOIS)


Colaborou FLÁVIA MARREIRO, da Reportagem Local

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