São Paulo, sexta-feira, 29 de julho de 2005

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ESCÂNDALO DO "MENSALÃO"/PT NO DIVÃ

Presidente do partido concorrerá à reeleição pelo Campo Majoritário, ala de José Dirceu

Tarso lança candidatura e PT busca "pacificação" interna

DA REPORTAGEM LOCAL

DA AGÊNCIA FOLHA, EM PORTO ALEGRE

Destacado para comandar o PT em meio à crise política do governo, o ministro demissionário da Educação, Tarso Genro, oficializou ontem sua candidatura à presidência do partido pelo Campo Majoritário, ala moderada que controla a legenda e tem como principal líder o ex-ministro e deputado José Dirceu (PT-SP). O PT passará por eleições internas em 18 de setembro deste ano.
Com a oficialização da candidatura, dirigentes petistas apostam num "pacto pela pacificação" do partido, que seria selado entre Tarso, que não era do Campo Majoritário, e correligionários de Dirceu. O grupo do ex-ministro quer que o presidente do PT dedique à defesa da legenda a mesma energia que vem dedicando às autocríticas.
Ontem, acompanhando a comitiva presidencial em viagem a Porto Alegre (RS), Tarso começou a afinar seu discurso. Ele definiu a crise política como ""sistêmica" e criticou o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso (PSDB) por ter dito que a extensão das investigações para seu governo tiraria o foco das atuais apurações.
""Fernando Henrique não pode entrar com um habeas corpus preventivo e dizer para só investigarem a conjuntura. Vamos investigar a estrutura", disse ele.
Também deu sinais sobre a condução das apurações internas. Tarso, que havia sugerido que deputados envolvidos em denúncias do escândalo do "mensalão", entre eles Dirceu, pedissem abertura de um processo na comissão de ética petista "antes que alguém o fizesse", agora modera o tom: afirma que é preciso ouvi-los antes que medidas sejam tomadas.
Na próxima quarta-feira, vai pedir a notificação de ""todos os companheiros que estão sendo mencionados para que apresentem relatório prévio sobre o porquê disso e seus pontos de vista".
Coordenador do Campo Majoritário, Francisco Rocha -o Rochinha- afirmou que, com Tarso candidato, convocará uma nova reunião da corrente para traçar sua campanha. A ala moderada acredita que as críticas de Tarso ao modelo econômico e à gestão passada do partido são uma estratégia para atrair as correntes de esquerda da legenda. A expectativa, porém, é que ele assuma a tese já preparada pelo Campo Majoritário, que ignora a discussão, no PT, da política econômica do país.
"Espero que, com a mesma força que ele cobra internamente, ele cobre também externamente", afirmou o deputado estadual Fausto Figueira, amigo de Dirceu.
Além de adotar um discurso menos cáustico, Tarso terá de justificar para o público externo a presença na chapa do Campo Majoritário de petistas que têm seus nomes ou de assessores envolvidos no escândalo. É o caso dos deputados Josias Gomes (PT-BA) e José Mentor (PT-SP) e do presidente do PT do Distrito Federal, Vilmar Lacerda -eles aparecem como sacadores das contas do empresário Marcos Valério.
Além deles, a lista dos envolvidos no escândalo inclui o próprio Dirceu, João Paulo Cunha (PT-SP) e o deputado estadual José Guimarães Nobre, cujo assessor foi flagrado com dólares na cueca.
Até agora, não há sinais de que correntes mais à esquerda venham a aderir à candidatura Tarso. "Acho negativo para o PT que ele [Tarso] seja candidato. Nessa condição, ele terá compromisso com o Campo Majoritário, o que limita a capacidade de limpeza do partido", disse Valter Pomar, candidato à presidência do PT pela chapa A Esperança é Vermelha.
"A tendência é que Tarso se ligue ao presidente Lula e tente mostrar que a máquina de Dirceu foi desfeita. Mas ele não vai se eleger sem a máquina de Dirceu", afirmou Plínio de Arruda Sampaio, candidato da chapa Esperança Militante. "Tarso deixa de ser magistrado para ser interessado no processo, mas permanece com nossa confiança", disse a deputada Maria do Rosário (PT-RS), da chapa Movimento. Apesar das declarações de confiança dirigidas ao presidente do PT, ela diz que manterá a candidatura. O deputado estadual Raul Pont (RS) também afirmou que se manterá na disputa. (CÁTIA SEABRA, CONRADO CORSALETTE E LÉO GERCHMANN)

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