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Presidente de comissão quer punir tortura
Paulo Abrão, da Comissão de Anistia, defende responsabilização dos militares por esse tipo de crime, que "não prescreve nunca"
Mais de 360 pessoas, entre promotores, advogados, juízes e parentes de vítimas, assinaram ontem manifesto pedindo debate sobre tema
DA REPORTAGEM LOCAL
O presidente da Comissão de
Anistia do Ministério da Justiça, Paulo Abrão, afirmou ontem que defende a responsabilização dos militares por crimes de tortura praticados durante o regime militar (64-85).
"Entendo que os crimes cometidos por autoridades durante o regime militar foram
crimes de lesa-humanidade e,
por isso, não prescrevem nunca", disse Abrão, que participou
ontem do evento "29 anos da
Anistia - Verdades e Mentiras",
promovido pelo Arquivo Público do Estado de São Paulo.
Cerca de 160 pessoas participaram do ato, que foi realizado
ontem no antigo prédio do
Dops (Departamento de Ordem Política e Social), órgão repressivo do governo militar, para onde eram mandados os presos políticos. O espaço foi rebatizado de Estação Pinacoteca.
O apoio declarado de membros do governo federal à apuração dos crimes praticados
durante a ditadura foi duramente criticado pelos militares, que defendem que a Lei da
Anistia, de 1979, perdoou crimes de militares e terroristas.
"É um absurdo falar em anistia para os dois lados. Quando a
lei foi aprovada em 1979, os militares falavam que a lei nem se
aplicava a eles, pois não tinham
cometido crimes. Tanto o governo reconhece que isso ocorreu que tem indenizado as vítimas. Agora não dá para achar
que pessoas foram mortas e
torturadas e ninguém foi responsável", disse a procuradora
da República Eugenia Fávero,
que pediu às vítimas que recorram à Justiça para pedir a punição de seus algozes.
"Crimes cometidos por agentes do Estado durante o regime,
como homicídio, estupro, ocultação de cadáver e formação de
quadrilha, não prescrevem."
Debate
Ato no pátio da Faculdade de
Direito da USP marcou ontem
a apresentação do manifesto
em defesa do debate sobre a
responsabilização de torturadores. Mais de 360 pessoas, entre juízes, advogados, promotores e parentes de vítimas da ditadura assinaram o documento. "Falar em punição dos torturadores nada tem a ver com
revanchismo. Pretendemos
que sejam processados segundo as regras constitucionais,
com plenitude do direito de defesa, que sejam identificados e
que, reconhecida a culpa, sejam
condenados", disse o advogado
Dalmo de Abreu Dallari.
Professor emérito da USP,
Dallari explicou que o crime de
tortura "é contra a humanidade
e imprescritível".
Entre os signatários do manifesto estão o ex-ministro da
Justiça Márcio Thomaz Bastos
e o presidente da OAB, Cezar
Britto.
(LILIAN CHRISTOFOLETTI E CLAUDIO DANTAS SEQUEIRA)
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