São Paulo, domingo, 29 de setembro de 2002

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Filho de assentado diz que terreno está vazio

DA AGÊNCIA FOLHA
DO PAINEL

"Desde que meu pai morreu [em 1992], nós pedimos ao Incra para transferir o lote para o nome da minha mãe, e agora você vem me dizer que ele foi assentado em 1999. Ninguém conseguiria entender isso, pois o terreno está lá, vazio."
Assim reagiu Adelar Jesus de Alcanter, 30, ao ser informado pela reportagem da Folha de que o nome de seu pai, Valeriano Jesus de Alcanter, morto em 1992, aos 60 anos de idade, foi incluído sete anos depois na lista de novos assentados do Ministério do Desenvolvimento Agrário.
Confirmando o que consta no atestado de óbito, Adelar disse que seu pai morreu enquanto trabalhava no próprio lote. "Foi uma fatalidade. Uma árvore que ele acabara de cortar caiu em sua cabeça. Fiquei sabendo três dias depois e cheguei à cidade depois de duas semanas", contou Adelar, que na época estudava em Manaus, capital do Amazonas.
Segundo Adelar, que atualmente trabalha em uma repartição pública na cidade de Apuí (AM), sua família não recebeu nenhum tipo de crédito do governo nos últimos anos. "Em 1996, eu trouxe a minha mãe [Terezinha Fagundes Alcanter, hoje com 67 anos] para viver na zona urbana da cidade. Tive de ajudá-la a sobreviver", afirmou Adelar.
De acordo com ele, sua família -os pais e outros três irmãos- deixou o município de Francisco Beltrão (PR) em setembro de 1983 rumo a Apuí, onde começava a ser implantado o projeto de assentamento Rio Juma. A viagem, com ônibus fretado pelo governo federal, durou 12 dias.
Valeriano, o pai, nasceu também no Sul, no município catarinense de Alto Bela Vista.
"Nos primeiros anos, só lembro de termos recebido algum tipo de auxílio na alimentação e nada mais", declarou Adelar. Segundo ele, o posto de saúde mais próximo ficava a 420 km do local, na cidade de Humaitá, e os problemas de saúde eram frequentes.
"Quem ficava doente tinha de pegar um ônibus que saía apenas uma vez por semana e demorava três dias para chegar à cidade."
Hoje, no assentamento, vivem cerca de 3.000 famílias, de acordo com o Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Apuí. Muito abaixo das 5.329 famílias que o governo federal diz ter assentado em 1999. "Epidemias de malária afastaram muita gente daqui", afirmou Euclides Motter, presidente do sindicato. (EDS e RV)



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