São Paulo, domingo, 29 de setembro de 2002

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DIREITO DE RESPOSTA

Leia abaixo direito de resposta concedido pela Justiça Eleitoral de Mato Grosso do Sul ao governador do Estado, Zeca do PT

"Zeca do PT não está sendo investigado"

"O governador de Mato Grosso do Sul, José Orcírio Miranda dos Santos, Zeca do PT, não está sendo investigado pelo Ministério Público Estadual (MPE) como afirma a Folha de S.Paulo em matéria publicada no Caderno Eleições 2002, edição de domingo. Esse fato ficou claro no próprio texto da reportagem da Folha. Daí a estranheza em relação ao enfoque da matéria, afirmando na manchete que o governador teria elo de ligação com quadrilha de ladrões de carro.
Em trecho extraído do relatório pelo repórter da Folha, fica claro que o documento foi elaborado como peça política, assim como outros tantos dossiês produzidos em época de campanha, com o único objetivo de atingir a imagem do governador do Estado, sintomaticamente quando as pesquisas lhe indicam vitória no primeiro turno. Diz trecho da reportagem: "De acordo com o subprocurador Wagner Gonçalves (...) a situação descrita no relatório "é grave", mas ele considera que o conteúdo "é pouco para envolver o governador"..."
O próprio subprocurador nota o caráter político do suposto relatório. A reportagem destaca: "Gonçalves diz que o documento não é uma representação formal porque foi escrito para ser inicialmente enviado ao presidente do Senado, Ramez Tebet (PMDB)..."
Em nota divulgada nesta segunda-feira, dia 2, o procurador-chefe do Ministério Público Estadual, Sérgio Luiz Morelli, informa que não há nenhuma investigação em torno do governador Zeca do PT (veja íntegra). A diretoria da Ordem dos Advogados do Brasil, Seccional de Mato Grosso do Sul (OAB-MS), também divulgou nota.
O promotor Luiz Alberto Saffraider, citado pela Folha, negou a existência de qualquer investigação que ligue o nome do governador ao chamado Caso DOF. Outros promotores também citados se manifestaram através de nota pública.
O governador Zeca do PT classifica a reportagem de absurda e com nítido objetivo eleitoral. Daí a decisão de, além do direito de resposta, acionar a Justiça para reparação de danos. Questiona ainda por que o jornalista não observou o que preceitua o próprio Manual de Redação da Folha de S.Paulo.
Diz o manual: "O jornalista deve ter especial cuidado com matéria vazada. Muitas vezes, ela pode apenas ter aparência de vazamento e ser um balão de ensaio ou uma forma de plantar uma informação falsa. É recomendável cruzar com pelo menos duas fontes qualquer informação vazada antes de publicá-la".
Para o governador Zeca, a matéria não apenas afronta a sua honra, mas fere, sobretudo, a ética dos profissionais de imprensa, que diz que "o jornalista deve assumir compromisso apenas com a isenção na cobertura dos fatos, a liberdade de expressão, o direito de informar e o acesso do leitor a toda informação ou opinião importante. Deve procurar conhecer todas as versões de um fato e registrá-las com fidelidade. Ele tem responsabilidade moral pelas informações que coleta e transmite, as quais devem ser sempre exatas e comprovadas".
Na matéria veiculada domingo, 1º de setembro, há uma série de equívocos e inverdades. Em carta à Direção de Redação da Folha, o governador lembra que "o dano causado por essa matéria é irreparável", mas acredita que é possível o jornalista e o veículo de comunicação "refletirem que a liberdade de imprensa está a serviço da verdade, da ética e da democracia. E ainda, que episódios como esse sirvam de exemplo para mudar os nossos procedimentos quando se tratar da honra, da história e dignidade de qualquer cidadão".
O governador desafia o jornal, o jornalista autor da matéria e promotores a provarem que há alguma investigação em curso, como induz o título principal "Elo de Zeca com quadrilha é investigado". Que responsabilidade teria um órgão de tamanha importância como a Folha de S.Paulo para imputar um elo ligando o governador do Estado a quadrilheiros, sendo que o próprio texto confirma a atuação enérgica no caso quando diz que "a investigação resultou na condenação de 29 pessoas, das quais 17 são policiais, entre militares, civis e rodoviários federais".
Faltou à matéria dizer que a mesma quadrilha está presa graças à investigação determinada neste governo, cujo governador resgatou a institucionalidade do Departamento de Operações de Fronteira, conhecido no governo dos seus adversários políticos como "grupo de extermínio". Pode-se imaginar algum elo de ligação entre uma quadrilha e aquele que a colocou atrás das grades?
Faltou à matéria dizer que a mesma quadrilha está presa graças à investigação determinada neste governo (veja nota do MPE), que o atual governador resgatou a institucionalidade do Departamento de Operações de Fronteira, conhecido no governo dos seus adversários políticos como "grupo de extermínio". Pode-se imaginar algum elo de ligação entre uma quadrilha e aquele que a colocou atrás das grades? Único a saber da existência do relatório, o repórter em nenhum momento esclarece por que um caso já resolvido no começo deste governo mereça destaque apenas agora em período eleitoral.
Contraditoriamente, ainda é no próprio texto do repórter que se esclarece tão leviana reportagem: "Zeca é candidato à reeleição e, segundo pesquisas, pode ser o único petista a se eleger no primeiro turno..."
A matéria beira o surrealismo ao tentar fazer com que a nomeação do senhor Horácio Pithan para o Tribunal de Justiça seja o elo entre o governador e a quadrilha, quando o mesmo (e o repórter sabe disso, mas maldosamente não esclareceu) foi indicado em lista sêxtupla pela OAB pelos critérios de merecimento e antiguidade. Tal lista foi, depois, reduzida a três nomes pelo próprio Tribunal de Justiça e é protocolar a nomeação pelo chefe do Poder Executivo.
A reportagem da Folha, estranhamente, omite a informação, conhecida pelo repórter, de que o promotor Norton Camatte, um dos incentivadores do "tendencioso" relatório, fora subprocurador geral do Estado no governo de Wilson Martins, grupo político adversário do governador Zeca do PT.
A pouco mais de 30 dias das eleições, os adversários e aliados, inconformados com a transformação e mudança da forma de se fazer política, querem destruir a imagem construída pelo governador e por seu partido, espelhando uma nova conduta política no País.

Poderes e instituições repudiam publicação

Todos os poderes estaduais e instituições como a Ordem dos Advogados do Brasil - Seccional de Mato Grosso do Sul (OAB-MS) sentiram-se agredidos pela matéria da Folha de S.Paulo. "A posição de todos é que a matéria atinge diretamente o Estado. Macula a imagem do Estado, transforma isso aqui como se fosse uma grande gangue de roubo de veículos. A posição de todo mundo é repudiar esse comportamento, essa notícia. Não tem nenhuma vinculação com coisas reais", disse o governador, após reunião com assessores e representantes dos poderes. Nesta segunda-feira, 2 de setembro, o repúdio do Poder Judiciário e do Ministério Público foi exposto em nota oficial.
"Desde o início das investigações relativas ao chamado Caso DOF, o governador, em reunião com o Procurador-Geral de Justiça e os Promotores de Justiça designados para atuar no caso, manifestou o interesse de ver apurado rigorosamente o fato, tendo em vista a participação de policiais civis e militares do Estado", diz o procurador-chefe do Ministério Público Estadual, Sérgio Luiz Morelli.

'MS foi revirado e não encontraram nada'

Classificando de "armação política" a matéria publicada domingo, o governador Zeca do PT disse que não vê outra razão para as supostas denúncias que não seja eleitoral. O governador lembra que seu governo foi "revirado de cabeça pra baixo" e nunca foi encontrada nenhuma irregularidade".
O governador diz que, além do estrago moral, a matéria teve o objetivo principal de comprometer sua campanha à reeleição. A seu ver, a Folha deu aos seus opositores o que eles queriam -material para fazer panfletagem e enganar os eleitores. De qualquer forma, se sente no dever de prestar contas ao Partido dos Trabalhadores e ao País. O governador Zeca do PT disse que o candidato à Presidência Luiz Inácio Lula da Silva e o presidente nacional do partido, Zé Dirceu, se mostraram solidários e também indignados com o conteúdo da matéria publicada pela Folha. "A matéria mancha a imagem do governo por não ser verídica, é uma armação política".
O governador Zeca do PT lamenta que episódios como a publicação pela Folha de S.Paulo de denúncia infundada venham a reforçar um falso estigma sobre Mato Grosso do Sul, de que este é um Estado "corredor e domicílio do narcotráfico".

Presidente da Assembléia Legislativa vê articulação para levar eleição ao 2º turno

O presidente da Assembléia Legislativa de Mato Grosso do Sul, deputado estadual Ary Rigo (PDT), disse que a matéria é fruto de "articulação muito grande, envolvendo meios escusos, para tentar levar a eleição para o segundo turno". Rigo não acredita, contudo, que essa manobra dê certo. "Isso não acontecerá. Quem não conhece o Zeca, o Pithan, o Franklin? Todo mundo sabe que eles nunca se envolveria com ladrões de carros", afirmou, lembrando que os acusados de integrarem a quadrilha de arrastadores estão presos.
Para Rigo, há uma indignação geral contra a matéria divulgada pelo jornal Folha de S.Paulo. "Qualquer cidadão vê isso com completa indignação e sabe que é em época de eleição que começa a ter isso", disse Rigo. "O governo é transparente e o Zeca é pessoa acima de qualquer suspeita", testemunhou. "Alguém vai pagar por essa insanidade", referindo-se à matéria divulgada pela Folha de S.Paulo.

Nota do Ministério Público Estadual

É a seguir a íntegra de nota pública divulgada pela Procuradoria Geral de Justiça do Estado de Mato Grosso do Sul:
O MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE MATO GROSSO DO SUL, por seu Procurador-Geral de Justiça, vem a público esclarecer fatos a respeito da matéria intitulada "Elo de Zeca do PT com quadrilha é investigado", publicada pelo jornal "Folha de S.Paulo", edição de 1º de setembro de 2002, no caderno "Eleições", o que faz nos seguintes termos:
1) Não tramita, no âmbito da Procuradoria Geral de Justiça do Estado de Mato Grosso do Sul, nenhum procedimento investigatório a respeito de suposto envolvimento de Sua Excelência o Governador do Estado, José Orcírio Miranda dos Santos, com os membros da quadrilha que respondem à ação penal por furto, roubo, receptação de veículos e outros delitos, no conhecido "Caso DOF", que resultou na condenação, em primeira instância, de policiais civis e militares;
2) No mês de março de 2002, o Procurador-Geral de Justiça recebeu ofício do 22º Promotor de Justiça da Comarca de Campo Grande, dando conhecimento da remessa de documentos ao Subprocurador-Geral da República, Dr. Wagner Gonçalves, em caráter confidencial, relativos ao chamado "Caso DOF";
3) O Ministério Público Estadual lamenta que o conteúdo desse documento tenha sido divulgado antes de qualquer apreciação formal por parte da Procuradoria Geral da República, noticiando suposto envolvimento do Governador do Estado e de diversas outras autoridades do Estado com o "Caso DOF", colocando em dúvida, sem a necessária comprovação, o funcionamento do sistema de segurança e Justiça do Estado, que constitui um exemplo para o País;
4) Desde o início das investigações relativas ao chamado "Caso DOF", o Governador do Estado de Mato Grosso do Sul, José Orcírio Miranda dos Santos, em reunião com o Procurador-Geral de Justiça e os Promotores de Justiça designados para atuar no caso, manifestou o interesse de ver apurado rigorosamente o fato, tendo em vista a participação de policiais civis e militares do Estado;
5) Os fatos foram apurados em toda a sua extensão pelas polícias civil e militar, com o acompanhamento direto do Grupo de Promotores especialmente designados pela Procuradoria Geral de Justiça, resultando na condenação dos réus em primeira instância;
6) O Governo do Estado tem prestado todo o apoio necessário ao Ministério Público no combate ao crime, tendo, inclusive, firmado convênios de cooperação mútua entre a Secretaria de Estado de Justiça e Segurança Pública e o Ministério Público, colocando policiais civis e militares à disposição para a execução de ações de repressão ao crime organizado;
7) Em razão desse apoio, o Ministério Público deste Estado, em 3 de julho de 2001, criou a Coordenadoria de Segurança e Apoio Técnico Operacional formada por integrantes da Polícia Militar do Estado, que presta serviços exclusivamente ao Ministério Público na segurança pessoal e orientação de todos os Promotores de Justiça, em especial daqueles que integram grupos especiais de investigação.
Campo Grande, 2 de setembro de 2002
SÉRGIO LUIZ MORELLI
Procurador-Geral de Justiça

Nota do Tribunal de Justiça do Estado de Mato Grosso do Sul

É a seguir a íntegra da nota divulgada pelo Tribunal de Justiça de Mato Grosso do Sul:
O Tribunal de Justiça do Estado de Mato Grosso do Sul, no uso de suas atribuições e, cumprindo o dever de informar, tendo em vista notícia veiculada no jornal "Folha de S.Paulo", páginas 8 e 9 do caderno "Eleições" do último domingo (01/09/02), acerca de julgamento realizado por esta Corte, vem esclarecer que a Egrégia Turma Especial de Férias, composta por três ilustres desembargadores, no mês de janeiro de 2002, julgou, entre outros, o pedido de habeas corpus n. 2002.000049-4.0000.00, impetrado em favor do Major PM Marmo Marcelino Vieira de Arruda, concedendo-lhe, por maioria, o direito de apelar em liberdade até o trânsito em julgado da decisão.
A decisão, tomada por maioria, baseou-se nos elementos que os autos contêm, dentro do limite de discernimento e do senso de justiça de cada um dos honrados julgadores que participaram do julgamento, observado o princípio jurídico de dar a cada um o que é seu.
Campo Grande, 02 de setembro de 2002
DESEMBARGADOR JOSÉ AUGUSTO DE SOUZA
Presidente do Tribunal de Justiça do Estado de Mato Grosso do Sul"



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