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São Paulo, segunda-feira, 29 de setembro de 2003

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A começar pelo presidente do banco, nome sugerido por Marta, indicações políticas atingiram todos os escalões

Ex-sindicalistas e apadrinhados ocupam CEF

ANDRÉA MICHAEL
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O loteamento de cargos promovido pela administração petista transformou a CEF (Caixa Econômica Federal) em um verdadeiro "condomínio". Convivem sob o mesmo teto ex-sindicalistas e apadrinhados de políticos da base congressual do governo.
O critério político permeou o preenchimento de todos os escalões, a começar pela presidência da instituição, entregue a Jorge Mattoso. Uma indicação da prefeita de São Paulo, Marta Suplicy (PT), de quem ele era assessor.
Mattoso trouxe João Carlos Garcia. Acomodou-o na vice-presidência de Segmentos e Distribuição. Garcia mantém relações com o mundo sindical. Entre 88 e 91, foi diretor financeiro do Sindicato dos Bancários de São Paulo.
Outro nomeado que tem perfil sindical é Carlos Augusto Borges, vice-presidente de Transferência de Benefícios. Presidia, até fevereiro, a Fenae (Federação Nacional das Associações do Pessoal da Caixa Econômica Federal).
Chama-se Paulo Roberto Paixão Bretas o vice-presidente de Logística da CEF. É professor da Universidade Estadual de Minas Gerais. Ligado ao PT, chegou a Brasília por indicação do deputado Patrus Ananias (PT-MG).
Para comandar a Sudel, superintendência nacional da CEF pela qual passam os programas sociais do governo, convocou-se Mária da Penha Rangel. Foi diretora da Associação dos Gerentes da CEF de Brasília. Hoje, integra o conselho deliberativo da entidade. Antes de ser promovida, era gerente de PAB (Posto de Atendimento Bancário) da CEF no prédio da Justiça do Trabalho.
A Gerência Nacional de Negociações Trabalhistas e Previdência Privada foi entregue a Luiz Octávio Pereira Cuiabano. Também é sindicalista. Dirigiu o Sindicato dos Bancários de Belo Horizonte e a Associação dos Funcionários da Caixa Econômica de Minas.
O loteamento de cargos alcançou as superintendências da CEF nos Estados. São chamadas de ENs (Escritórios de Negócios). Houve troca de comando em pelo menos 40 das 76 superintendências. A maior parte das mudanças ocorreu em julho. Só em São Paulo, há 18 Escritórios de Negócios. Na dança de cadeiras, trocaram-se 12 superintendentes paulistas.
Há casos de superintendentes da CEF que foram mantidos nos postos, mas amargaram transferências para outros Escritórios de Negócios. A Folha tentou contabilizar os remanejamentos. Mas a CEF negou-se a fornecer a lista de modificações, sob o seguinte argumento: "Resguardo da incolumidade pessoal e da segurança das referidas pessoas", que seriam alvos potenciais de sequestros.
Em Minas Gerais, um dos nomeados é Dimas Wagner Lamounier. Filiado ao PT mineiro, atuava, na virada do governo, como consultor da área de loterias da CEF. Uma função que, pelas normas da instituição, não o credenciava para o cargo de superintendente. Por isso, antes de assumir as novas funções, foi nomeado gerente de agência em São Paulo.
Em Santa Catarina, Vânio dos Santos (PT-SC), suplente de deputado estadual, apadrinhou a renovação de dois escritórios da CEF no Estado. Um dos indicados do suplente Santos, Pedro Daniel Rudolfo, assumiu o cobiçado escritório de Florianópolis. Antes, era chefiado por Carlos Wengerkievicz, cuja administração chegou a ocupar o primeiro lugar no ranking de cumprimento de metas estabelecidas pela CEF. Virou gerente da agência da CEF no prédio da Justiça Federal de Joinville.

Fisiologismo
Distribuíram-se Escritórios de Negócios da CEF também entre parlamentares governistas. No Rio Grande do Sul, o PTB, a pedido da deputada Kelly Moraes, foi contemplado com a superintendência de Santa Maria, entregue a José Ari Prates. Prates não se manteve no cargo. Perdeu-o para o antecessor. Motivo: a deputada que o apadrinhou votou contra a reforma da Previdência.
Na Bahia, o líder do PT na Câmara, Nelson Pellegrino, quase conseguiu arrematar dois dos três cargos existentes. Apadrinhou o superintendente do escritório de Feira de Santana, Aristóteles Menezes. Só não teve sucesso na superintendência de Salvador porque seu indicado, Paulo Mendes, anunciou antes que assumiria a função. A pressa lhe valeu o veto do Sindicato dos Bancários da Bahia, comandado pelo PC do B.
Do conflito, surgiu a nomeação de José Raimundo Cordeiro Júnior, irmão do ex-deputado Marcelo Cordeiro. Foi o segundo na hierarquia da Secretaria Geral da Presidência da República na gestão Fernando Henrique Cardoso.
O único Escritório de Negócios de Mato Grosso ficou para o deputado Pedro Henry, líder do PP, que, na Câmara, contabilizou os 50 votos de sua bancada a favor do governo nas reformas. Henry apadrinhou Edy Veggi Soares.
O deputado Henry teve melhor sorte que a senadora petista Serys Slhessarenko (MT). Os dois disputavam o mesmo escritório mato-grossense da CEF.



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