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ELEIÇÕES 2006 / JUSTIÇA ELEITORAL
TSE paga R$ 98 mi por operação de urnas
Valor é confiado a duas empresas que pertencem à mesma família para suporte técnico e transmissão dos votos apurados
Especialistas consultados pela Folha criticam licitação
que escolheu prestadoras de serviço e subida de mais de 100% no preço desde 2004
FREDERICO VASCONCELOS
DA REPORTAGEM LOCAL
O TSE (Tribunal Superior
Eleitoral) confiou a duas empresas privadas controladas
por uma mesma família, a Probank e a Via Telecom, o suporte
técnico na operação das urnas
eletrônicas e a transmissão dos
votos apurados nas eleições.
Com ambas, gastará cerca de
R$ 98 milhões neste ano.
As duas firmas são dirigidas
por Paulo Cézar Martins Júnior, empresário que explora a
locação de mão-de-obra.
Especialistas consultados
pela Folha fazem restrições a
alguns critérios adotados nas
licitações e nos contratos. Os
documentos, fornecidos pelo
TSE, foram submetidos à análise de um juiz e dois procuradores eleitorais, um advogado e
um especialista em licitações
públicas que pediram para ter
seus nomes preservados.
No pleito de 2004, a Probank
foi contratada pelo TSE por R$
43 milhões para operar apenas
durante 120 dias. Nestas eleições, o valor do contrato, por
prazo de 12 meses prorrogáveis
e atualizado com quatro aditivos, chega a R$ 94 milhões.
Os especialistas consultados
lembram que o número de urnas aumentou pouco (407 mil,
em 2004, e 433 mil neste ano),
não serão usadas novas tecnologias e não houve inflação.
A Via Telecom receberá R$ 3
milhões do TSE para transmitir, via satélite, os dados apurados nas urnas operadas pela
Probank. E mais R$ 870 mil para divulgá-los na internet.
Dos 12 mil profissionais de
informática contratados temporariamente pela Probank para treinar pessoal e preparar as
urnas, 1.174 deverão prestar
serviços contínuos como "técnicos de urna", mesmo depois
de concluída a apuração. O TSE
diz que eles substituirão serviços de manutenção da Procomp, a fabricante das urnas.
"Para a Justiça Eleitoral, é
muito mais salutar outra empresa diagnosticar o defeito na
urna e mandar para a Procomp
consertar. Isso vai trazer uma
economia de 20% a 30%", afirma Athayde Fontoura Filho,
diretor-geral do TSE.
Contratada para prestar serviços durante um ano, a Probank selecionou pela internet
técnicos em informática em todo o país, prevendo trabalho
temporário entre agosto e outubro. No primeiro aditivo, o
TSE adiou "para oportuna definição" a data da contratação
dos "técnicos de urna" para
serviços contínuos.
A Probank se destacou nos
últimos anos em serviços de retaguarda bancária a instituições financeiras e de apoio em
informática. Em 2005, recebeu
o Troféu Info, como a empresa
que mais cresceu no segmento.
A empresa mantém contrato
de R$ 89,4 mil com o TSE para
"atendimento em consultório
dentário". Em 2004, foi contratada pela Caixa Econômica Federal por R$ 15,6 milhões para
fornecer copeiros, recepcionistas, garagistas, ascensoristas,
telefonistas e operadores de
xerox em São Paulo.
Naquele ano, a Probank desbancou a Embratel na licitação
do TSE. Mesmo tendo oferecido um preço R$ 4 milhões inferior ao da Probank, e com a experiência de cinco eleições anteriores, a Embratel foi inabilitada. Presente em todos os Estados, não conseguiu comprovar a prestação de serviços de
informática com equipe de
3.000 profissionais "trabalhando simultaneamente".
Segundo especialistas, essa
precondição feriria a Lei de Licitações, que veda exigências
que inibam a participação na
disputa. O diretor do TSE diz
que a Embratel não comprovou a qualificação exigida no
edital, "tumultuou a licitação"
e não impugnou o processo.
Menos de uma semana depois de assinado o contrato, foi
firmado um primeiro aditivo,
acrescentando serviços e elevando o preço inicial, de R$
92,1 milhões para R$ 93,4 milhões. Os experts ouvidos pela
Folha entendem que a alteração, em poucos dias, poderia
comprometer a competitividade da licitação. O TSE sustenta
que o aumento também valeria
para a outra concorrente.
O preço alterado superou a
oferta da CTIS Informática no
pregão em que disputou com a
Probank. A CTIS não impugnou a licitação. Dias antes, havia ganho contrato para processar e imprimir o cadastro eleitoral. A empresa mantém quatro contratos com o TSE, no total de R$ 45,8 milhões.
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