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Argentina adia anúncio de pacote
enquanto tenta renegociar dívida
DA REDAÇÃO
O governo da Argentina decidiu adiar o anúncio do novo pacote econômico previsto para ser
feito ontem. O argumento apresentado pelo ministro da Economia, Domingo Cavallo, é que o
eventual sucesso do novo programa depende da reestruturação da
dívida pública interna e externa.
Em entrevista ao diário ""La Nación", Cavallo afirmou que a reestruturação baixaria as taxas de juros e, em consequência, os custos
da dívida das Províncias e Nação.
Em tese, liberaria recursos para
serem aplicados em uma política
de reativação da economia. A
proposta incluiria a renegociação
total da dívida pública argentina,
estimada em US$ 132 bilhões.
O porta-voz do governo, Juan
Pablo Baylac, informou que antes
de anunciar o pacote o presidente
Fernando de la Rúa fará consultas
políticas para explicá-lo. De acordo com Nicolás Gallo, secretário-geral da Presidência, o plano terá
cinco capítulos, com medidas para estimular o consumo interno,
refinanciamento das dívidas de
empresários e redução do custo
político -com reestruturação de
órgãos e ministérios.
O anúncio do pacote vem sendo
adiado desde antes das eleições de
14 de outubro, em que o presidente De la Rúa perdeu o controle da
Câmara dos Deputados -além
de ver mantida sua posição de minoria no Senado. Desde então, o
governo já articulava uma renegociação de parte da dívida com
os fundos de pensão locais e também a que as Províncias mantêm
junto aos bancos. Como mediador, era acuado pelos dois lados.
Os bancos não aceitavam as taxas
de juros e os prazos para os novos
títulos pleiteados pelas Províncias. E os governadores tampouco
se mostraram dispostos a perder
repasses da União -imposição
do governo para ajudá-las nas negociações com bancos e fundos.
Cavallo admitiu que a reestruturação total da dívida requer o
apoio de organismos internacionais e dos membros do G-7 (grupo dos países mais industrializados do mundo). Segundo o ministro, ""houve avanços [na reestruturação", mas é preciso algumas consultas e estar seguro de
que aquilo que o presidente anuncie possa ser imediatamente colocado em prática".
O ministro argentino afirmou
que há uma semana recebe a assessoria do economista Jacob
Frenkel, ex-presidente do Banco
Central de Israel e atualmente
executivo do banco de investimentos Merrill Lynch. Frenkel seria o responsável por finalizar o
formato do programa. ""Mas necessitamos contar com apoios para baixar as taxas", disse Cavallo.
A engenharia financeira seria armada de forma a melhorar a probabilidade de pagamento da dívida -ou seja, convencer os atuais
detentores de títulos argentinos a
trocá-los por outros, mesmo com
taxas mais baixas, mas que não
incorporariam um risco tão grande de "default" (moratória).
Segundo o diário "Clarín", a
reestruturação da dívida permitiria ao governo economia entre
US$ 3 bilhões e US$ 4 bilhões
anualmente. Os papéis teriam
uma taxa de juros de 7% ao ano
-contra média de 13% dos
atuais. O governo colocaria a arrecadação de tributos como garantia -medida que depende de
aprovação do Congresso e que foi
publicamente rechaçada por parlamentares quando aventada anteriormente.
O mesmo ""Clarín" sustenta que
o governo aguarda do FMI um sinal de que vai antecipar de dezembro para novembro o desembolso de US$ 1,2 bilhão, previstos
no acordo assinado há quase dois
meses. Seria usado para o pagamentos das dívidas deste ano.
A depender dos resultados colhidos por Cavallo na última semana, a Argentina terá dificuldades de obter apoio externo para
seu plano de reestruturação da dívida. Na segunda passada, às escondidas, viajou para os EUA onde tentou manter negociações
com o FMI e o Tesouro americano. Não foi recebido em nenhum
dos órgãos. Oficialmente, os únicos encontro que manteve foram
com a direção do Fed de Nova
York e com o banqueiro David
Mulford, que intermediou a troca
de títulos de US$ 29,7 bilhões, em
junho.
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