São Paulo, segunda-feira, 29 de outubro de 2001

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Argentina adia anúncio de pacote enquanto tenta renegociar dívida

DA REDAÇÃO

O governo da Argentina decidiu adiar o anúncio do novo pacote econômico previsto para ser feito ontem. O argumento apresentado pelo ministro da Economia, Domingo Cavallo, é que o eventual sucesso do novo programa depende da reestruturação da dívida pública interna e externa.
Em entrevista ao diário ""La Nación", Cavallo afirmou que a reestruturação baixaria as taxas de juros e, em consequência, os custos da dívida das Províncias e Nação. Em tese, liberaria recursos para serem aplicados em uma política de reativação da economia. A proposta incluiria a renegociação total da dívida pública argentina, estimada em US$ 132 bilhões.
O porta-voz do governo, Juan Pablo Baylac, informou que antes de anunciar o pacote o presidente Fernando de la Rúa fará consultas políticas para explicá-lo. De acordo com Nicolás Gallo, secretário-geral da Presidência, o plano terá cinco capítulos, com medidas para estimular o consumo interno, refinanciamento das dívidas de empresários e redução do custo político -com reestruturação de órgãos e ministérios.
O anúncio do pacote vem sendo adiado desde antes das eleições de 14 de outubro, em que o presidente De la Rúa perdeu o controle da Câmara dos Deputados -além de ver mantida sua posição de minoria no Senado. Desde então, o governo já articulava uma renegociação de parte da dívida com os fundos de pensão locais e também a que as Províncias mantêm junto aos bancos. Como mediador, era acuado pelos dois lados. Os bancos não aceitavam as taxas de juros e os prazos para os novos títulos pleiteados pelas Províncias. E os governadores tampouco se mostraram dispostos a perder repasses da União -imposição do governo para ajudá-las nas negociações com bancos e fundos.
Cavallo admitiu que a reestruturação total da dívida requer o apoio de organismos internacionais e dos membros do G-7 (grupo dos países mais industrializados do mundo). Segundo o ministro, ""houve avanços [na reestruturação", mas é preciso algumas consultas e estar seguro de que aquilo que o presidente anuncie possa ser imediatamente colocado em prática".
O ministro argentino afirmou que há uma semana recebe a assessoria do economista Jacob Frenkel, ex-presidente do Banco Central de Israel e atualmente executivo do banco de investimentos Merrill Lynch. Frenkel seria o responsável por finalizar o formato do programa. ""Mas necessitamos contar com apoios para baixar as taxas", disse Cavallo. A engenharia financeira seria armada de forma a melhorar a probabilidade de pagamento da dívida -ou seja, convencer os atuais detentores de títulos argentinos a trocá-los por outros, mesmo com taxas mais baixas, mas que não incorporariam um risco tão grande de "default" (moratória).
Segundo o diário "Clarín", a reestruturação da dívida permitiria ao governo economia entre US$ 3 bilhões e US$ 4 bilhões anualmente. Os papéis teriam uma taxa de juros de 7% ao ano -contra média de 13% dos atuais. O governo colocaria a arrecadação de tributos como garantia -medida que depende de aprovação do Congresso e que foi publicamente rechaçada por parlamentares quando aventada anteriormente.
O mesmo ""Clarín" sustenta que o governo aguarda do FMI um sinal de que vai antecipar de dezembro para novembro o desembolso de US$ 1,2 bilhão, previstos no acordo assinado há quase dois meses. Seria usado para o pagamentos das dívidas deste ano.
A depender dos resultados colhidos por Cavallo na última semana, a Argentina terá dificuldades de obter apoio externo para seu plano de reestruturação da dívida. Na segunda passada, às escondidas, viajou para os EUA onde tentou manter negociações com o FMI e o Tesouro americano. Não foi recebido em nenhum dos órgãos. Oficialmente, os únicos encontro que manteve foram com a direção do Fed de Nova York e com o banqueiro David Mulford, que intermediou a troca de títulos de US$ 29,7 bilhões, em junho.


Texto Anterior: De la Rúa diz que Mercosul é prioridade
Próximo Texto: Viagem: Para Itamaraty, FHC entrou na "intimidade do Primeiro Mundo"
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.