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VIAGEM
Presidente janta com Blair e fala na assembléia francesa
Para Itamaraty, FHC entrou na "intimidade do Primeiro Mundo"
DO ENVIADO ESPECIAL A MADRI
Mal o presidente Fernando
Henrique Cardoso levantou-se da
mesa do brunch no refinado Hotel Ritz de Madri, a Folha ouviu
do Itamaraty a avaliação de que
um presidente brasileiro conseguira afinal "entrar para a intimidade do Primeiro Mundo".
Era uma alusão à conjugação
dos seguintes fatores, todos presentes nas três etapas de sua viagem à Europa:
1) Ontem, FHC jantou com o
primeiro-ministro britânico,
Tony Blair, na casa de campo oficial de Chequers. Só ele e respectivas mulheres, Ruth Cardoso e
Cherie Blair. Além do ex-presidente americano Bill Clinton, que
passou para um drinque, conforme FHC contou antes de embarcar. São de fato poucos os governantes que Blair leva para a intimidade da casa de campo. E FHC
ainda ficou para dormir.
2) Da mesma forma, são poucos
os governantes convidados para
fazer um discurso na Assembléia
Nacional da França, como ocorrerá amanhã com FHC, que fala a
partir das 15h (12h de Brasília).
3) Na véspera, FHC janta com o
primeiro-ministro francês, o socialista Lionel Jospin, na sua casa,
o Hôtel de Matignon. Também é
um ato de alguma maneira íntimo, para poucos convidados.
Íntimo do primeiro mundo, como quer o Itamaraty, ou não,
FHC aproveitará a viagem à Europa e a audiência que tem entre os
governantes para exercitar o tradicional equilibrismo da diplomacia brasileira entre Europa e
EUA, os dois grandes pólos de poder no planeta. Equilibrismo em
políticas concretas e também nas
negociações comerciais.
Exemplo do primeiro ponto: a
visita à França servirá para que o
ministro designado da Justiça,
Aloysio Nunes Ferreira Filho, se
informe dos detalhes do projeto
de reorganização da Polícia Federal na região amazônica, financiado pela França e outros países europeus. São quase US$ 500 milhões, que formam um contraponto ao Sivam (Sistema de Vigilância da Amazônia), tocado pela
norte-americana Raytheon.
Exemplo na área comercial:
FHC criticará, na França, mas
com todo o cuidado, o protecionismo agrícola europeu, do qual
os franceses são o maior baluarte.
A liberalização do setor comercial é a principal reivindicação do
Mercosul nas negociações com a
União Européia para formar uma
zona de livre comércio que, de
novo, será o perfeito contraponto
para a Alca, da qual os EUA são o
principal inspirador. O discurso
de FHC na assembléia servirá para enfatizar o aspecto político das
negociações entre a Europa e o
Mercosul, ao contrário do que
ocorre com a Alca, que não vai
além do âmbito comercial.
O presidente deve reafirmar o
que já disse na semana passada na
OAB, ou seja, que o acordo com a
UE parece menos agressivo para
muitos setores brasileiros do que
o entendimento com os EUA em
torno da Alca. O brunch no Ritz, a
59,80 euros per capita (US$ 54),
foi o último ato da visita de FHC a
Madri, que embarcou para o Reino Unido.
(CLÓVIS ROSSI)
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