São Paulo, segunda-feira, 29 de outubro de 2001

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VIAGEM

Presidente janta com Blair e fala na assembléia francesa

Para Itamaraty, FHC entrou na "intimidade do Primeiro Mundo"

DO ENVIADO ESPECIAL A MADRI

Mal o presidente Fernando Henrique Cardoso levantou-se da mesa do brunch no refinado Hotel Ritz de Madri, a Folha ouviu do Itamaraty a avaliação de que um presidente brasileiro conseguira afinal "entrar para a intimidade do Primeiro Mundo".
Era uma alusão à conjugação dos seguintes fatores, todos presentes nas três etapas de sua viagem à Europa:
1) Ontem, FHC jantou com o primeiro-ministro britânico, Tony Blair, na casa de campo oficial de Chequers. Só ele e respectivas mulheres, Ruth Cardoso e Cherie Blair. Além do ex-presidente americano Bill Clinton, que passou para um drinque, conforme FHC contou antes de embarcar. São de fato poucos os governantes que Blair leva para a intimidade da casa de campo. E FHC ainda ficou para dormir.
2) Da mesma forma, são poucos os governantes convidados para fazer um discurso na Assembléia Nacional da França, como ocorrerá amanhã com FHC, que fala a partir das 15h (12h de Brasília).
3) Na véspera, FHC janta com o primeiro-ministro francês, o socialista Lionel Jospin, na sua casa, o Hôtel de Matignon. Também é um ato de alguma maneira íntimo, para poucos convidados.
Íntimo do primeiro mundo, como quer o Itamaraty, ou não, FHC aproveitará a viagem à Europa e a audiência que tem entre os governantes para exercitar o tradicional equilibrismo da diplomacia brasileira entre Europa e EUA, os dois grandes pólos de poder no planeta. Equilibrismo em políticas concretas e também nas negociações comerciais.
Exemplo do primeiro ponto: a visita à França servirá para que o ministro designado da Justiça, Aloysio Nunes Ferreira Filho, se informe dos detalhes do projeto de reorganização da Polícia Federal na região amazônica, financiado pela França e outros países europeus. São quase US$ 500 milhões, que formam um contraponto ao Sivam (Sistema de Vigilância da Amazônia), tocado pela norte-americana Raytheon.
Exemplo na área comercial: FHC criticará, na França, mas com todo o cuidado, o protecionismo agrícola europeu, do qual os franceses são o maior baluarte.
A liberalização do setor comercial é a principal reivindicação do Mercosul nas negociações com a União Européia para formar uma zona de livre comércio que, de novo, será o perfeito contraponto para a Alca, da qual os EUA são o principal inspirador. O discurso de FHC na assembléia servirá para enfatizar o aspecto político das negociações entre a Europa e o Mercosul, ao contrário do que ocorre com a Alca, que não vai além do âmbito comercial.
O presidente deve reafirmar o que já disse na semana passada na OAB, ou seja, que o acordo com a UE parece menos agressivo para muitos setores brasileiros do que o entendimento com os EUA em torno da Alca. O brunch no Ritz, a 59,80 euros per capita (US$ 54), foi o último ato da visita de FHC a Madri, que embarcou para o Reino Unido. (CLÓVIS ROSSI)



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