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TRANSIÇÃO
Presidente afirma que sente emoção por passar faixa presidencial a um líder operário e que petista continuará políticas que iniciou
Governo Lula será "de continuidade", diz FHC
WILSON SILVEIRA
LEILA SUWWAN
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O presidente Fernando Henrique Cardoso afirmou ontem, ao
analisar o resultado da eleição
presidencial, que sente "emoção"
em passar a faixa presidencial para um líder operário e destacou,
em diversas oportunidades, que o
governo de Luiz Inácio Lula da
Silva será uma "continuidade"
das políticas que iniciou.
Essa continuidade, disse FHC,
se dará na política de combate à
fome e à miséria, no cumprimento dos contratos e nos compromissos que o Brasil tem tanto no
plano internacional quanto em
relação à questão financeira.
Logo no início de sua fala, o presidente disse que o primeiro discurso de Lula indica "um caminho de continuidade que é necessário no Brasil". Mais à frente,
afirmou que seu sucessor "prometeu a continuidade nessa mesma linha de responsabilidade social" e, quase ao final, destacou
que Lula reafirmou "a continuidade" dos compromissos do país.
FHC afirmou que há um "significado especial" em passar a faixa
presidencial para um operário.
Disse que espera "com ansiedade" esse momento e que se orgulha de o país ter eleito um metalúrgico. "O presidente eleito, pessoa que eu conheço há 30 anos, é
um líder metalúrgico. Passou sua
vida como líder metalúrgico, veio
de origem humilde. Isso nos orgulha. Mostra que há mobilidade
social no Brasil e que é uma democracia plena, que é uma democracia que não aceita restrições de
quaisquer naturezas, que não tem
preconceitos de classe."
O presidente fez um rápido pronunciamento no Palácio do Planalto, seguido de entrevista, para
analisar o resultado da eleição.
Para ele, o atual momento não
comporta um pacto social, como
vem sendo proposto pelo PT.
"Eu falo como sociólogo: a situação do pacto social é uma situação na qual existe uma quebra
de institucionalidade ou quando
há uma crise de tal natureza que
você tem de colocar entre parênteses as contradições da sociedade, os interesses que são conflitivos. Não é o caso do Brasil."
Segundo o presidente, essa expressão (pacto) é mais usada politicamente como sendo uma boa
vontade para o diálogo com o
conjunto da sociedade. "Nesse
sentido é correto, mas não corresponde propriamente ao que se
pode entender por pacto social."
FHC disse que o resultado da
eleição demonstrou a maturidade
do eleitorado. "Os partidos saíram fortalecidos, houve uma dispersão de votos. O povo demonstrou que ele escolhe livremente e
que ele na verdade é capaz de discernir segundo seus interesses."
Sobre o encontro de hoje com
Lula, FHC disse que vai conversar
amplamente sobre várias áreas. A
que mais o preocupa, disse ele, é a
segurança pública. Segundo ele,
com as turbulências econômicas
o governo já se acostumou.
FHC recusou pedido de uma repórter de que fizesse uma autocrítica, tendo em vista uma suposta
derrota do governo na eleição. "O
Planalto não entrou na luta. Uma
das virtudes da democracia é que
o governo não entra na briga. O
Palácio do Planalto não fez nada a
favor de A, de B ou de C. A sua
pergunta está errada pela base, na
suposição de que houve uma derrota do Planalto. Não houve."
O presidente reafirmou que fará
o que estiver a seu alcance para
que a transição seja a mais democrática possível. Disse por exemplo que pode encaminhar com
antecedência a diretoria do Banco
Central (que depende da aprovação do Senado) do próximo governo e mesmo fazer alguma nomeação solicitada por Lula.
A transição de governo começa
hoje com um encontro às 11h no
Palácio do Planalto entre FHC e
Lula, no qual o petista receberá
um "kit governo" com informações sobre a estrutura e as atribuições de todos os órgãos do Executivo, resumos dos principais documentos da transição e as senhas
de acesso aos dados da era FHC.
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