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NO AR
Reavaliação
NELSON DE SÁ
EDITOR DA ILUSTRADA
Vitória do PSDB, bradaram manchetes de telejornal e algumas comentaristas. A
desculpa foi que os tucanos levaram sete Estados.
Antes tinham sete também,
mas "cresceu a importância",
disse Geraldo Alckmin. Pode ser,
mas cantar vitória do PSDB não
passa de vício dos oito anos de
dominação tucana.
Afinal, o que diferencia o poder do presidente do poder de sete governadores?
Em primeiro lugar, o presidente eleito dá entrevista ao vivo ao
Jornal Nacional, que manda seu
âncora a São Paulo. O presidente eleito dá até o "boa noite" do
JN no lugar de William Bonner,
como fez Lula.
Já um governador não vai
além do telejornal local, como
fez Alckmin.
Por outro lado, o presidente é
eleito e, coincidência, no dia seguinte a Globopar "anuncia
reavaliação da sua estrutura de
capital".
Uma "reavaliação" que só vai
terminar depois de empossado o
novo presidente.
O que diferenciou a entrevista
de Lula ao JN da entrevista de
Lula ao Fantástico, no domingo,
foi que a Globo pelo menos se
conteve.
Fez o petista ver e comentar
cenas editadas, mas não eram
sentimentais. Eram patrióticas
ou de campanha.
Mas fez novamente o petista
entrar no palco, cumprimentar
Bonner; depois, no final, até
abraçar Bonner.
Enfim, foi uma simbiose entre
o presidente eleito e o oligopólio,
mais uma vez, mas não chegou
a ser uma obscenidade. Foram
mantidas as aparências.
Lula chega ao poder, mas sob
controle. Dá entrevistas só à
Globo, genéricas, e passa as
mensagens mais específicas em
pronunciamentos escritos ou
anotados.
No pronunciamento de domingo, afirmou que vai presidir
para o Brasil, não para o PT e
seus aliados. No de ontem,
apontou, como já dizia José Dirceu na noite da eleição, que seu
governo deverá começar pelo
"pé esquerdo":
- Meu primeiro ano terá o selo do combate à fome.
De resto, ele vai cumprir contratos, incentivar o mercado de
capitais, encaminhar projetos
de reforma tributária e outras
para o Congresso.
Mas vai começar pelo combate
à fome. Será o "selo", sua marca
no ano. Para deixar alguma, por
menor que pareça, que não seja
a da mesmice.
Boris Casoy disse que FHC encaminhou uma transição em
que, derrotado, parece vitorioso.
O presidente também vê assim.
Até sai dizendo:
- Há um significado especial
em passar para um líder operário. Isso, a mim, pessoalmente,
me dá emoção. Espero com ansiedade o momento em que o
mundo vai ver a faixa transmitida a um operário.
Mas FHC não passou meses
falando do despreparo de Lula?
- Estou muito feliz de ter podido presidir o Brasil num momento em que realiza essas eleições que têm outro significado.
O presidente eleito veio de origem humilde. Isso nos deixa orgulhosos.
Mas o candidato de FHC não
era José Serra?
- O próprio candidato declarou que não era candidato do
governo.
Mais um pouco e ele diria que
votou em Lula.
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