São Paulo, terça-feira, 29 de outubro de 2002

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DIPLOMACIA

"Com base no que sei sobre o Lula, creio que eles [brasileiros] ficarão bem", afirma secretário do Tesouro dos EUA

Lula deve mostrar que não é louco, diz O'Neill

DA REDAÇÃO

O secretário do Tesouro dos EUA, Paul O'Neill, afirmou ontem que o mercado observaria cautelosamente os primeiros discursos do presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva. Ele disse acreditar que as palavras de Lula "devem assegurar a eles [ao mercado] que não é um louco".
O'Neill tentou apresentar uma visão otimista sobre o futuro governo brasileiro. "Estou feliz que a incerteza tenha terminado", disse na câmara de comércio de Greenville, na Carolina do Sul (sudeste dos Estados Unidos). "Com base no que sei sobre o Lula, creio que eles [os brasileiros] ficarão bem. Acho que seguirão as políticas implementadas por [Fernando Henrique] Cardoso. É importante que façam isso. Eles são peça-chave para a América Latina."
Michele Davis, porta-voz do Tesouro americano, disse que "temos todas as razões para acreditar que o novo governo cumprirá com seu compromisso de manter as políticas econômicas da administração anterior".
Entre as políticas do atual governo tucano que os EUA gostariam de ver mantidas durante a gestão Lula estão medidas de responsabilidade fiscal e a manutenção dos termos de um acordo de empréstimo com o FMI (Fundo Monetário Internacional) que prevê a manutenção de um superávit primário de 3,75% do PIB (Produto Interno Bruto) em 2003.
Em gestos para acalmar o mercado internacional e conter a alta do dólar durante a campanha eleitoral, Lula e a sua equipe publicaram uma "carta ao povo brasileiro" em que se comprometem a honrar os contratos do país.
O então candidato petista também participou -assim como os outros candidatos- de reunião com o presidente FHC em Brasília, na qual assumiu o compromisso de respeitar aquilo que o atual governo acertou com o FMI.

Passado polêmico
O secretário O'Neill, que em agosto esteve no Brasil, já causou polêmica ao dizer, no ano passado, que os juros brasileiros são altos por causa da corrupção.
Mais recentemente, disse que a Argentina e o Brasil precisavam dar provas de que o dinheiro que recebem em assistência de órgãos financeiros como o FMI não acabem em contas na Suíça.
Essas declarações foram motivo de mal-estar nas relações entre o governo brasileiro e Washington. Antes de vir ao Brasil, e durante a sua visita, O'Neill corrigiu o tom de seu discurso para evitar uma crise diplomática, passando a elogiar o desempenho da economia brasileira.
Além do Tesouro americano, outros setores importantes do governo dos EUA se manifestaram ontem sobre a vitória de Lula na eleição de domingo. O presidente George W. Bush telefonou a Lula para congratulá-lo.
Comunicado do Departamento de Estado americano afirmou: "Esperamos nos encontrar com a nova liderança do Brasil na primeira oportunidade possível e trabalhar com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva na criação de um hemisfério próspero e democrático com base em valores compartilhados e respeito mútuo".
O texto continua: "Os EUA e o Brasil possuem muitas áreas de interesse comum e estamos ansiosos para construir uma forte parceria com o presidente eleito e a sua administração".


Com agências internacionais


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