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FUTURO
Tucano deve fazer "oposição profissional" ao governo Lula, cobrando propostas
Serra pretende criar centro de estudo
RAYMUNDO COSTA
EM SÃO PAULO
Entre as opções imediatas de José Serra (PSDB) está a criação de
um instituto, uma espécie de organização não-governamental
mais ampla que o Instituto da Cidadania, criada por Luiz Inácio
Lula da Silva (PT), e mais política
que acadêmica como é o Cebrap
(Centro Brasileiro de Análise e
Planejamento).
O Cebrap foi criado em 1969 por
um grupo de professores universitários. Há 20 anos edita a revista
"Novos Estudos". Um de seus
principais integrantes foi o presidente Fernando Henrique Cardoso. Serra também colaborava.
O candidato do PSDB passou o
dia seguinte à eleição em casa,
descansando. Pensava em viajar,
mas disse a interlocutores que
ainda não havia decidido para onde ir. Vai avaliar a campanha, digerir pequenas e grandes traições
e só depois volta a falar de política.
Antes da eleição de domingo,
Serra disse que pretendia voltar a
dar aulas na Unicamp, universidade da qual é professor licenciado, caso fosse derrotado. É pouco
provável que isso ocorra.
No domingo, ele retardou ao
máximo o telefonema dado a Lula, reconhecendo a vitória do adversário. Não por acreditar que tivesse chance, mas para saber o tamanho exato com que sairia das
urnas. As pesquisas feitas pelo
cientista político Antônio Lavareda indicavam que ele poderia ter
até 35% dos votos. Chegou a 38%.
Isso o encorajou a sinalizar que
vai cobrar o cumprimento das
"promessas e compromissos de
campanha que Lula assumiu".
Com 33 milhões de votos, avalia
que entrou desconhecido na eleição e se tornou um nome nacional, o único do PSDB depois de
Fernando Henrique Cardoso. Isso o credenciaria a exercer o papel
de oposição ao governo do PT.
A idéia do tucano não é fazer
oposição ideológica a Lula, pela
direita, função que julga reservada ao PFL, mas de cobrança em
relação às propostas de governo.
Segundo um interlocutor frequente, uma oposição profissional, coerente com sua biografia.
Um grupo no PSDB pensa em
lançar Serra para a presidência da
sigla, que será renovada em maio.
Mas na cúpula da campanha do
candidato o projeto é considerado prematuro. É preciso antes
avaliar a correlação de forças no
tucanato depois da eleição.
O primeiro teste ocorrerá na
eleição dos novos líderes da sigla
no Congresso, em março de 2003.
O grupo paulista não desistiu de
manter o controle do partido.
Seus trunfos são a reeleição de
Geraldo Alckmin (SP) e os 33 milhões de votos obtidos por Serra.
Mas nomes como Aécio Neves
(MG) e Tasso Jereissati (CE), que
venceram em seus Estados, saíram fortalecidos da eleição.
Sexta-feira passada, Aécio ligou
para José Aníbal (SP), presidente
da sigla. Para dizer que não estava
compondo com Tasso e Ciro Gomes (PPS), convidado a voltar ao
ninho, uma frente antipaulista.
Os projetos do instituto e da
presidência do PSDB não são excludentes. O instituto permitiria a
Serra uma ação multipartidária,
reunindo segmentos dos partidos
que se declaram social-democratas e até de parcela do PMDB.
Serra até agora disse apenas que
pretendia voltar a dar aulas após
deixar o Senado. O que ninguém
em seu grupo e no partido acredita. Ele não dá aulas há muitos
anos, teria de se reciclar e iria encontrar na universidade uma geração bem diferente de sua época.
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