São Paulo, terça-feira, 29 de outubro de 2002

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Tucano quer adiar renegociação da dívida

LILIAN CHRISTOFOLETTI
DA REPORTAGEM LOCAL

Em sua primeira entrevista à imprensa, menos de 24 horas depois de ser reeleito governador de São Paulo, Geraldo Alckmin (PSDB) disse discordar do posicionamento do colega de partido e novo governador de Minas, Aécio Neves, que quer discutir com Luiz Inácio Lula da Silva (PT) a renegociação da dívida estadual.
"Lógico que recuperar mais 5% da corrente líquida [mediante a renegociação da dívida de São Paulo] cairia do céu, mas não é o momento oportuno. Isso causaria um período de turbulência no país", disse Alckmin.
Aécio quer a aprovação de um projeto do senador José Alencar (PL), vice de Lula, que reduz de 13% para 5% a fatia de pagamento da dívida do Estado com a União.
A discordância é entre dois dos principais nomes que estão em evidência no partido. Aécio foi eleito no primeiro turno e está cotado para disputar a Presidência em 2006. Alckmin deixou de ser o substituto de Mário Covas, morto em 2001, para assumir um papel de liderança no PSDB paulista.
Em tom conciliador, Alckmin pregou uma "nova política" e afirmou que o Estado deverá colaborar com Lula nas questões importantes para o país, como a reforma tributária, e que a oposição ao PT não será "raivosa".
"A disputa foi legítima, mas acabou. Lula fará um grande esforço para tranquilizar o país e entrar num círculo virtuoso de confiança, confiança que se traduza na queda do dólar, na melhoria da bolsa e na redução da taxa de juros. Todos precisam colaborar."
Na verdade, o discurso de Alckmin tem direção certa. Ele também quer evitar uma oposição "raivosa" por parte dos petistas em São Paulo, que saíram fortalecidos na Assembléia Legislativa -o PT passou de 13 para 23 deputados. "Não sei como será a oposição do PT em São Paulo. O natural é quem ganha governa, quem perde fiscaliza. Mas essa fiscalização tem de ajudar na governabilidade", disse o governador.

Telefonema de Genoino
Alckmin disse que ainda não pensou em nomes para compor seu novo governo, mas adiantou que deverá manter alguns secretários de sua gestão. "É natural que alguns continuem e que outros saiam", disse Alckmin.
O governador fez questão de destacar que seu governo será pluralista. "Pelo Brasil, faça-se o máximo, independentemente da sigla partidária."
Alckmin, que recebeu ontem pela manhã um telefonema de José Genoino (PT), elogiou seu adversário, mas disse que o povo foi "sábio" ao buscar um equilíbrio no poder: elegeu um petista para a Presidência, mas optou por outros partidos nos maiores Estados, como Rio de Janeiro, São Paulo, Minas e Rio Grande do Sul.
No final do encontro com os jornalistas, o presidente estadual do PSDB, deputado Edson Aparecido, fez questão de falar ao microfone. "Quero informar que Alckmin teve cerca de 744 mil votos a mais do que Lula em São Paulo", disse Aparecido, seguido por aplausos de militantes que acompanharam o ato.
Para os tucanos, essa é a prova de que São Paulo não se curvou à onda Lula e que o partido renovou sua força eleitoral no Estado.
Depois da coletiva de imprensa ontem pela manhã, que reuniu cerca de 50 jornalistas, Alckmin seguiu para o Palácio dos Bandeirantes, onde foi recebido por aproximadamente 350 funcionários -segundo cálculo da PM.
Sob o grito de "viva", Alckmin autografou pequenas bandeiras.



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