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Tributo é desviado para pagar contas
HUMBERTO MEDINA
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O Ministério dos Transportes
usa o dinheiro da Cide -tributo
que incide sobre a venda de combustíveis- para pagar pessoal,
dívidas e outras despesas correntes. Os recursos, cobrados dos
consumidores no preço da gasolina (R$ 0,54 por litro), deveriam
ser usados para obras de melhorias no sistema de transporte.
Pesquisa divulgada na semana
passada pela CNT (Confederação
Nacional dos Transportes) informa que a maioria das rodovias
sob administração do Estado (federais ou estaduais) está deteriorada -82,8% são consideradas
péssimas, ruins ou deficientes.
De acordo com relatório da
Consultoria de Orçamento e Fiscalização Financeira da Câmara
dos Deputados, o governo arrecadou R$ 4,5 bilhões com a Cide até
29 de agosto. Desse total, foram
gastos R$ 1,46 bilhão -sendo R$
459,2 milhões no Ministério dos
Transportes.
A maior parte desses recursos
foi usada nos Transportes para
encargos sociais e despesas de
pessoal, juros e encargos da dívida, outras despesas correntes, inversões financeiras e amortização
de dívida. Para esses itens, foram
gastos R$ 395,5 milhões
-77,42% do valor liquidado até
29 de agosto.
Em investimentos, o ministério
gastou apenas R$ 63,7 milhões, o
equivalente a 2,5% do total autorizado para essa finalidade, que é de
R$ 2,5 bilhões em 2003.
Procurado ontem durante todo
o dia por meio de sua assessoria
de imprensa, o Ministério dos
Transportes não se pronunciou
até a conclusão desta edição.
Brecha
A cobrança da Cide foi determinada por emenda constitucional
aprovada em dezembro de 2001 e
regulamentada por lei no penúltimo dia do governo Fernando
Henrique Cardoso, em 2002. Acatando recomendação de sua equipe econômica e da equipe de transição do PT, Fernando Henrique
vetou o artigo que determinava
que 75% do arrecadado com a
contribuição fosse para obras de
infra-estrutura de transportes.
Os empresários do setor, que
ajudaram no lobby pela aprovação do imposto no Congresso,
sentem-se traídos. "O setor se
sentiu traído, porque defendeu
um imposto em troca de investimentos no setor", disse Geraldo
Vianna, presidente da ANTC (Associação Nacional dos Transportadores de Carga).
Para Clésio Andrade (PL-MG),
presidente da CNT e vice-governador de Minas Gerais, o governo
usa a Cide para fazer superávit
primário.
"Estamos com uma ação no STF
[Supremo Tribunal Federal] para
bloquear R$ 2,5 bilhões da Cide",
disse ele.
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