UOL

São Paulo, quarta-feira, 29 de outubro de 2003

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

NO AR

Do crescimento à ética

NELSON DE SÁ
EDITOR DA ILUSTRADA

Jô Soares, depois de longa e acrítica entrevista com José Dirceu, puxou os "parabéns" para Lula e cantou com o ministro, o sexteto e todo o auditório, na madrugada.
E a terça-feira que se seguiu parecia indicar realmente a entrega de muitos "presentes" de aniversário, para usar uma expressão do comentarista Alexandre Garcia.
Para começar, a produção industrial em São Paulo, segundo levantamento da Fiesp, cresceu 6% em setembro. "O melhor mês de setembro em nove anos", bradou William Bonner no Jornal Nacional.
Foi o terceiro mês seguido de aumento no nível de atividade industrial paulista, aumento que começou no mesmo julho em que Lula havia deixado escapar, num de seus arroubos populistas, a expressão "espetáculo do crescimento".
Na usualmente queixosa Fiesp, anunciou-se com certa resistência que foi o maior crescimento em quase um ano e aceitou-se que foi um número "alto", mais até, uma "belíssima surpresa".
Acrescente-se a isso a nova queda nos juros bancários, ainda que pequena, e o que se tinha pela frente era -ou parecia ser- uma jornada de graça para o governo Lula.
Acrescente-se, como cereja sobre o bolo, uma pesquisa da Universidade de Miami, realizada com 537 integrantes do que foi descrito como "elite latina" e divulgada por todos os meios.
Nela, Lula surgiu como o líder pan-americano com a melhor avaliação entre os "latinos" ricos: 69% de aprovação, contra 56% do segundo colocado, o argentino Néstor Kirchner, e 55% do terceiro, o chileno Ricardo Lagos. E, mais importante, contra 87% de desaprovação do norte-americano George W. Bush.
Um presente atrás do outro, como se vê. Mas o dia foi longo o bastante para que o presidente da Força Sindical, ex-candidato a vice-presidente da República, embarcasse com estardalhaço numa acusação nada confortável para Lula e o PT, a de "espionagem" eleitoral.
Paulo Pereira da Silva, "recém-lançado candidato do PDT a prefeito de São Paulo", como destacou a Record, anunciou que agora "quer distância" do governo Lula. E até se desculpou com o tucano José Serra, que foi seu acusado anterior pela mesma "espionagem".
A vociferante oposição do PSDB e do PFL no Congresso reagiu ameaçando com uma CPI que não deixaria o presidente respirar.
O âncora Boris Casoy, do Jornal da Record, foi mais contido e sublinhou a "ótima oportunidade" encontrada por Paulinho para romper com os petistas e iniciar sua campanha para a vaga de Marta Suplicy em 2004. Mas acrescentou:
- Bons tempos em que o PT clamava por ética na política.


Texto Anterior: Genoino critica EUA na Internacional
Próximo Texto: Na oposição: Investimento de ministérios consome menos que viagens
Índice


UOL
Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.