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JANIO DE FREITAS
Iguais, mas diferentes
Faz parte da regra que o jogo
baixo seja construído pelos
que se apresentam como
os representantes da ética
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A CAMPANHA oficial dura três
meses, a oficiosa é à vontade
do interessado, mas nas 72
horas finais é que o perigo, uma beira de abismo quase sempre impressentido, ameaça candidatos a cargos
de governo. Faz parte indispensável
da regra brasileira que o jogo baixo
seja construído pelos que se apresentam como os representantes autênticos da ética política e da moralidade administrativa. Alguns Estados deram novas e interessantes
contribuições ao costume, mas a
eleição presidencial não poderia
desconsiderar a tradição, mesmo
sem chegar ao nível de eleições
colloridas e outras.
No primeiro turno, foi na antevéspera da votação que o delegado da
PF Edmílson Bruno usou de uma artimanha para difundir, contra ordem superior, fotos da dinheirada
cujo único efeito possível seria contra Lula e outros candidatos
do PT.
No segundo turno, a trama arquitetada em Minas é que justifica, por
sua audácia, esta nota. Quem leva à
Polícia Federal, apresentando-se
como jornalista, a descoberta de um
intermediário de R$ 250 mil destinados ao petista Hamilton Lacerda,
do caso dossiê, é uma secretária de
diretório do PSDB, em Pouso Alegre. O marceneiro por ela apresentado à PF como portador da contribuição petista do seu patrão é, na
realidade, produtor "cultural".
Apresentou-se com nome falso, mas
confirmado pelos respectivos documentos -que haviam sumido da vista de seu dono. E o nome dado à PF
como do tal patrão-contribuinte é o
nome verdadeiro do produtor "cultural", que assim poderia confirmar,
por depoimento à distância, a falsa
denúncia do empregado.
Tamanha trama não é o casinho
simplório que transparece do noticiário. Antes de tudo, pelo efeito previsível que a articulação, não fora
um pequeno deslize, teria sobre a
eleição de não menos do que o presidente da República. Além disso, porque essa trama saiu de um partido
político tal como a denúncia provocada pelo dossiê. Mas o tratamento,
na Polícia Federal e nos meios de comunicação, é muito diferente.
Descoberta sua verdadeira atividade, a secretária do PSDB, Rosely
de Souza Pantaleão, explicou-se: denunciou a contribuição dos R$ 250
mil com os seus bons propósitos de
cidadã que levou informações importantes à polícia, ilusórias também para ela. O fato de que só o fizesse a 72 horas da votação não mereceu socorro de igual quilate, nem
precisava: já conquistara a glória de
fortes destaques em jornais e telejornais. E em ocasião preciosa.
O produtor "cultural" Luiz Armando Ramos foi mais prático: pediu para ir falar com a família e sumiu. Não há pressa de aparecer ou
achá-lo, a lei eleitoral lhe assegura liberdade até terça-feira. E nada sugeriu, até agora, que nesse caso haja
decisão policial de investigar remunerações, subornos, sigilos telefônicos, movimentos bancários e outras
providências que, tantas vezes, dependem pouco de quais são os fatos
e muito de quem são as personagens
envolvidas ou envolvíveis.
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