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Empregados são 69% em programas sociais
Maioria dos adultos atendidos por ações de transferência de renda em 2004 tinha ocupação, aponta pesquisa do Ipea
Segundo estudo, 15% eram contratados com carteira assinada e, ainda assim, tinham renda tão baixa que os incluía como beneficiários
FLÁVIA MARREIRO
ENVIADA ESPECIAL A CAXAMBU (MG)
Dados de uma pesquisa do
Ipea (Instituto de Pesquisa
Econômica Aplicada) mostram
que 69% dos adultos que recebiam programas de transferência de renda (estaduais, municipais ou federais) em 2004 estavam trabalhando. Mais: 15%
do total já era empregado formal e ainda assim tinha um nível de renda tão baixo que o
credenciava como beneficiário.
A informação faz parte do
trabalho "Proteção Social, Pobreza e Indigência", da pesquisadora Luciana Jaccoud, e alimenta o debate sobre as chamadas "portas de saída" e os limites dos programas sociais. A
pesquisa deve ser publicada até
o final do ano num boletim do
Ipea. Uma prévia dele foi apresentada no 30º encontro anual
da Anpocs (Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Ciências Sociais), realizado em Caxambu (MG).
Cuidadosa, Jaccoud frisou
que não se trata de uma análise
do Bolsa Família, já que em
2004 os programas de renda federais ainda não haviam sido
totalmente integrados. Eram,
naquele ano, ainda o Bolsa Escola, o Bolsa Alimentação e o
Auxílio-Gás, entre outros, além
do Bolsa Família, que começava a sua expansão.
Mas a pesquisadora diz que
os números "não são um retrato atípico" e que "apontam horizontes de preocupações".
Mostram a situação do mercado de trabalho brasileiro: "A
política social sozinha não dá
conta". É preciso haver, afirma
ela, um debate sobre desenvolvimento econômico e instrumentos que aumentem a participação da massa salarial na
renda total do país.
Bordas da sociedade
"O volume de quem recebe os
programas de transferência de
renda é muito grande. Não são
as pessoas que estão nas bordas
da sociedade brasileira. Muitas
delas estão trabalhando, até no
mercado formal, e ainda assim
não têm renda suficiente",
aponta a pesquisadora. "Porta
de saída para mim é quando essas pessoas conseguirem a renda necessária."
Segundo resultados preliminares da pesquisa, parte dos
15% dos formais que eram beneficiários dos programas em
2004 estava "em empregos tradicionais", com carteira assinada, na construção civil ou no
trabalho doméstico regularizado. Jacoud usou dados da Pnad
(Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios) realizada em
2004), em que o entrevistado
respondia se era beneficiário
de algum programa de transferência de renda.
Ela usa o exemplo da empregada doméstica que, mesmo
trabalhando numa família de
classe média, ainda se credenciava para receber dinheiro federal. "Se ela recebia um salário
mínimo do patrão e tem quatro
filhos, a renda per capita dela
girava em torno de R$ 60. Não é
razoável. Ainda assim ela tinha
o direito de receber o programa
de renda", afirma.
Impacto
A pesquisadora do Ipea também analisou o impacto do sistema de proteção social na indigência e na pobreza do Brasil,
com base em dados de 2005, aí
já incorporando os números do
Bolsa Família. O sistema inclui,
além do programa, os benefícios de até um salário mínimo
da Previdência Social e os idosos e deficientes que recebem
até um salário mínimo do BPC
(Benefício de Prestação Continuada).
Na simulação da pesquisa,
sem o colchão de renda dos benefícios, a indigência duplicaria
no Nordeste (passaria de 24,1%
da população para 41,3%) e
quase triplicaria no Sudeste
(dos atuais 5,4% para 14,5%).
"O Bolsa Família é um novo pilar da proteção social, atende
uma população até agora descoberta, que são os adultos em
condição de trabalhar e praticamente sem renda. Os dados
mostram que o sistema de proteção social tem um impacto
extremamente importante. A
situação sem eles seria imensamente pior", afirma.
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