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São Paulo, sábado, 29 de novembro de 2003

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RORAIMA

Cálculo é da Polícia Federal, que diz que o esquema dos "gafanhotos" envolvia funcionários em cargos de confiança

Três dos exonerados desviariam R$ 294 mil

JAIRO MARQUES
DA AGÊNCIA FOLHA

Três dos funcionários exonerados de cargos de confiança na última quarta-feira pelo governador de Roraima, Flamarion Portela (PT), são acusados de ter ligação com 193 "gafanhotos", funcionários-fantasmas que causariam um desvio mensal de R$ 294 mil da folha de pagamento.
A conta é da força-tarefa liderada pela Polícia Federal que investiga desvios de recursos públicos em Roraima.
O esquema começou a ser investigado em setembro de 2002, quando a Folha divulgou a existência dos "gafanhotos", como ficaram conhecidos os funcionários-fantasmas do Estado.
Na quarta-feira, foram presas 41 pessoas, entre elas o ex-governador de Roraima Neudo Ribeiro Campos (PP), por suposto envolvimento com os desvios. No mesmo dia, o governador Portela exonerou funcionários que tiveram mandado de prisão decretado.
Pelo esquema, políticos e funcionários cadastravam pessoas na folha de pagamento do Estado. Parte dos salários era desviada para contas pertencentes aos envolvidos. Os laranjas receberam o nome de gafanhotos por "comerem" o orçamento do Estado. A Polícia Federal acredita que ao menos R$ 230 milhões podem ter sido desviados.

Os envolvidos
Segundo a polícia, a ex-secretária de Articulação Municipal e Política Urbana Vera Regina, por meio de duas procuradoras, envolveu pelo menos 60 pessoas. Cada um dos "gafanhotos" ligados a Regina teria, em tese, direito a um salário pago pelo governo de R$ 2.000 por mês.
Na prática, muitas das pessoas usadas eram analfabetas, assinavam as procurações com a digital do dedo polegar e ficavam com, no máximo, R$ 400. O restante iria para o poder de Regina, ex-deputada estadual pelo PFL.
Já o delegado Ângelo Paiva, que também é ex-deputado e estava, até quinta-feira, foragido da Justiça, teria conseguido arrecadar cerca de R$ 92 mil por mês com o esquema.
Paiva ocupava um cargo estratégico no governo Portela. Era o diretor da Polícia Judiciária, corporação equivalente à Polícia Civil em outros Estados. Depoimentos de quatro pessoas que se disseram procuradoras em nome de Paiva revelaram que pelo menos 98 pessoas foram utilizadas.
Apesar de constarem na relação de funcionários públicos do Estado de Roraima, muitos dos "gafanhotos", de acordo com o delegado da PF Júlio César Baida, que chefia os inquéritos sobre os desvios, não tinham idéia sobre o uso de seus nomes.
"Essas pessoas eram vítimas das autoridades. Elas achavam que o dinheiro que chegava a elas mensalmente [fruto de parte do salário pago pelo governo] era um agrado do político, uma ajuda", afirmou Baida.
O deputado estadual licenciado Berinho Bentim (PSL), que foi exonerado do cargo de presidente do Ipem (Instituto de Pesos e Medidas) e também foi preso, teria lucrado R$ 82 mil por mês com a sua "nuvem" de 35 "gafanhotos". A Agência Folha apurou que Bentim articula reassumir seu cargo na Assembléia Legislativa do Estado, o que daria a ele prerrogativa de foro privilegiado.


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