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BRASIL PROFUNDO
Policiais fazem buscas em fazendas da região onde ocorreu crime
Força-tarefa diz que morte de fiscais foi "profissional"
IURI DANTAS
ENVIADO ESPECIAL A UNAÍ (MG)
ANDRÉA MICHAEL
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
A força-tarefa criada para investigar o assassinato de três fiscais
do trabalho e do motorista deles,
anteontem, em Unaí (MG), classificou ontem de "execução" o crime e informou que ele teria sido
cometido por "profissionais" que
não seriam da região. O grupo foi
reforçado por 12 policiais do COT
(Comando de Operações Táticas)
da Polícia Federal e representantes do Ministério Público Federal.
Três auditores fiscais do Ministério do Trabalho e o motorista
que os acompanhava foram assassinados numa rodovia a 55
quilômetros de Unaí. Os quatro
servidores trabalhavam na fiscalização das fazendas da região, que
nesta época do ano contratam trabalhadores para colherem feijão.
Há suspeitas de que o crime
possa estar relacionado à fiscalização. Os quatro receberam tiros
na cabeça. O Ministério do Trabalho disse que o caso é inédito.
O motorista Aílton Pereira de
Oliveira, 51, chegou a dirigir a picape em que os quatro estavam
até encontrar ajuda. Ele foi levado
a um hospital em Brasília, mas
acabou morrendo. Dois auditores
fiscais, João Batista Soares, 50, e
Eratóstenes de Almeida Gonçalves, 42, eram da equipe da fiscalização de Belo Horizonte. O terceiro fiscal, Nelson José da Silva, 52,
trabalhava em Paracatu (MG).
A PF fez ontem várias incursões
em fazendas, sem realizar prisões,
além de analisar fotografias e a
documentação encontradas no
veículo e nos apartamentos ocupados pelos fiscais em Unaí. Um
policial que não quis se identificar
disse que os auditores, que estavam desde segunda passada na
região, teriam encontrado trabalhadores em situações irregulares.
Para a PF, não há dúvidas de
que o crime foi uma "execução".
Até o suposto assalto que teria sido anunciado serviria para "desarmar" as vítimas. Os policiais
começaram a analisar ameaças
recebidas pelos fiscais e centralizaram as investigações em aliciadores de mão-de-obra, chamados
"gatos", e fazendeiros da região.
"À medida que "condomínios"
[cooperativas de produtores para
contratação de pessoal] são implantados, os "gatos" [quem alicia
mão-de-obra] ficam desempregados. Todas as ameaças foram registradas pela polícia", disse Luiz
Antonio Camargo de Melo, do
Ministério Público do Trabalho.
Também foi descartada a ação
de pistoleiros do Norte do país,
área em que o Ministério do Trabalho tem um grupo móvel para
fiscalização de trabalho escravo.
O assassinato dos auditores foge
da maneira como os pistoleiros da
região atuam, atirando a esmo.
"Não trabalhamos com suspeitos agora para não reduzir o foco
da investigação", disse o delegado
Daniel Sampaio, chefe do COT.
Apesar disso, investigadores falam dos "gatos" como suspeitos.
Mesmo com os "condomínios"
rurais, eles seguem agindo. Não
existem relatos sobre trabalho escravo na região, apesar de haver
casos de trabalho degradante.
Já o procurador-chefe de MG,
José Adérsio Leite Sampaio, disse
que há uma lista de suspeitos da
força-tarefa estadual que investiga o caso. Segundo ele, a hipótese
mais forte é de que um fazendeiro
local seja o mandante. O principal
suspeito seria um produtor que
teria feito ameaças a Nelson José
da Silva e que já recebeu sete autuações desde 1995. O presidente
do Sindicato Rural de Unaí, Irmo
Casavechia, afirma não acreditar
no envolvimento de fazendeiros.
A PF deve enviar hoje mais 20
agentes. Já há cerca de cem policiais militares. O presidente interino José Alencar e o ministro Nilmário Miranda (Direitos Humanos) disseram que será enviado
ao Congresso um projeto que dê
indenização às famílias dos fiscais
e do motorista. "Para terem pensão integral", afirmou Alencar.
Colaboraram TIAGO ORNAGHI, da
Agência Folha, e THIAGO GUIMARÃES,
da Agência Folha, em Belo Horizonte
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