São Paulo, sexta-feira, 30 de janeiro de 2004

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BRASIL PROFUNDO

Policiais fazem buscas em fazendas da região onde ocorreu crime

Força-tarefa diz que morte de fiscais foi "profissional"

IURI DANTAS
ENVIADO ESPECIAL A UNAÍ (MG)

ANDRÉA MICHAEL
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

A força-tarefa criada para investigar o assassinato de três fiscais do trabalho e do motorista deles, anteontem, em Unaí (MG), classificou ontem de "execução" o crime e informou que ele teria sido cometido por "profissionais" que não seriam da região. O grupo foi reforçado por 12 policiais do COT (Comando de Operações Táticas) da Polícia Federal e representantes do Ministério Público Federal.
Três auditores fiscais do Ministério do Trabalho e o motorista que os acompanhava foram assassinados numa rodovia a 55 quilômetros de Unaí. Os quatro servidores trabalhavam na fiscalização das fazendas da região, que nesta época do ano contratam trabalhadores para colherem feijão.
Há suspeitas de que o crime possa estar relacionado à fiscalização. Os quatro receberam tiros na cabeça. O Ministério do Trabalho disse que o caso é inédito.
O motorista Aílton Pereira de Oliveira, 51, chegou a dirigir a picape em que os quatro estavam até encontrar ajuda. Ele foi levado a um hospital em Brasília, mas acabou morrendo. Dois auditores fiscais, João Batista Soares, 50, e Eratóstenes de Almeida Gonçalves, 42, eram da equipe da fiscalização de Belo Horizonte. O terceiro fiscal, Nelson José da Silva, 52, trabalhava em Paracatu (MG).
A PF fez ontem várias incursões em fazendas, sem realizar prisões, além de analisar fotografias e a documentação encontradas no veículo e nos apartamentos ocupados pelos fiscais em Unaí. Um policial que não quis se identificar disse que os auditores, que estavam desde segunda passada na região, teriam encontrado trabalhadores em situações irregulares.
Para a PF, não há dúvidas de que o crime foi uma "execução". Até o suposto assalto que teria sido anunciado serviria para "desarmar" as vítimas. Os policiais começaram a analisar ameaças recebidas pelos fiscais e centralizaram as investigações em aliciadores de mão-de-obra, chamados "gatos", e fazendeiros da região.
"À medida que "condomínios" [cooperativas de produtores para contratação de pessoal] são implantados, os "gatos" [quem alicia mão-de-obra] ficam desempregados. Todas as ameaças foram registradas pela polícia", disse Luiz Antonio Camargo de Melo, do Ministério Público do Trabalho.
Também foi descartada a ação de pistoleiros do Norte do país, área em que o Ministério do Trabalho tem um grupo móvel para fiscalização de trabalho escravo. O assassinato dos auditores foge da maneira como os pistoleiros da região atuam, atirando a esmo.
"Não trabalhamos com suspeitos agora para não reduzir o foco da investigação", disse o delegado Daniel Sampaio, chefe do COT.
Apesar disso, investigadores falam dos "gatos" como suspeitos. Mesmo com os "condomínios" rurais, eles seguem agindo. Não existem relatos sobre trabalho escravo na região, apesar de haver casos de trabalho degradante.
Já o procurador-chefe de MG, José Adérsio Leite Sampaio, disse que há uma lista de suspeitos da força-tarefa estadual que investiga o caso. Segundo ele, a hipótese mais forte é de que um fazendeiro local seja o mandante. O principal suspeito seria um produtor que teria feito ameaças a Nelson José da Silva e que já recebeu sete autuações desde 1995. O presidente do Sindicato Rural de Unaí, Irmo Casavechia, afirma não acreditar no envolvimento de fazendeiros.
A PF deve enviar hoje mais 20 agentes. Já há cerca de cem policiais militares. O presidente interino José Alencar e o ministro Nilmário Miranda (Direitos Humanos) disseram que será enviado ao Congresso um projeto que dê indenização às famílias dos fiscais e do motorista. "Para terem pensão integral", afirmou Alencar.


Colaboraram TIAGO ORNAGHI, da Agência Folha, e THIAGO GUIMARÃES, da Agência Folha, em Belo Horizonte

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