São Paulo, domingo, 30 de janeiro de 2005

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DAVOS - DEBATE GLOBAL - PORTO ALEGRE

Em debate em Davos, ele nega saída de Meirelles do BC e critica empresário que eleva preço

Lula defende política de juros e a permanência de Meirelles

LEONARDO SOUZA
ENVIADO ESPECIAL A DAVOS

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse ontem que o governo precisa ser "duro" no combate à inflação, defendeu a decisão do Banco Central de aumentar os juros e negou que Henrique Meirelles esteja para deixar o comando da instituição. Ele reconheceu, no entanto, que "todo mundo, desde o presidente Meirelles a qualquer brasileiro, gostaria que os juros fossem mais baixos".
"Não é verdade, não procede. Essas coisas não se discutem. Eu acho que esse tipo de notícias é plantado por alguém que não quer que as coisas continuem tranqüilas. Veja, eu digo sempre o seguinte: quando eu tiver que fazer alguma coisa no governo, não vai me interessar dizer para a imprensa o que eu vou fazer. Eu estou tranqüilo, as coisas estão bem, dizem que em time que está ganhando a a gente não mexe.", afirmou o presidente, referindo-se a Meirelles, logo após seminário sobre o Brasil organizado pelo governo em evento paralelo ao Fórum Econômico Mundial.
Lula ressaltou que "essas coisas [mudanças na equipe] não se discutem" e que, quando tiver de trocar alguém, não vai lhe interessar antecipar à imprensa o que fará.
Ao ser questionado se estava tranqüilo também em relação aos juros (que já foram aumentados cinco vezes consecutivas desde setembro), Lula disse que desejaria ver uma taxa mais baixa, mas ressaltou que há uma situação "anômala" no Brasil, em que empresas aumentariam os juros sem precisar, devido a uma cultura inflacionária que ainda persiste no país.
Ao defender a ação do BC, lembrou que a instituição apenas persegue a meta de inflação definida pelo governo, usando o instrumento de que dispõe, no caso, os juros. Ele criticou as companhias pelas remarcações de preços e disse que os empresários têm "tanta obrigação quanto o Banco Central de ajudar no controle da inflação para que o Brasil possa crescer".
"Se a economia está boa, ninguém precisa aumentar preços, as pessoas vão ganhar pelo aumento de unidades que vão vender", completou.
O presidente lembrou que o país conviveu durante muitos anos com níveis altíssimos de inflação e que os mais prejudicados durante esse período eram os mais pobres, pois não podiam proteger suas economias, uma vez que não tinham acesso a contas bancárias. "Quem ganhava um pouco mais, tinha uma conta remunerada, sofria menos. Então nós precisamos ser duros no controle de inflação para poder garantir o poder de compra da parte da sociedade que ganha menos. Então é isso que estamos fazendo", afirmou.
Tanto o ministro Antonio Palocci Filho (Fazenda) quanto o próprio Meirelles também negaram ontem que ele estaria de saída do Banco Central. Meirelles disse também que não tem pretensões políticas, informação que tem circulado em Brasília nos últimos dias.

Ano promissor
Ao ser questionado sobre a avaliação dos participantes do Fórum Econômico sobre o Brasil, o presidente disse que as pessoas estão se dando conta de que o país está "jogando um papel mais importante no mundo dos negócios". "Eu estou convencido de que a nossa tese de criar uma nova geografia comercial no mundo vai acontecer", disse, lembrando que o Brasil conseguiu juntar em torno de suas propostas países importantes, como China, Índia e África do Sul.
Lula disse que o Brasil está "vivendo um momento importante, que "o país recuperou a auto-estima" e que ele não permitirá que um debate antecipado das eleições presidenciais de 2006 atrapalhem o trabalho do governo.
"Quem está na oposição tem interesse em começar a campanha três anos antes. Quem está na situação, tem que governar. Então eu estou vivendo em 2005 o ano mais promissor do Brasil. Eu não posso permitir que as eleições de 2006 atrapalhem a tranqüilidade que o Brasil precisa para sobreviver", afirmou.
Ele disse que só pensar nas eleições em 2006. "O Brasil não pode jogar esta oportunidade fora. Eu acho que tudo o que o povo deseja no mundo é que o Brasil cresça economicamente, gere empregos, gere riqueza e que a gente possa ter uma melhor distribuição de renda. É isso que o povo deseja, e eu acho que é nisto que nós precisamos trabalhar."
O presidente comemorou o anúncio feito por vários empresários neste mês, alguns durante o próprio Fórum, de investimentos no Brasil. Segundo ele, o setor de aço aumentou de US$ 8 bilhões para US$ 12 bilhões os investimentos até 2008. No setor de mineração, a Vale do Rio Doce teria comunicado investimento de quase US$ 12 bilhões. A Krupp (aço, elevadores e escadas rolantes, por exemplo) e a Alcoa (alumínio), respectivamente, US$ 1,5 bilhão e US$ 1 bilhão.
"Eu acho que as pessoas já conhecem melhor o Brasil, eu acho que as pessoas percebem claramente que o Brasil não é mais um coadjuvante e não quer ser coadjuvante. O Brasil tem tudo para continuar crescendo, tudo para jogar um papel mais importante no mundo."


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