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DAVOS - DEBATE GLOBAL - PORTO ALEGRE
Lula diz que Porto Alegre e Davos "se necessitam"
CLÓVIS ROSSI
do enviado especial a Davos
O presidente Luiz Inácio Lula
da Silva defendeu ontem, em café
da manhã com um grupo de 17
pesos pesados do empresariado
global, um diálogo entre os fóruns
de Davos e Porto Alegre.
O primeiro reúne a elite global,
entre governantes, acadêmicos e,
principalmente, homens de negócio. O segundo é a assembléia dos
grupos que se opõem ao modelo
corrente de globalização.
"Os dois se necessitam mutuamente", disse o presidente brasileiro, conforme a recapitulação
que a Folha obteve de um dos
participantes, sob a condição de
preservar o seu nome.
Lula explicou que fora a Porto
Alegre para pedir mais coordenação e projetos mais concretos.
Aproveitou para uma crítica velada à atriz norte-americana Sharon Stone, que, anteontem, roubou a cena em debate sobre o
combate à pobreza, ao dar e pedir
doações para a imediata compra
de redes de proteção contra o
mosquito da malária, que mata 1
milhão de africanos por ano.
"Não é por aí (pela caridade) que
se resolve o problema", reclamou
Lula, para justificar a sua sugestão
de "projetos concretos".
Sempre segundo a versão obtida
pela Folha, o presidente fez questão de manifestar sua total disposição para fazer o que fosse necessário para satisfazer o empresariado global, na medida em que o
Brasil necessita de investimentos.
O representante da Pepsi Cola,
Michael White, aproveitou a deixa para perguntar o que o governo estava fazendo para aumentar
o poder de compra da população
do Nordeste. Pode ser preocupação social, mas é seguramente interesse econômico: o ramo de alimentação da Pepsi está preparando investimentos no Nordeste,
mas precisa de consumidores
com poder aquisitivo.
Participaram do café 17 empresários de setores diversificados, como o financeiro (Citigroup e ABN
Amro, o banco holandês que controla o brasileiro Real), de informática (IBM), e industriais, como
a Alcoa, a Sonae, a Saab.
Lula fez uma breve exposição para defender parcerias de empresas
brasileiras com estrangeiras, repetindo a tese de que "os empresários brasileiros não têm que ter
medo de virar empresas multinacionais ou de fazer investimentos
no exterior, porque seria muito
bom para o país".
Passou então o comando dos trabalhos para Luiz Fernando Furlan
(Desenvolvimento, Indústria e
Comércio), que pediu licença a
Lula para falar em inglês.
A tônica da exposição foi vender a
economia brasileira com argumentos e estatísticas já muito usados no Brasil. Exemplos:
"A economia brasileira vive o
mais forte ciclo de crescimento
desta década" (Palocci).
"Está havendo redução da taxa de
juros de mercado" (Palocci).
"O Brasil conheceu um padrão de
crescimento tipo "stop and go"
(pára e cresce, em tradução livre).
Agora, está mudando para um
crescimento estável e sustentável.
Foi de 6,1% no terceiro trimestre
de 2004 comparado com idêntico
período de 2003" (Meirelles).
O excesso de gráficos em telões
acabou tornando monótona a
sessão, a ponto de fazer cochilar
Salman bin Khalifa al-Khalifa, vice-presidente da Companhia de
Petróleo de Bahrein, que, ao chegar, manifestara a intenção de
buscar "sinergias" com o Brasil.
Já Bruno Lescoeur (Electricité de
France) ficava desenhando no
bloquinho que o governo brasileiro incluíra no "kit" de informações sobre a economia.
Lula voltou ao final da sessão para
um comentário que, de certa forma, tornava inúteis todo o discurso e todos os gráficos de seus
companheiros:
"Se alguém falar alguma coisa do
Brasil, de bom ou de ruim, não
acreditem na primeira vez. Consultem outra opinião", disse.
Como ninguém falou nada de
ruim do Brasil, se os empresários
presentes seguirem a orientação
do presidente terão que duvidar
da catarata de números positivos
apresentada.
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