São Paulo, domingo, 30 de janeiro de 2005

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DAVOS - DEBATE GLOBAL - PORTO ALEGRE

Lula diz que Porto Alegre e Davos "se necessitam"

CLÓVIS ROSSI
do enviado especial a Davos
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva defendeu ontem, em café da manhã com um grupo de 17 pesos pesados do empresariado global, um diálogo entre os fóruns de Davos e Porto Alegre.
O primeiro reúne a elite global, entre governantes, acadêmicos e, principalmente, homens de negócio. O segundo é a assembléia dos grupos que se opõem ao modelo corrente de globalização.
"Os dois se necessitam mutuamente", disse o presidente brasileiro, conforme a recapitulação que a Folha obteve de um dos participantes, sob a condição de preservar o seu nome.
Lula explicou que fora a Porto Alegre para pedir mais coordenação e projetos mais concretos. Aproveitou para uma crítica velada à atriz norte-americana Sharon Stone, que, anteontem, roubou a cena em debate sobre o combate à pobreza, ao dar e pedir doações para a imediata compra de redes de proteção contra o mosquito da malária, que mata 1 milhão de africanos por ano.
"Não é por aí (pela caridade) que se resolve o problema", reclamou Lula, para justificar a sua sugestão de "projetos concretos".
Sempre segundo a versão obtida pela Folha, o presidente fez questão de manifestar sua total disposição para fazer o que fosse necessário para satisfazer o empresariado global, na medida em que o Brasil necessita de investimentos.
O representante da Pepsi Cola, Michael White, aproveitou a deixa para perguntar o que o governo estava fazendo para aumentar o poder de compra da população do Nordeste. Pode ser preocupação social, mas é seguramente interesse econômico: o ramo de alimentação da Pepsi está preparando investimentos no Nordeste, mas precisa de consumidores com poder aquisitivo.
Participaram do café 17 empresários de setores diversificados, como o financeiro (Citigroup e ABN Amro, o banco holandês que controla o brasileiro Real), de informática (IBM), e industriais, como a Alcoa, a Sonae, a Saab.
Lula fez uma breve exposição para defender parcerias de empresas brasileiras com estrangeiras, repetindo a tese de que "os empresários brasileiros não têm que ter medo de virar empresas multinacionais ou de fazer investimentos no exterior, porque seria muito bom para o país".
Passou então o comando dos trabalhos para Luiz Fernando Furlan (Desenvolvimento, Indústria e Comércio), que pediu licença a Lula para falar em inglês.
A tônica da exposição foi vender a economia brasileira com argumentos e estatísticas já muito usados no Brasil. Exemplos:
"A economia brasileira vive o mais forte ciclo de crescimento desta década" (Palocci).
"Está havendo redução da taxa de juros de mercado" (Palocci).
"O Brasil conheceu um padrão de crescimento tipo "stop and go" (pára e cresce, em tradução livre). Agora, está mudando para um crescimento estável e sustentável. Foi de 6,1% no terceiro trimestre de 2004 comparado com idêntico período de 2003" (Meirelles).
O excesso de gráficos em telões acabou tornando monótona a sessão, a ponto de fazer cochilar Salman bin Khalifa al-Khalifa, vice-presidente da Companhia de Petróleo de Bahrein, que, ao chegar, manifestara a intenção de buscar "sinergias" com o Brasil.
Já Bruno Lescoeur (Electricité de France) ficava desenhando no bloquinho que o governo brasileiro incluíra no "kit" de informações sobre a economia.
Lula voltou ao final da sessão para um comentário que, de certa forma, tornava inúteis todo o discurso e todos os gráficos de seus companheiros:
"Se alguém falar alguma coisa do Brasil, de bom ou de ruim, não acreditem na primeira vez. Consultem outra opinião", disse.
Como ninguém falou nada de ruim do Brasil, se os empresários presentes seguirem a orientação do presidente terão que duvidar da catarata de números positivos apresentada.

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