São Paulo, domingo, 30 de janeiro de 2005

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JANIO DE FREITAS

Sem reposta

A semana foi perfeita. Começou com Lula se deslocando ao âmago da Amazônia, para daí chegar às primeiras páginas e aos telejornais sobraçando uma cobra contida por outras mãos.
De volta a Brasília nas asas inaugurais do AeroLula, no dia seguinte Lula deslocava-se para uma Aparecida que não recebeu a graça de ser paulista, nem a desgraça de ser nordestina. À falta de evento mais notável, foi mesmo à inauguração de uma dependência de triagem de cartas em Aparecida de Goiás, com oportunidade de boné e camiseta dos Correios para chegar aos telejornais e jornais. O dia presidencial estava justificado.
Chegamos ao meio da semana, como alguns insistem, de dias úteis. Nessa quarta, houve, por certo, o repasse dos dados preparados para os discursos e respostas de Lula, dia seguinte, no Forum Social Mundial. E ainda a antecipação do deslocamento a Porto Alegre, para uma exposição especial aos organizadores do evento. A apreensão com o risco de vaias e outros repúdios era grande. Mas o mal-estar das hostilidades foi compensado pelo excelente rendimento da presença nos telejornais e nas primeiras páginas.
Seguiram-se o discurso no FSM e a viagem ao encontro dos companheiros em Davos, para o outro fórum, o Econômico Mundial. Com mais discurso e mais entrevista e ainda mais primeiras páginas e telejornais, com a vantagem de que não se limitaram ao dia do respectivo evento.
E pronto, fim da semana, viagem de volta.
A semana foi perfeita para mostrar a função de Lula. Mas, com variações geográficas e um ou outro furo que as deixa menos perfeitas, assim são todas as semanas presidenciais. Como se nem houvesse intervalo entre elas, são as semanas de um presidente que tem no governo a função de relações públicas.
A cada semana dessas, o ímpeto é perguntar: e quem governa? Em vez de um despacho ministerial sobre o problema das estradas, uma cobra; em lugar de uma reunião sobre a mortandade de indígenas famintos, uma camiseta de carteiro; e por vai, ou não vai, semana após semana. E quem governa?
À falta de resposta, por inexistente, a pergunta se parece com o dia presidencial.
Históricos
Não só por seu descompromisso publicitário com a veracidade, entende-se a rasteira de Lula na história e nos seus ouvintes, em Davos, ao dizer que o Brasil nunca teve maior solidez, seja qual for o sentido que dê à palavra. Já Henrique Meirelles, o manda-chuva do governo, não se limitou à rasteira, partiu para a punhalada na história, pelas costas: "Não existe exemplo de país na história recente que cresceu com inflação alta ou fora do controle".
Existe: o Brasil. Para ficar em um só.
Delfim Netto, José Sarney e vários outros devem algumas aulas de história ou da própria biografia ao especialista em altitude de juros.
Revisão
A "solução" para a Varig, com o governo trocando seus créditos pela condição de acionista controlador da empresa, tende ao caminho exatamente oposto do afirmado por José Alencar, ao assumir o Ministério da Defesa, para o problema.
Por dois anos, José Viegas, na Defesa, e Carlos Lessa no BNDES elaboraram uma saída confiável para a sobrevivência da empresa e desonerosa para o governo, ou seja, para o contribuinte. A relutância de ambos em subscrever fórmulas que têm defensores no Planalto, e em fortes lobbies, contribuiu para que saíssem do governo.



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