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JANIO DE FREITAS
Sem reposta
A semana foi perfeita. Começou com Lula se deslocando ao âmago da Amazônia,
para daí chegar às primeiras páginas e aos telejornais sobraçando uma cobra contida por outras
mãos.
De volta a Brasília nas asas
inaugurais do AeroLula, no dia
seguinte Lula deslocava-se para
uma Aparecida que não recebeu
a graça de ser paulista, nem a
desgraça de ser nordestina. À falta de evento mais notável, foi
mesmo à inauguração de uma
dependência de triagem de cartas em Aparecida de Goiás, com
oportunidade de boné e camiseta
dos Correios para chegar aos telejornais e jornais. O dia presidencial estava justificado.
Chegamos ao meio da semana,
como alguns insistem, de dias
úteis. Nessa quarta, houve, por
certo, o repasse dos dados preparados para os discursos e respostas de Lula, dia seguinte, no Forum Social Mundial. E ainda a
antecipação do deslocamento a
Porto Alegre, para uma exposição especial aos organizadores
do evento. A apreensão com o
risco de vaias e outros repúdios
era grande. Mas o mal-estar das
hostilidades foi compensado pelo
excelente rendimento da presença nos telejornais e nas primeiras
páginas.
Seguiram-se o discurso no FSM
e a viagem ao encontro dos companheiros em Davos, para o outro fórum, o Econômico Mundial. Com mais discurso e mais
entrevista e ainda mais primeiras páginas e telejornais, com a
vantagem de que não se limitaram ao dia do respectivo evento.
E pronto, fim da semana, viagem de volta.
A semana foi perfeita para
mostrar a função de Lula. Mas,
com variações geográficas e um
ou outro furo que as deixa menos
perfeitas, assim são todas as semanas presidenciais. Como se
nem houvesse intervalo entre
elas, são as semanas de um presidente que tem no governo a função de relações públicas.
A cada semana dessas, o ímpeto é perguntar: e quem governa?
Em vez de um despacho ministerial sobre o problema das estradas, uma cobra; em lugar de
uma reunião sobre a mortandade de indígenas famintos, uma
camiseta de carteiro; e por vai,
ou não vai, semana após semana. E quem governa?
À falta de resposta, por inexistente, a pergunta se parece com o
dia presidencial.
Históricos
Não só por seu descompromisso publicitário com a veracidade,
entende-se a rasteira de Lula na
história e nos seus ouvintes, em
Davos, ao dizer que o Brasil nunca teve maior solidez, seja qual
for o sentido que dê à palavra. Já
Henrique Meirelles, o manda-chuva do governo, não se limitou
à rasteira, partiu para a punhalada na história, pelas costas:
"Não existe exemplo de país na
história recente que cresceu com
inflação alta ou fora do controle".
Existe: o Brasil. Para ficar em
um só.
Delfim Netto, José Sarney e vários outros devem algumas aulas
de história ou da própria biografia ao especialista em altitude de
juros.
Revisão
A "solução" para a Varig, com
o governo trocando seus créditos
pela condição de acionista controlador da empresa, tende ao
caminho exatamente oposto do
afirmado por José Alencar, ao assumir o Ministério da Defesa,
para o problema.
Por dois anos, José Viegas, na
Defesa, e Carlos Lessa no BNDES
elaboraram uma saída confiável
para a sobrevivência da empresa
e desonerosa para o governo, ou
seja, para o contribuinte. A relutância de ambos em subscrever
fórmulas que têm defensores no
Planalto, e em fortes lobbies, contribuiu para que saíssem do governo.
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