São Paulo, domingo, 30 de janeiro de 2005

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O ACUSADO

Fazendeiro é condenado, solto, e pode ser secretário

DO ENVIADO ESPECIAL AO SUL DO PARÁ

Condenado pelo Tribunal do Júri de Belém (PA) a 19 anos de prisão sob acusação de ter encomendado a morte de um personagem-símbolo do sindicalismo no sul do Pará, o fazendeiro Vantuir de Paula, 56, leva uma vida normal nas ruas de Rio Maria (PA). Ele obteve autorização judicial para aguardar em liberdade o julgamento de um recurso contra a sessão do júri que o condenou, por cinco votos a dois, no início do ano passado.
Vantuir está cotado para ser secretário de Obras do município, segundo confirmou à Folha. Foi sondado pelo prefeito, mas ainda está estudando a proposta. No início de janeiro, foi convidado de honra da Câmara Municipal de Rio Maria, para acompanhar a contagem de votos que escolheram o novo presidente da Casa.
Vantuir se diz um homem injustiçado. "Me pegaram como boi de piranha. Não tinha nada contra ele, ele nunca fez nada contra mim", disse o fazendeiro, referindo-se a João Canuto de Oliveira, morto a tiros por dois homens enquanto caminhava numa rua de Rio Maria. Na época em que ele morreu, 20 fazendas da região estavam invadidas por trabalhadores rurais sem terra - uma delas pertencia a Vantuir.
Cinco anos depois do crime, ocorrido em dezembro de 1985, a família Canuto continuou alvo de atrocidades. Então diretores do sindicato dos trabalhadores, três filhos de Canuto foram seqüestrados e baleados a sangue-frio. Um sobreviveu, Orlando, hoje com 49 anos. De vez em quando encontra Vantuir caminhando pela rua, o que o deixa desiludido sobre a Justiça.
Sua irmã, Luzia, 36, professora de história em Belém (PA), estava na sessão da Câmara Municipal em que Vantuir foi o convidado. "Dá na gente um desconforto e uma raiva", disse Luzia. Sua mãe, Geraldina, que perdeu o marido e dois filhos, diz que vai continuar pedindo Justiça: "Parece que pensam que a gente nunca pode ter a voz da gente. Nunca largamos de falar da morte de Canuto". (RV)


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