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O ACUSADO
Fazendeiro é condenado, solto, e pode ser secretário
DO ENVIADO ESPECIAL AO SUL DO PARÁ
Condenado pelo Tribunal do
Júri de Belém (PA) a 19 anos de
prisão sob acusação de ter encomendado a morte de um personagem-símbolo do sindicalismo no sul do Pará, o fazendeiro
Vantuir de Paula, 56, leva uma
vida normal nas ruas de Rio Maria (PA). Ele obteve autorização
judicial para aguardar em liberdade o julgamento de um recurso contra a sessão do júri que o
condenou, por cinco votos a
dois, no início do ano passado.
Vantuir está cotado para ser
secretário de Obras do município, segundo confirmou à Folha. Foi sondado pelo prefeito,
mas ainda está estudando a proposta. No início de janeiro, foi
convidado de honra da Câmara
Municipal de Rio Maria, para
acompanhar a contagem de votos que escolheram o novo presidente da Casa.
Vantuir se diz um homem injustiçado. "Me pegaram como
boi de piranha. Não tinha nada
contra ele, ele nunca fez nada
contra mim", disse o fazendeiro, referindo-se a João Canuto
de Oliveira, morto a tiros por
dois homens enquanto caminhava numa rua de Rio Maria.
Na época em que ele morreu, 20
fazendas da região estavam invadidas por trabalhadores rurais sem terra - uma delas pertencia a Vantuir.
Cinco anos depois do crime,
ocorrido em dezembro de 1985,
a família Canuto continuou alvo
de atrocidades. Então diretores
do sindicato dos trabalhadores,
três filhos de Canuto foram seqüestrados e baleados a sangue-frio. Um sobreviveu, Orlando,
hoje com 49 anos. De vez em
quando encontra Vantuir caminhando pela rua, o que o deixa
desiludido sobre a Justiça.
Sua irmã, Luzia, 36, professora
de história em Belém (PA), estava na sessão da Câmara Municipal em que Vantuir foi o convidado. "Dá na gente um desconforto e uma raiva", disse Luzia.
Sua mãe, Geraldina, que perdeu
o marido e dois filhos, diz que
vai continuar pedindo Justiça:
"Parece que pensam que a gente
nunca pode ter a voz da gente.
Nunca largamos de falar da
morte de Canuto".
(RV)
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