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ANÁLISE
Nenhum parlamentar teve sigilo quebrado
FERNANDO RODRIGUES
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Nove meses depois de sua instalação, a CPI dos Correios conseguiu avançar pouco sobre os principais operadores e beneficiários
do chamado "mensalão". Embora Osmar Serraglio (PMDB-PR)
tenha dito em seu relatório apresentado ontem que o "mensalão"
existiu, ele não conseguiu avançar
listando quem foram todos os deputados e senadores que recebiam o dinheiro ilegal -exceto os
já apontados no ano passado.
Ao fazer um balanço das ações
da CPI dos Correios, Serraglio
omitiu uma informação vital. Ele
menciona as 365 quebras de sigilo
de pessoas e de empresas investigadas. Ocorre que nenhum deputado ou senador teve o seu sigilo
bancário nem sequer requerido.
Em resumo: a CPI quis investigar o "mensalão", diz que o
"mensalão" existiu, mas não quebrou o sigilo dos que seriam os receptores do dinheiro. O ex-deputado José Dirceu (PT-SP) enviou
espontaneamente seus extratos.
Do ponto de vista da punição de
novos "mensaleiros", não haveria
diferença se a CPI tivesse acabado
em 1º de setembro -quando foram listados 19 políticos supostamente envolvidos com o "mensalão". Roberto Jefferson (PTB-RJ),
ao anunciar a existência do esquema em entrevista à Folha, falava
em torno de 70 a 80 deputados.
Nenhum novo nome surgiu,
embora a CPI tenha obtido uma
lista de cerca de 60 assessores parlamentares que foram ao Banco
Rural, muitos em datas de saques
para pagamento de "mensalão".
Sobre os deputados já citados
como "mensaleiros", Serraglio escreveu: "A responsabilidade política pela condução de tais processos pertence, hoje, exclusivamente à Câmara dos Deputados".
Na realidade, essa afirmação
contém uma verdade pela metade. De fato, a condenação ou não
dos deputados cabe à Câmara.
Mas a continuação da investigação sobre o que eles fizeram cabia
também à CPI -até porque o
próprio Serraglio diz que houve
um esquema de "mensalão" que
continuou a ser averiguado pela
comissão da qual ele é o relator.
Serraglio também reclamou do
silêncio do marqueteiro Duda
Mendonça. O relator insinuou
que gostaria de ter acusados entrando na sala da CPI contando
espontaneamente todos os crimes
que cometeram. A rigor, esse foi o
método principal da CPI, que
consumiu cerca de R$ 5 milhões.
As suas duas maiores descobertas só se tornaram realidade porque os acusados colaboraram.
Primeiro, o empresário Marcos
Valério forneceu vários documentos e listas a respeito do esquema do "mensalão". Depois,
Duda contou que havia recebido
cerca de R$ 10 milhões no exterior
por serviços prestados a campanhas do PT em 2002.
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