São Paulo, quinta-feira, 30 de março de 2006

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ANÁLISE

Nenhum parlamentar teve sigilo quebrado

FERNANDO RODRIGUES
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Nove meses depois de sua instalação, a CPI dos Correios conseguiu avançar pouco sobre os principais operadores e beneficiários do chamado "mensalão". Embora Osmar Serraglio (PMDB-PR) tenha dito em seu relatório apresentado ontem que o "mensalão" existiu, ele não conseguiu avançar listando quem foram todos os deputados e senadores que recebiam o dinheiro ilegal -exceto os já apontados no ano passado.
Ao fazer um balanço das ações da CPI dos Correios, Serraglio omitiu uma informação vital. Ele menciona as 365 quebras de sigilo de pessoas e de empresas investigadas. Ocorre que nenhum deputado ou senador teve o seu sigilo bancário nem sequer requerido.
Em resumo: a CPI quis investigar o "mensalão", diz que o "mensalão" existiu, mas não quebrou o sigilo dos que seriam os receptores do dinheiro. O ex-deputado José Dirceu (PT-SP) enviou espontaneamente seus extratos.
Do ponto de vista da punição de novos "mensaleiros", não haveria diferença se a CPI tivesse acabado em 1º de setembro -quando foram listados 19 políticos supostamente envolvidos com o "mensalão". Roberto Jefferson (PTB-RJ), ao anunciar a existência do esquema em entrevista à Folha, falava em torno de 70 a 80 deputados.
Nenhum novo nome surgiu, embora a CPI tenha obtido uma lista de cerca de 60 assessores parlamentares que foram ao Banco Rural, muitos em datas de saques para pagamento de "mensalão".
Sobre os deputados já citados como "mensaleiros", Serraglio escreveu: "A responsabilidade política pela condução de tais processos pertence, hoje, exclusivamente à Câmara dos Deputados".
Na realidade, essa afirmação contém uma verdade pela metade. De fato, a condenação ou não dos deputados cabe à Câmara. Mas a continuação da investigação sobre o que eles fizeram cabia também à CPI -até porque o próprio Serraglio diz que houve um esquema de "mensalão" que continuou a ser averiguado pela comissão da qual ele é o relator.
Serraglio também reclamou do silêncio do marqueteiro Duda Mendonça. O relator insinuou que gostaria de ter acusados entrando na sala da CPI contando espontaneamente todos os crimes que cometeram. A rigor, esse foi o método principal da CPI, que consumiu cerca de R$ 5 milhões.
As suas duas maiores descobertas só se tornaram realidade porque os acusados colaboraram. Primeiro, o empresário Marcos Valério forneceu vários documentos e listas a respeito do esquema do "mensalão". Depois, Duda contou que havia recebido cerca de R$ 10 milhões no exterior por serviços prestados a campanhas do PT em 2002.


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