São Paulo, segunda-feira, 30 de março de 2009

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Funcionário da Camargo atuou com Skaf

Guilherme Cunha Costa, citado pela PF na Operação Castelo de Areia, coordenou a campanha do presidente da Fiesp

Costa também atuou para nomear Augusto Nardes para o TCU; tribunal julga obras que têm atuação da empreiteira, como Tucuruí


FERNANDO BARROS DE MELLO
JOSÉ ALBERTO BOMBIG
DA REPORTAGEM LOCAL

Um dos funcionários da Camargo Corrêa citados na decisão da Justiça que deflagrou a Operação Castelo de Areia da Polícia Federal, Guilherme Cunha Costa atuou como assessor especial do presidente da Fiesp (Federação das Indústrias de São Paulo), Paulo Skaf.
Segundo a PF, Skaf seria o "suposto intermediário" da empreiteira, alvo principal da operação, com os partidos políticos que receberam doações financeiras da Camargo Corrêa. A relação com Costa se iniciou bem antes de Skaf assumir a presidência da Fiesp, em 2004.
Costa foi diretor de Relações Institucionais da Abit (Associação Brasileira da Indústria Têxtil e de Confecção), quando Skaf presidia a entidade empresarial. A Folha não conseguiu localizá-lo ontem.
Depois disso, de acordo com relatos de parlamentares e políticos com cargos executivos, foi um dos coordenadores da campanha de Skaf para a Fiesp e assumiu o cargo de assessor parlamentar da presidência entidade em Brasília. Ele deixou o posto em 2007, para trabalhar no escritório da Camargo Corrêa em Brasília.
Ainda hoje, no entanto, Costa é apontado como uma espécie de relações-públicas do presidente da Fiesp, por conta de seu trânsito fácil com parlamentares de todos os partidos.
A assessoria de imprensa da Fiesp afirma que "não há nada de ilegal ou ilegítimo" na relação com Costa. Ainda segundo a assessoria, o presidente Paulo Skaf estava viajando ontem.
Na quarta-feira, a entidade divulgou nota negando as acusações da PF. Segundo o texto, a Fiesp é uma entidade "apolítica" e não se envolve com campanhas eleitorais.
"A Federação das Indústrias do Estado de São Paulo é uma entidade apolítica, independente, voltada aos interesses coletivos da indústria paulista e da sociedade brasileira. A Fiesp não se envolve, de maneira alguma, em eventuais relações entre empresas do setor que representa e partidos políticos ou os candidatos deles."
Ainda de acordo com a nota, a entidade não irá se opor ao trabalho dos órgãos envolvidos na apuração do caso.

TCU
Conforme antecipou a coluna "Painel", da Folha, em 2005, quando o deputado federal Severino Cavalcanti (PP-PE) presidia a Câmara, Guilherme Cunha Costa foi peça fundamental para que o ex-deputado Augusto Nardes fosse nomeado ministro do TCU (Tribunal de Contas da União).
Nardes, por exemplo, relatou em 2006 processo sobre auditoria do tribunal que identificou aditivos acima do limite legal de 25% nas obras da empreiteira nas eclusas de Tucuruí, no rio Tocantins (PA).
O caso também envolvia o Dnit (Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes), um dos maiores Orçamentos do governo federal e do PAC (Programa de Aceleração do Crescimento).
"A equipe de auditoria conclui a análise propondo, com a anuência do diretor e da titular da unidade técnica, o endereçamento de determinação ao Dnit com vistas à promoção da adequação, no prazo de 30 dias, de forma a não ultrapassar 25% do valor", escreveu o ministro.
Segundo o cálculo dos técnicos, o acréscimo chegaria a R$ 73,6 milhões. A Camargo Corrêa apresentou embargos declaratórios alegando que os princípios do devido processo legal, da ampla defesa e do contraditório, não foram respeitados e pedindo a revisão do valor a ser considerado para fins de cálculo do acréscimo.
Em 2008, Nardes também relatou os embargos e o tribunal aceitou o argumento da empresa, de que o cálculo deveria ser revisto.
"Ante o exposto, revendo meu posicionamento anterior, entendo, em sintonia com os supracitados precedentes deste tribunal, que o valor a ser considerado para fins de cálculo do limite de 25% previsto (...), no tocante às obras civis das eclusas de Tucuruí, deve ser aquele que compreende a totalidade dos serviços efetivamente contratados em decorrência da celebração", escreveu o ministro, dizendo, que dessa forma, o acréscimo seria de 20,12%. Nardes não foi encontrado ontem pela reportagem.
O Ministério Público Federal de São Paulo, que investiga supostas doações ilegais feitas pela Camargo Corrêa a partidos, decidiu incluir a usina de Tucuruí no rol de obras sob suspeita de terem sido superfaturadas.
A Procuradoria pretende investigar em todo o país as obras da empresa que tenham apresentado indícios de irregularidade para verificar se os problemas têm alguma conexão com supostas doações ilegais. A PF já havia listado uma obra pública na relação de suspeitas -a Refinaria do Nordeste, feita por um consórcio do qual a Camargo Corrêa faz parte.


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