|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Funcionário da Camargo atuou com Skaf
Guilherme Cunha Costa, citado pela PF na Operação Castelo de Areia, coordenou a campanha do presidente da Fiesp
Costa também atuou para nomear Augusto Nardes para o TCU; tribunal julga obras que têm atuação da empreiteira, como Tucuruí
FERNANDO BARROS DE MELLO
JOSÉ ALBERTO BOMBIG
DA REPORTAGEM LOCAL
Um dos funcionários da Camargo Corrêa citados na decisão da Justiça que deflagrou a
Operação Castelo de Areia da
Polícia Federal, Guilherme Cunha Costa atuou como assessor
especial do presidente da Fiesp
(Federação das Indústrias de
São Paulo), Paulo Skaf.
Segundo a PF, Skaf seria o
"suposto intermediário" da
empreiteira, alvo principal da
operação, com os partidos políticos que receberam doações financeiras da Camargo Corrêa.
A relação com Costa se iniciou
bem antes de Skaf assumir a
presidência da Fiesp, em 2004.
Costa foi diretor de Relações
Institucionais da Abit (Associação Brasileira da Indústria Têxtil e de Confecção), quando
Skaf presidia a entidade empresarial. A Folha não conseguiu
localizá-lo ontem.
Depois disso, de acordo com
relatos de parlamentares e políticos com cargos executivos,
foi um dos coordenadores da
campanha de Skaf para a Fiesp
e assumiu o cargo de assessor
parlamentar da presidência
entidade em Brasília. Ele deixou o posto em 2007, para trabalhar no escritório da Camargo Corrêa em Brasília.
Ainda hoje, no entanto, Costa é apontado como uma espécie de relações-públicas do presidente da Fiesp, por conta de
seu trânsito fácil com parlamentares de todos os partidos.
A assessoria de imprensa da
Fiesp afirma que "não há nada
de ilegal ou ilegítimo" na relação com Costa. Ainda segundo
a assessoria, o presidente Paulo
Skaf estava viajando ontem.
Na quarta-feira, a entidade
divulgou nota negando as acusações da PF. Segundo o texto,
a Fiesp é uma entidade "apolítica" e não se envolve com
campanhas eleitorais.
"A Federação das Indústrias
do Estado de São Paulo é uma
entidade apolítica, independente, voltada aos interesses
coletivos da indústria paulista
e da sociedade brasileira. A
Fiesp não se envolve, de maneira alguma, em eventuais relações entre empresas do setor
que representa e partidos políticos ou os candidatos deles."
Ainda de acordo com a nota,
a entidade não irá se opor ao
trabalho dos órgãos envolvidos
na apuração do caso.
TCU
Conforme antecipou a coluna "Painel", da Folha, em
2005, quando o deputado federal Severino Cavalcanti (PP-PE) presidia a Câmara, Guilherme Cunha Costa foi peça
fundamental para que o ex-deputado Augusto Nardes fosse
nomeado ministro do TCU
(Tribunal de Contas da União).
Nardes, por exemplo, relatou
em 2006 processo sobre auditoria do tribunal que identificou aditivos acima do limite legal de 25% nas obras da empreiteira nas eclusas de Tucuruí, no rio Tocantins (PA).
O caso também envolvia o
Dnit (Departamento Nacional
de Infraestrutura de Transportes), um dos maiores Orçamentos do governo federal e do
PAC (Programa de Aceleração
do Crescimento).
"A equipe de auditoria conclui a análise propondo, com a
anuência do diretor e da titular
da unidade técnica, o endereçamento de determinação ao
Dnit com vistas à promoção da
adequação, no prazo de 30 dias,
de forma a não ultrapassar 25%
do valor", escreveu o ministro.
Segundo o cálculo dos técnicos, o acréscimo chegaria a
R$ 73,6 milhões. A Camargo
Corrêa apresentou embargos
declaratórios alegando que os
princípios do devido processo
legal, da ampla defesa e do contraditório, não foram respeitados e pedindo a revisão do valor a ser considerado para fins
de cálculo do acréscimo.
Em 2008, Nardes também
relatou os embargos e o tribunal aceitou o argumento da
empresa, de que o cálculo deveria ser revisto.
"Ante o exposto, revendo
meu posicionamento anterior,
entendo, em sintonia com os
supracitados precedentes deste tribunal, que o valor a ser
considerado para fins de cálculo do limite de 25% previsto
(...), no tocante às obras civis
das eclusas de Tucuruí, deve
ser aquele que compreende a
totalidade dos serviços efetivamente contratados em decorrência da celebração", escreveu
o ministro, dizendo, que dessa
forma, o acréscimo seria de
20,12%. Nardes não foi encontrado ontem pela reportagem.
O Ministério Público Federal
de São Paulo, que investiga supostas doações ilegais feitas pela Camargo Corrêa a partidos,
decidiu incluir a usina de Tucuruí no rol de obras sob suspeita
de terem sido superfaturadas.
A Procuradoria pretende investigar em todo o país as obras
da empresa que tenham apresentado indícios de irregularidade para verificar se os problemas têm alguma conexão
com supostas doações ilegais. A
PF já havia listado uma obra
pública na relação de suspeitas
-a Refinaria do Nordeste, feita
por um consórcio do qual a Camargo Corrêa faz parte.
Texto Anterior: Imprensa: Entidade critica decisão contra jornal de Minas Próximo Texto: Dirceu ataca "pena eterna" a Delúbio e defende volta Índice
|